Exposição
O auto-retrato de um corpo esvaziado de ego e identidade
Rita Lino fez nascer um projecto visual que desliga o corpo da personalidade. Replica está em exposição nos Encontros da Imagem, em Braga, até 30 de Outubro.
Rita Lino pegou na câmara e saiu do próprio corpo: 15 anos a auto-retratar-se fizeram-na distanciar-se do próprio trabalho. Por isso, quando chegou a altura de concretizar Replica — em exposição nos Encontros da Imagem, em Braga até 30 de Outubro —, tinha de ser um projecto “conceptual, mais frio e calculista” — e não só fotográfico, mas uma performance. “Desligado de emoção, de personalidade e ego”, refere.
Quando o amigo Brad Feuerhelm, escritor e autor do texto do livro que nasceu deste projecto, lhe falou de How to Pose the Model, do fotógrafo William Mortensen — que dizia que o corpo não era mais do que “uma máquina que precisa de ajustes” — o projecto desenvolvido ao longo de quatro anos ganhou novo sentido. “Era exactamente aquilo que eu queria fazer.”
O corpo desumanizado e despersonalizado só podia ser verdadeiramente um objecto se não tivesse cara: “É o que permite a identificação, sempre estive muito interessada em remover essa parte da identidade, de quem eu sou e como me vêem por fora.” Por isso, Rita capta-se a si própria com a cara tapada, o que a impedia também de ver “se a foto estava bem ou mal”. “Não há um espelho para me pôr a jeito e apanhar o lado mais positivo.” Há antes um retrato cru, que nos leva para o estúdio.