Fotografia
Uma viagem à Setúbal do início do século XX pela lente do seu “guardião da memória”
Ao longo de quase todo o século XX, Américo Ribeiro fotografou quase tudo e quase todos, na cidade de Setúbal. A exposição Fotografias que Contam Histórias, que propõe uma viagem ao passado da cidade pela sua lente, contém instantâneos que retratam o quotidiano oficial e anónimo da cidade.
Américo Ribeiro (1906 - 1992) podia ter sido carpinteiro. Quis o destino, para o bem de Setúbal, que não lhe interessasse o ofício e se tornasse fotógrafo. Isto porque o sadino registou, ao longo de sete décadas — entre o início dos anos 1920 e o final da década de 1980 — nada menos do que 142 mil fotografias, o que tornou Setúbal numa das cidades portuguesas mais bem documentadas, do ponto de vista fotográfico, de todo o país.
A exposição Fotografias que Contam Histórias, patente desde o dia 30 de Julho na Casa Bocage, contém apenas 14 imagens realizadas pelo fotógrafo entre os anos 30 e 60 do século XX. De acordo com o comunicado enviado pelo município, essas descrevem “momentos de convívios e eventos institucionais, como as primeiras eleições democráticas após o 25 de Abril” e “momentos da vida quotidiana da população local”.
Já chamaram a Américo Ribeiro o “poeta da imagem”, o “guardião da memória” ou mesmo o “arquivista do passado” da história moderna de Setúbal; mas, subjectividade à parte, o mais seguro é afirmar, objectivamente, que Américo foi um dos pioneiros do fotojornalismo em Portugal. Foi fotógrafo do jornal O Setubalense e correspondente de vários títulos nacionais, nomeadamente do Diário de Notícias, logo a partir de 1929, e ainda d'O Século, A Bola, Correio da Manhã, Diário Popular e Diário de Lisboa.
O fotógrafo testemunhou e documentou momentos históricos da cidade, como a chegada da luz eléctrica, em 1930, a inauguração da estátua de Luísa Todi, três anos depois, as grandes inundações provocadas pelo ciclone de 1941, a visita da rainha Isabel II, em 1957, e mesmo a construção do Estádio do Bonfim — sem deixar de fora, para gáudio de muitos, o registo do quotidiano dos cidadãos anónimos que enchiam as marchas, os bailes, as procissões ou o dia comum de vendedores ambulantes, de pescadores, saltimbancos ou dos amola tesouras que entretanto se extinguiram.
As fotografias do "guardião da memória" estão disponíveis para consulta, todo o ano, no site da Câmara Municipal de Setúbal; em formato físico, nesta exposição na Casa Bocage, estarão patentes até 30 de Setembro.