A ciência confirma: é normal estar irritado quando se tem fome

Quando temos fome, aumentam as emoções negativas, como a irritabilidade, a raiva ou a falta de prazer.

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Ao longo de três semanas, os participantes no estudo afirmaram que, quando tinham fome, notavam mais emoções negativas Asnim Ansari

Quando temos fome, há momentos em que nos podemos sentir mais irritados, ansiosos ou negativos. A experiência pessoal diz-nos isso, e não faltam associações entre a fome e a má disposição em séries televisivas ou slogans de campanhas publicitárias. E a ciência parece dar razão a essas percepções: a fome parece mesmo estar associada a maiores níveis de irritabilidade, raiva e falta de prazer.

Ao longo de três semanas, 64 pessoas que vivem na Áustria, na Alemanha ou na Suíça foram acompanhadas por investigadores das universidades de Anglia Ruskin (Reino Unido) e de Karl Landsteiner (Áustria), que registaram os níveis de percepção de fome e as variações nesses três indicadores: irritabilidade, raiva e falta de prazer. As conclusões são previsíveis: há um aumento de mais de 30% em todas estas emoções quando a fome aparece.

“A maioria de nós tem consciência de que ter fome pode influenciar as nossas emoções, mas surpreendentemente há pouca investigação científica focada neste tópico”, refere Viren Swani, investigador da Universidade Anglia Ruskin e líder da investigação agora publicada na revista científica PLOS One. De acordo com o investigador, este é o primeiro estudo que procurou estudar esta associação fora de um laboratório.

Os resultados aplicam-se em qualquer idade e não distinguem entre sexos, nem mesmo dietas alimentares (como a restrição de comida). O aumento da irritabilidade, raiva ou falta de prazer está associado também a uma maior variação nos níveis de fome ao longo do dia. Por exemplo, o nível de irritação de uma pessoa que mantém os níveis de fome constantes é menor do que alguém que tem valores distintos durante um dia.

Para avaliar estas variáveis, os participantes neste estudo reportaram quer os seus níveis de fome quer a percepção das suas emoções. Através de uma aplicação para telemóvel, criada pelos investigadores, os 62 participantes registaram estes indicadores cinco vezes por dia – durante estas três semanas.

“Embora este estudo não apresente soluções para mitigar as emoções negativas induzidas pela fome, a investigação sugere que ser capaz de identificar uma emoção negativa pode ajudar as pessoas a regulá-la. Como, por exemplo, reconhecer que sentimos raiva simplesmente porque estamos com fome”, aponta Viren Swani. “Portanto, uma maior consciência de que estamos com fome pode reduzir a probabilidade de que a fome se transforme em emoções e comportamentos negativos”, conclui.

Outros estudos anteriores já relacionavam a fome com a preponderância de emoções ou comportamentos negativos. Em 2013, um investigador da Universidade de Austin (Estados Unidos) analisou dez investigações publicadas anteriormente sobre esta associação, concluindo que a agressividade e a raiva estão associadas com as percepções de fome. Já este ano, dois inquéritos (em Israel e nos Países Baixos) acrescentavam que, além da fome, também a gula ou a restrição alimentar (em dietas, por exemplo) aumentam as emoções negativas.

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