Tumores cerebrais: Em que ponto estamos no seu tratamento?

O conhecimento que temos dos tumores cerebrais, assim como as técnicas disponíveis para a sua caracterização e tratamento, tem conhecido progressos substanciais. Neste que é o Dia Mundial do Tumor Cerebral importa destacar que o prognóstico é cada vez melhor.

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Paulo Pimenta/Arquivo

Dentro do crânio ósseo vários tipos de tumor podem ocorrer. De forma simples, importa separar aqueles que crescem a partir das células do próprio cérebro e os que têm origem nas membranas e osso que o envolvem e protegem.

Os tumores do cérebro crescem invadindo o tecido cerebral enquanto os outros o fazem empurrando-o. Enquanto para os primeiros a cura é com frequência mais difícil, a situação é muitas vezes inversa com o segundo grupo.

O conhecimento que temos destes tumores, bem como as técnicas disponíveis para a sua caracterização e tratamento, tem conhecido progressos substanciais. Estes avanços permitem alargar as possibilidades de tratamento e consequentemente melhorar o prognóstico de algumas destas doenças.

Para a esmagadora maioria dos tumores cerebrais, a cirurgia continua a ser a primeira e, muitas vezes, a mais importante arma terapêutica. Isto porque o prognóstico de qualquer um destes tumores é primariamente influenciado pela quantidade de tumor que se consegue remover. Vários avanços tecnológicos contribuem para tornar a ressecção destes tumores mais segura ainda que mais radical. De salientar a informação muito útil que advém das técnicas que averiguam a função do cérebro nas áreas circundantes e à distância do tumor, não só antes mas também durante o acto cirúrgico.

Existem ainda modalidades inovadoras de destruição tumoral baseadas em ultra-som ou por ablação térmica com aplicação muito seleccionada, mas a ressecção microcirúrgica obedecendo a uma técnica microscópica muito exigente continua a ser a arma mais eficaz.

Juntamente com a cirurgia, as chamadas técnicas adjuvantes - que associam os tratamentos em formas diferenciadas e personalizadas de radioterapia e quimioterapia, têm registado progressos assinaláveis, concorrendo para melhorar o prognóstico destas doenças, alargando tanto o período livre de progressão da doença como a sobrevida do doente.

Muitos dos avanços registados são também resultado de um melhor conhecimento da natureza destes tumores sobretudo no seu perfil genético. De facto, o desvendar das suas alterações cromossómicas tem permitido sobretudo prever e ajustar a resposta dos tratamentos em função destas variantes genéticas. Assim se consuma também para esta área da neuroncologia o cânone da medicina mais personalizada, focada nas particularidades clínicas, anatómicas e genómicas de cada doente e tumor.

A expansão do conhecimento em cada uma das áreas que contribuem para o tratamento das doenças neoplásicas e, neste caso, dos tumores cerebrais, obriga a uma organização de trabalho que permita uma discussão multidisciplinar que deve ser revisitada ao longo das muitas etapas de tratamento e seguimento destes doentes. Este método de trabalho em equipa permite a elaboração de um plano terapêutico com etapas assinaladas e previamente organizadas por forma a garantir as melhores condições de tratamento e suavizar o desgaste produzido pela doença na pessoa afectada e seus familiares.

As instituições hospitalares que se dedicam ao tratamento destes tumores devem possuir diferenciação nas várias áreas intervenientes, desde a neurocirurgia, à neurologia, neuroradiologia, neurofisiologia, oncologia médica, neuropsicologia e neuroreabilitação.

Só com um método de trabalho bem testado e organizado, com tarefas divididas entre os vários intervenientes, médicos, enfermeiros, terapeutas, investigadores clínicos, ancorados em formas de avaliação sistemática dos resultados clínicos, por forma a torná-los auditáveis e reproduzíveis, se consegue manter o estado da arte no tratamento destes tumores.

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