Primeira imagem do maior telescópio espacial reacende polémica: James Webb acusado de perseguição anti-LGBT
Astrónomos criticam a decisão da NASA em homenagear James Webb, que acusam de estar relacionado com a perseguição anti-LGBTQ+ dos anos 50 e 60, e lançaram uma petição. A agência espacial já confirmou que não vai mudar o nome do observatório.
Foram reveladas ao início desta semana as primeiras imagens recolhidas pelo James Webb, o maior telescópio espacial do mundo. E esta segunda-feira desvendou-se aquela que é a mais detalhada imagem do Universo, conseguindo mostrar milhares de galáxias há mais de 13 mil milhões de anos.
Paralelamente ao avanço científico que o revelar das imagens provocou, foi reacesa a polémica e a contestação em redor do nome escolhido para o grande telescópio espacial. James Webb, o segundo administrador da NASA, esteve à frente da agência durante as missões Apollo nos anos 60 e foi subsecretário de estado dos Estados Unidos de 1948 e 1952. O nome do telescópio tem vindo a ser criticado – desde 2021 – por vários cientistas que alegam que Webb esteve relacionado com o Lavender Scare, período de perseguição da comunidade LGBTQ+ nos anos 50 e 60, nos Estados Unidos. Nestas décadas, ocorreram despedimentos em massa com base na orientação sexual de pessoas ao serviço do Governo americano, alguns dos quais na própria NASA.
A comunidade astrónoma criou uma petição com o objectivo de mudar o nome do grande telescópio que conta com mais de 1700 assinaturas. Na petição há um link para um artigo da página Scientific American onde se pode ler: “Quando [James Webb] chegou à NASA em 1961, o seu papel de liderança significa que ele foi, em parte, responsável por implementar a política federal da altura: a purga de indivíduos LGBT do mercado de trabalho (...) Enquanto pessoa em posição de chefia, Webb foi responsável por políticas postas em prática sob a sua liderança, incluindo as de índole homofóbica quando se tornou administrador da NASA.” No mesmo artigo, explica-se ainda: “Algumas pessoas alegam que se Webb era complacente, todos os que trabalhavam na administração da agência na altura o eram. E nós concordamos. Mas a NASA não está a lançar um telescópio com o nome da administração inteira.”
Apesar da contestação, a NASA anunciou, em Setembro, a decisão de não mudar o nome do telescópio. Segundo o The Guardian, Bill Nelson, o administrador actual da agência, afirmou em comunicado: “Não encontramos evidência que justifique mudar o nome do telescópio espacial James Webb.”
A decisão da agência foi mal recebida por vários astrónomos que condenam também a falta de transparência em todo o processo. À revista Nature, Johanna Teske, astrónoma no Instituto de Carnegie, em Washington DC, disse: “Sem conhecer que factores foram considerados, é difícil respeitar a decisão de manter o nome.”
No dia de divulgação da primeira imagem captada pelo James Webb, uma das investigadoras responsáveis pela petição, Chanda Prescod-Weinstein, escreveu no Twitter: “O dia de hoje é agridoce. Estou tão entusiasmada pelas novas imagens e tão zangada com a NASA. Os líderes da NASA recusaram, com teimosia, reconhecer que a informação pública sobre o legado de James Webb significa que ele não merece ter um grande observatório com o seu nome.”
A escolha do nome para o grande telescópio partiu de Sean O'Keefe, antigo administrador da NASA, em 2002. A decisão foi recebida com surpresa, tendo em conta que, normalmente, os telescópios da NASA são baptizados com o nome de cientistas. Segundo a Nature, a escolha de O'Keefe teve por base o papel de Webb em garantir que a NASA mantivesse a ciência como “uma parte chave do seu portfólio nos anos 60, mesmo enquanto o programa de exploração espacial humana Apollo sugava a maior parte da atenção e orçamento da agência.”
Apesar de discordarem do nome, os astrónomos que se manifestaram negativamente afirmam que boicotar o telescópio James Webb não é uma opção, tendo em conta as suas capacidades. Alguns cientistas puseram a hipótese de colocar informações sobre as “acções anti-LGBTQ+” nos agradecimentos de artigos científicos em que se utilizem dados do telescópio. Outros astrónomos optaram por alterar a denominação do telescópio no trabalho que realizarem. Chanda Prescod-Weinstein chegou a utilizar a sigla JWST – que normalmente significa James Webb Space Telescope ("telescópio espacial James Webb”, em português) – para dizer Just Wonderful Space Telescope ("telescópio espacial simplesmente maravilhoso”, numa tradução livre).
Texto editado por Amanda Ribeiro