“As pessoas devem sentar-se mais vezes juntas”
Trabalhou para dois ex-governadores da Florida, Bob Graham e Jeb Bush. Foi cozinheiro privado de Oprah Winfrey e é amigo da actual embaixadora norte-americana em Portugal. Por isso, esteve por cá, a fazer o que sabe melhor: cozinhar.
Veio a Lisboa e cozinhou num centro de acolhimento para refugiados ucranianos. Em 2003, o chef norte-americano Art Smith criou a associação Common Threads, nos EUA, com o objectivo de ensinar nutrição e bem-estar físico às crianças mais desfavorecidas, através da culinária e das artes. A organização já abrangeu milhares de crianças em nove estados. Esteve em Portugal quando tinha 23 anos e regressou agora, aos 62. Aproveitou para fazer um prato tradicional ucraniano, mas o seu forte é a cozinha do Sul dos EUA, orgulha-se. A sua vida mudou quando cozinhou para o bailarino Mikhail Barishnikov, confessa o chef que trabalhou para Oprah durante dez anos e, por isso, conheceu Nelson Mandela numa das refeições que preparou para a rainha da comunicação. Depois de tantos famosos, há um favorito? “Nunca tens um favorito, amas toda a gente, querida. Costumo dizer que o meu frango frito, pelo qual sou famoso, nunca toma um partido”, responde bem-humorado.
Qual é o segredo do seu frango frito?
É apenas frango frito. O segredo é a pessoa que o faz [risos]. A comida vem sempre com uma história e uma que não tenha uma história simplesmente não sabe bem. Lembro-me de uma vez a senhora Winfrey dizer: “Art, o sr. [Nelson] Mandela vem ver-nos.” Estava nos bastidores quando me chamou: “Art, quero que conheça o sr. Mandela.” Na minha vida, nunca tinha ficado tão embasbacado, nem sequer consegui falar. Apertei-lhe a mão. Tive uma vida realmente maravilhosa e divertida, e Oprah Winfrey ensinou-me grandes lições. A comida é importante, deve saber bem e deve vir de um bom lugar. Não tem de ser chique, só tem de ser boa e cozinhada com amor.
A comida é uma das formas mais eficazes de criar ligações?
Escrevi um livro chamado Back to the Table, em que defendo que as pessoas devem sentar-se mais vezes juntas, conhecer-se melhor. Agora, as pessoas estão sempre nisto [aponta para o telemóvel], não comunicam com as crianças. Eu tenho quatro filhos adolescentes e sei que é difícil fazê-los sentarem-se. Como é que consigo juntá-los? Encomendando pizza. Quando escrevi este livro, aconteceu aquela coisa horrível na América [o 11 de Setembro]. Senti que havia necessidade não só de juntar as pessoas à mesa, mas de juntar o mundo à mesa.
Porquê?
Quando isso aconteceu, não falávamos uns com os outros. Isso incomodava-me, porque amo o mundo. Por isso escrevi um texto chamado A mesa do mundo, em que o nosso mundo é uma colcha e o seu povo o tecido, estando todos unidos por um fio comum: a comida, a família, a música... A ideia é abraçarmos as coisas que partilhamos e celebrarmos as nossas diferenças.
Cozinhar em conjunto também alimenta as amizades e as relações humanas?
Faz tudo isso, mas o mais importante é que nos ensina a trabalhar uns com os outros. Quando algo afecta uma parte do mundo, afecta o mundo inteiro. Para cada acção há uma reacção. Está a acontecer algo de horrível [na Ucrânia] e está a afectar-nos a todos. Temos mesmo de ser empáticos, agir com compaixão e fazer o nosso melhor. Devemos defender sempre o que está certo. Sempre fui um defensor da igualdade. Penso que, para se ser um bom diplomata, é preciso ser-se um bom ouvinte e fazer o bem da maneira que se pode.
A culinária é uma arte?
Claro que sim, é um processo criativo. Eu adoro quando as pessoas cozinham só porque sim, porque simplesmente adoram fazê-lo, não se levando muito a sério.