Pandora Papers: investigação denuncia fuga de oligarcas russos às sanções ocidentais

Uma nova investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação trouxe a público denúncias sobre as fortunas de oligarcas, banqueiros e políticos russos que fogem às sanções económicas dos líderes ocidentais. Um dos nomes da lista é Suleiman Kerimov, bilionário do círculo próximo de Putin.

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Vladimir Putin em comemorações do Dia da Vitória de 2020, em Moscovo Reuters/SPUTNIK

Há uma empresa sediada no Texas que liga um tatuador de Lucerna, um investidor suíço e um dos oligarcas russos mais próximos de Putin: Suleiman Kerimov. Uma nova investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), do projecto Pandora Papers, trouxe a público, nesta segunda-feira, denúncias sobre a fortuna de oligarcas, banqueiros e políticos russos que foge ao controlo do sistema bancário internacional e às sanções económicas impostas pelos líderes ocidentais.

A Base de Dados de Fugas para Offshores do ICIJ foi actualizada esta segunda-feira e revela detalhes sobre estratégias de contorno à lei que estão a permitir que os milionários do círculo mais próximo de Putin evitem ser penalizados na sequência da invasão do território ucraniano.

De regresso à empresa sediada no Texas, a Fletcher Ventures: da conta bancária empresarial foram transferidos centenas de milhões de dólares para empresas russas de alguma forma ligadas a Suleiman Kerimov, aliado de Putin e dono de uma das maiores empresas mineiras e metalúrgicas do mundo, a Polyus Gold.

Alexander Studhalter, investidor suíço próximo de Kerimov, terá coordenado estas trocas que fugiram ao controlo do sistema bancário internacional através de offshores e recorreu a um falso proprietário para encobrir o seu papel. Renato Coppo, tatuador suíço, entra aqui para se tornar dono da Fletcher Ventures. Quando questionado pelos jornalistas envolvidos na investigação do ICIJ, encaminhou todas as perguntas para Studhalter.

Em 2021, a investigação sobre paraísos fiscais Pandora Papers revelou que 35 líderes mundiais e mais de 330 políticos e funcionários públicos, de 91 países e territórios, esconderam as suas fortunas para fugir aos impostos. Desta lista já faziam parte nomes do círculo próximo de Putin, ainda que o nome do Presidente nunca surja.

Também Volodomir Zelensky terá vendido a um amigo acções da sociedade offshore Maltex Multicapital Corp, nas Ilhas Virgens Britânicas, um mês antes de ser eleito Presidente da Ucrânia.

À data, a presidente da direcção da Transparência Internacional Portugal salientou a necessidade de “melhorar os registos de beneficiários efectivos, para que as offshores não sirvam como bonecas russas que vão escondendo a identidade dos seus verdadeiros titulares”.

São várias as manobras financeiras, agora conhecidas, de Suleiman Kerimov. Conseguiu fazer com que 700 milhões de dólares em transacções – assim como a posse de imóveis de luxo – passassem despercebidas, com a ajuda de Alexander Studhalter. É o proprietário secreto de imóveis na Riviera Francesa e em Londres, entre os quais uma das propriedades mais caras alguma vez vendidas no Reino Unido.

Em 2017, Kerimov foi detido em França por suspeita de branqueamento de capitais, mas o processo criminal acabou por ser suspenso e caíram as acusações contra o bilionário russo.

Após a queda da União Soviética, o empresário e aliado de Putin investiu 21 mil milhões de dólares na gigante da energia Gazprom, a que juntou a compra de acções do maior banco estatal, o Sberbank. É alvo de sanções desde 2018, por ser um “funcionário do governo da Federação Russa”. A 15 de Março deste mês, foi penalizado pelo Reino Unido e pela União Europeia por ser um dos oligarcas que pertencem ao círculo mais próximo de Vladimir Putin.

Além do dono da Polyus Gold, há mais quatro mil nomes de russos a ser investigados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, que pretende esclarecer as transacções financeiras encobertas por oligarcas russos. O recurso a offshores para esconder as suas fortunas está a pôr em causa a capacidade de os governos ocidentais identificarem e apreenderem os seus bens, em resposta à guerra conduzida por Putin.

Em Fevereiro deste ano, Kerimov apareceu, junto com outros bilionários, ao lado de Putin, enquanto as tropas russas entravam na Ucrânia.

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