O Bando das Cavernas foi à Lourinhã
Nuno Caravela levou o seu bando ao festival literário Livros a Oeste. Estiveram numa escola de ensino básico, depois de irem ao topo do mundo.
Já é o 37.º título da colecção O Bando das Cavernas. Desta vez, o Professor Couves descobre uma montanha escondida e mostra-a aos seus alunos, revelando: “Dizem que o Monte Evereste é o mais alto do mundo! – Uaaau! – exclamou a turma, admirada. – Mas não é! – continuou o Professor, para espanto geral. – Há outro, ainda mais alto e fui eu quem o descobriu. E já que o Monte Evereste é o mais visitado do mundo, lembrei-me de chamar à minha descoberta, que ainda ninguém viu, ‘Monte Vem Ver Este’. O que acham? – Ah! Ah! Ah! – riu-se logo o Menir. – O professor pode ser o maior a descobrir montes, mas não tem jeitinho nenhum para lhes dar nomes! Ao ouvir isto, claro, a turma desatou toda a rir.”
Este breve excerto de uma série que se passa em 10.000 a.C. revela bem o tom em que as histórias são contadas, assim como o recurso a jogos de palavras e brincadeiras com a linguagem.
As personagens centrais destes livros (que já venderam perto de um milhão só em Portugal) são o Tocha, o Menir, a Ruby, o Kromeleque, o Tzick (um morcego) e o Sabre (um tigre). Há também as que compõem o grupo rival, que é O Bando dos Que Têm a Mania Que São Bons: Tremoço, Pinguinhas e Crava. “Eles não são maus, mas estão equivocados. Fazem umas malandrices. Não há maus no Bando das Cavernas”, disse Nuno Caravela ao PÚBLICO no festival literário Livros a Oeste, que termina neste sábado. Mas há mais personagens, animais estranhos e de nomes curiosos escondidos nas paisagens e ainda situações que se repetem, mesmo que não tenham ligação directa à narrativa: caso do velhinho que volta e meia aparece no recreio da escola para se divertir — “sou novo há muito tempo”, diz — ou da interrupção sempre garantida da actuação de umas jovens bailarinas.
A dinâmica das imagens, o ar divertido das personagens, a disposição dos elementos na página e a própria variedade de lettering, quer na cor, tipo ou tamanho (à semelhança dos livros de Geronimo Stilton), ajudam também a captar a atenção dos pequenos leitores. Resulta muito bem para crianças já leitoras autónomas.
Crianças motivadas e informadas
Numa sessão na escola do 1.º ciclo da Lourinhã, do Agrupamento Dom Lourenço Vicente (3.º e 4º ano), foi nítida a empatia do autor com os seus leitores, que conheciam as personagens, os desfechos de algumas histórias e estavam ansiosos por terem os seus livros autografados. E não era só um exemplar por aluno. Muitos traziam vários e ficavam felizes quando Nuno Caravela, por qualquer motivo, se referia aos que tinham consigo.
Antes, o autor e ilustrador já tinha partilhado com o PÚBLICO: “A Colecção O Bando das Cavernas pretende estimular o gosto pela leitura e, acima de tudo, a imaginação. Mostrar que não há limites para aquilo que se pode imaginar ou então o único limite somos nós.”
Nuno Caravela, que também faz a paginação dos livros, acrescentou ainda sobre o texto: “O inesperado está sempre à espreita para nos surpreender com associações improváveis, como, por exemplo, os nossos amigos personagens quererem gelados com sabor a frutos da época e as ‘Épocas’ serem umas árvores com frutos deliciosos que crescem no vale Vivaldi, onde todos os dias têm as quatro estações e os pássaros são notas de música.”
Outro exemplo do inesperado: “Quando eles tentam atravessar um prado de ervas rasteiras e descobrem que estas ervas se chamam ‘rasteiras’ porque se divertem a passar rasteiras a quem se atreve a passar por ali.”
Sobre as ilustrações, alerta para que “existem sempre imensas criaturas escondidas na vegetação, entre as pedras ou nas árvores, que não têm rigorosamente nada que ver com a aventura principal mas, simplesmente, quiseram entrar no livro. E lá andam, nas suas próprias aventuras paralelas”.
“Todos estes conteúdos”, conclui, “obrigam a uma segunda a até terceira leituras do livro para se conseguir descobrir todos os inúmeros pormenores escondidos”.
Personagens do tempo dos pais e avós
Também a ligação entre gerações está no seu objectivo, pelo que recupera personagens mais antigas, do tempo dos pais e avós do seu público-alvo (a partir dos sete anos): “Estes personagens, adaptados ao conceito do Bando e fora do seu contexto normal, permitem, caso estejam a ler em conjunto, uma conversa entre gerações sobre quem foram esses personagens no seu tempo.”
No final, há uma “enciclopedra: pequena enciclopédia pré-histórica de todos os tempos”, que complementa a história acabada de ler e traduz os recursos usados. Neste volume, além de dar a conhecer o Evereste, recorda-se as personagens Fada Morgana e a Heidi, e descreve-se o Olhapin (lendas do folclore popular português) e o Ogre-Bicho-de-Conta (contos fantásticos do folclore alemão).
O autor gosta que o que cria vá ensinando ou revelando alguma coisa. “Em última análise, os livros de O Bando são amigos com quem os nossos jovens leitores e leitoras passam horas e horas de leitura divertida e, no final, ainda aprendem sempre qualquer coisa de interessante.” Assim é.