Vamos criar um troféu do “Melhor Mister do Ano”

O que a vida nos ensina é que, seja o tema skate ou tricô, o que faz realmente diferença na vida dos nossos filhos é a relação, a conexão que têm com a atividade em si, mas também com o treinador/grupo que a pratica.

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@designer.sandraf

Querida Mãe,

Estou a assistir a uma aula de skate de uma das minhas filhas. Adoro as portas para novos mundos que os nossos filhos nos proporcionam — há uns meses não sabia nada sobre skate, e agora estou uma croma a dizer os nomes das manobras, e faço o papel de mega cool porque sou capaz de “deixar cair” os nomes dos grandes skaters.

As atividades extracurriculares sempre foram difíceis para a nossa família, pelo que custam, por um lado, mas também pela dinâmica do “paguei a mensalidade, agora não podes desistir!”. E porque é fácil que uma coisa intrinsecamente boa se possa tornar em mais uma obrigação na vida sobrecarregada dos nossos filhos e, na nossa — pai e mãe divididos entre quem leva um aqui e outro ali, com os fins de semana transformados em mais uma maratona.

Ou seja, já tivemos experiências menos boas, mas descobrimos nesta escola de skate (Aventura-te), um verdadeiro oásis, porque o que a vida nos ensina é que, seja o tema skate ou tricô, o que faz realmente diferença na vida dos nossos filhos é a relação, a conexão que têm com a atividade em si, mas também com o treinador/grupo que a pratica. A energia, a dedicação e o amor com que o “mister” as acolhe é algo extraordinário de se ver, e a evolução destes miúdos é a prova viva de que a melhor forma de ensinar seja o que for é com empatia, curiosidade e imenso respeito.

Sentada na bancada a observar, não oiço nem castigos, nem ameaças, nem gritos. O que existe é uma criatividade gigante para os motivar e ajudar a superar medos e dificuldades técnicas.

Mas se já é fabuloso quando encontramos professores que fazem isso, sabe o que é que me deixa de boca aberta e com o coração cheio de esperança? Ouvir os miúdos a falar uns com os outros na aula. Enquanto vejo uma adolescente a dar força a outra para que consiga “dropar”, vejo-a a replicar todo o apoio, segurança e confiança que os professores depositam nela. Quando os vejo todos a parar, gritar e festejar cada vez que um deles consegue uma nova manobra, fico com a certeza absoluta de que são estes exemplos que mudam o mundo.

Talvez 7 em 10 destas crianças não venham a ser skaters, mas serão pessoas que quando estiverem no papel de ensinar/chefiar alguém vão ter consciência de que é possível fazê-lo de uma forma simultaneamente eficaz e calorosa. Vão lembrar-se de como se sentiam bem quando eram assim tratados, e querer viver num mundo onde todos se tratem assim. Sei que há muitos ‘Aventura-te’ por este país, fico só feliz de termos encontrado este!


Querida Ana,

Resposta “tipo” avó: ah pois, ainda bem, mas isso não é muito perigoso? As meninas põem o capacete, as joalheiras, as cotoveleiras e a armadura completa?! Vê lá, não me partas as crianças!

Pois, tenho a certezinha absoluta de que o desporto, os “misters”, a pertença a um grupo que partilha entre si uma paixão comum são os maiores promotores para a saúde mental dos nossos filhos e netos. E se essa experiência é de respeito, de cumplicidade e não de competição doentia — promovida, às vezes, pelos próprios pais —, a possibilidade de serem replicadas em todas as áreas da vida é enorme.

Pela minha parte tenho uma dívida de gratidão gigantesca ao “'stor Zé” e ao “Sandro” que, na equipa de natação do Vasco da Gama, não só me pouparam madrugadas porque vinham buscar a tua irmã Madalena a casa como, e é isto que me importa, criaram um extraordinário espírito de equipa e amizade entre os seus aprendizes que dura até hoje, mais de dez anos depois. Fico felizes que elas tenham encontrado um mister equivalente, e sou a favor de criarmos um troféu do “Melhor Mister do Ano”.


No Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Mas, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook e Instagram.

As autoras escrevem segundo o Acordo Ortográfico de 1990.

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