Fotografia
Podiam ser irmãos (ou mesmo gémeos), mas nunca se viram antes
Podiam ser irmãos ou mesmo irmãos gémeos. São muito, muito parecidos, embora não tenham qualquer relação familiar, vivam noutra parte do mundo e nunca se tenham conhecido. As centenas de sósias fotografados, ao longo de quase 20 anos, pelo fotógrafo canadiano François Brunelle integram o projecto I Am Not a Look-Alike!.
Não são irmãos, ou irmãs, são apenas dois estranhos que não partilham qualquer laço familiar. "Alguns deles conheceram-se pela primeira vez quando se encontraram no meu estúdio." O canadiano François Brunelle vive há muitos, muitos anos, obcecado por sósias, ou seja, por pessoas que são tão parecidas entre si que podem ser confundidas uma com a outra. Essa obsessão conduziu-o ao desenvolvimento da série de retratos de pares de sósias, que intitulou, jocosamente, de I Am Not a Look-Alike!, que contém mais de uma centena de retratos de pessoas de quatro continentes na companhia dos seus doppelgängers — alguns partilhou com o P3 há quase dez anos.
Mas como encontra François estes pares de sósias? "Tive de convencer os meios de comunicação a dar uma ajuda", explica, em entrevista ao P3. Foi graças a eles que milhares de pessoas tomaram conhecimento da existência do projecto e começaram a contactar o fotógrafo, dando conta de que conheciam duas pessoas extremamente parecidas — ou mesmo que já tinham sido apresentadas ao seu próprio sósia — e que gostariam de as ver retratadas.
É François quem assume a responsabilidade de comunicar com os sósias e de lhes explicar o seu papel enquanto participantes do projecto. "Tenho de convencer as pessoas a participarem numa sessão fotográfica; depois tenho de viajar e encontrar um local onde possa fotografar e de combinar o encontro — tudo isto com um orçamento muito, muito limitado", descreve. E foi com o contributo dos média e de organizações de diferentes países, do apoio logístico que lhe ofereceram, que lhe foi possível avançar. O seu objectivo é publicar um fotolivro que reúna todas as imagens.
"Quase todos os pares de sósias têm algo em comum, mas histórias são muito diferentes", conta o fotógrafo, via e-mail. "Dois homens sósias que fotografei tinham, ambos, uma esposa chamada Francine e um só filho", exemplifica. Coincidências? "Duas mulheres nasceram no mesmo dia, a 300 quilómetros de distância, estudaram dança, mudaram-se para Montreal, foram à mesma loja de tatuagens onde fizeram tatuagens com símbolos chineses e acabaram a viver no mesmo edifício, onde finalmente, por acaso, se conheceram."
Com base em 32 pares de sósias fotografados por Brunelle, um grupo de cientistas espanhol desenvolveu, recentemente, um estudo com o objectivo de aferir se pessoas que são muito parecidas entre si apresentam similitudes, também, ao nível do seu código genético. E a conclusão a que chegaram, nunca antes demonstrada cientificamente, pode ser surpreendente. "As pessoas que são muito parecidas partilham partes importantes do seu genoma, da sua sequência de ADN", explicou o cientista espanhol Manuel Esteller ao The New York Times, recentemente, a propósito dos resultados da investigação. "Há tantas pessoas no mundo que o sistema começou a repetir-se a si mesmo", conclui. Assim sendo, é possível que todos tenhamos um sósia algures no mundo: só nos resta encontrá-lo.