Mãos atrás das costas e conselhos indesejados: os “velhos nas obras” estão por todo o lado
São imperturbáveis, dividem-se entre a apreciação e a crítica e divertem demasiado Miguel Furtado — e, aparentemente, todos os que lhe enviam fotografias para a conta de Instagram Velhos nas Obras. “Adoro senhores com as mãos cruzadas atrás das costas”, confessa-se, divertido, quatro anos depois de abrir a conta que mostra isto mesmo: homens, quase todos mais velhos, perigosamente próximos de estaleiros, muitas vezes a darem conselhos indesejados a quem lhes pede que por favor respeitem a distância de segurança.
“No Porto, comecei a reparar que metem janelas para as pessoas verem a evolução da obra”, ri-se Miguel Furtado, 37 anos, que não precisou de trabalhar na construção para se aperceber deste fenómeno social. Na região de Emília-Romanha, no norte de Itália, chamam-lhes “umarell” e a palavra foi dicionarizada em 2021. Por cá, sem um nome mais conciso, podem ser os “engenheiros de obras feitas”. Miguel, fã de demolições, percebe-os. Tivesse mais tempo e até poderia ser um deles, brinca. Assim, limita-se a coleccioná-los — e a potenciar uma outra tendência: jovens que fotografam velhos nas obras.