Palcos da semana
Lisboa ri-se com John Cleese e escuta Hermeto Pascoal, enquanto Guimarães leva às tábuas os Festivais Gil Vicente, Loulé dança o Memorial do Convento e o Porto recebe Fernando Lemos Na Estrada do Surrealismo.
Renovar e questionar
É “susceptível de activar gatilhos emocionais sobre violência doméstica, sexual e social”, alerta a nota de imprensa. Foi criada por Sofia Santos Silva em colaboração com activistas pelos direitos das mulheres na Índia. E ganhou a quarta edição da Bolsa Amélia Rey Colaço. Chama-se Another Rose e é levada à cena em Guimarães (depois da estreia absoluta no Teatro Viriato, Viseu, a 3 de Junho) como uma das peças em destaque nos Festivais Gil Vicente. A 34.ª edição acolhe também Tratado, a Constituição Universal, de Diogo Freitas, e Massa Mãe, de Sara Inês Gigante, ambas em estreia. Victor de Oliveira com Limbo, os auéééu com O Desprezo e Catarina Rôlo Salgueiro e Leonor Buescu com Ainda Marianas são outros criadores a representar “a renovação dramatúrgica em curso e um olhar questionador sobre o mundo” desejados pelo ciclo vimaranense dirigido por Rui Torrinha.
Morrer a rir
Numa lápide lê-se “John Cleese, 1939-202?”. A imagem e a interrogação ladeiam o rosto sorridente de Cleese no cartaz que anuncia a digressão Last Time To See Me Before I Die. Piadas à parte, o assunto é sério para os fãs do comediante britânico – tão sério que têm esgotado os bilhetes e deverão fazer o mesmo com a sexta data que foi acrescentada à sua passagem por cá. Não é para menos. Se há gente com direito ao epíteto de lenda viva do humor, Cleese está no pódio. No seu stand-up pulsa um currículo alimentado a Monty Python, Fawlty Towers e Um Peixe Chamado Wanda, entre muitas outras façanhas.
Memorial bailado
Blimunda, Baltasar, Frei Lourenço, D. João V e D. Maria Ana saltam do Memorial do Convento para aquela que se apresenta como “a primeira revisitação em dança desta obra literária”. Tomando as personagens e o título do romance de José Saramago, este bailado em três actos nasce de um projecto da Dança em Diálogos, que assim se associa às comemorações do centenário do nascimento do autor. Explora “a relação entre a dança e a narrativa literária”, explica a companhia, “construindo simultaneamente uma simbiose cénica entre coreografia, cenografia e imagem cinematográfica”. Da equipa fazem parte Fernando Duarte e Solange Melo na direcção artística e coreografia, Martim Sousa Tavares na curadoria musical e José António Tenente nos figurinos. Depois da estreia, em Loulé, o espectáculo entra em digressão por Coimbra, Leiria, Alcanena, Sintra, Alcobaça, Famalicão e, finalmente, Lanzarote (mais informações aqui).
Liberdade em cadeia
No Centro Português de Fotografia, antiga Cadeia da Relação do Porto, vão estar “123 fotografias que nos transportam para a liberdade e automatismo do surrealismo, onde todas as compreensões do real se alteravam”. Saíram da lente de Fernando Lemos (1926-2019), figura-chave dessa corrente, e provêm do acervo da Fundação Cupertino de Miranda. A viagem pela sua obra fotográfica – que é apenas uma faceta da sua produção artística multidisciplinar – começa em 1949, ano em que tirou a primeira fotografia, e vai até 1952. “Nesta sua série de retratos e fragmentos destacam-se a beleza, a irreverência e a poesia”, sublinha a folha de sala da exposição Na Estrada do Surrealismo, comissariada por Marlene Oliveira e Perfecto E. Cuadrado.
Alquimia de Pascoal
Hermeto Pascoal é um mestre dos sons. Também há quem lhe chame mago, génio ou até bruxo. Miles Davis, por exemplo, não hesitou em considerá-lo o mais completo músico com quem trabalhou. Por norma, dá espectáculos inesquecíveis, em que instrumentos convencionais se podem misturar com o apito de uma chaleira, a voz de um animal e outras fontes sonoras que seriam improváveis para os ouvidos comuns mas que, nas suas mãos, se transfiguram e elevam. Com a energia de quem, aos 85 anos, ainda está longe de refrear o entusiasmo de “brincar” com a música, o multi-instrumentista, compositor e improvisador volta a Portugal com o seu grupo.