Príncipe William: “A escravatura foi abominável” e “a dor é profunda”

A digressão nas Caraíbas para celebrar os 70 anos de reinado de Isabel II transformou-se numa demonstração de empatia.

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“A Jamaica continua a forjar o seu futuro com determinação, coragem e força”, declarou William TOBY MELVILLE/Reuters

Quando William e Kate fizeram as malas para uma semana nas Caraíbas, com visitas agendadas ao Belize, à Jamaica e às Bahamas, o casal até podia estar convencido de que seria uma viagem de festa e celebração. Mas depressa os ecos do fantasma do colonialismo soaram mais alto, e os duques de Cambridge viram-se forçados a se moldarem às novas exigências: alteraram o itinerário no Belize para fugir aos protestos, mas acabaram por perceber que a melhor forma de lidar com o passado não seria varrê-lo para debaixo do tapete.

Na Jamaica, onde a vontade de cortar os laços com a coroa britânica está cada vez mais desperta, sobretudo depois do nascimento de uma república em Barbados, William optou por enfrentar a questão. A sua chegada deu-se sob manifestações que exigiam reparações pela escravatura e o segundo na linha de sucessão ao trono começou pelo princípio, reconhecendo os erros do passado e pedindo desculpas: “Quero expressar o meu profundo pesar. A escravatura foi abominável. E nunca deveria ter acontecido”, disse o príncipe quando discursou no jantar na Casa do Rei, a residência oficial do governador da Jamaica, sir Patrick Allen, reconhecendo o nefasto papel do seu país no tráfico de pessoas para as Caraíbas e os Estados Unidos.

Esta não é a primeira vez que um monarca britânico se vê obrigado a adoptar um discurso apaziguador, mesmo que isso implique ficar mal na fotografia. Foi o que Isabel II fez durante o tempo em que o império se desmoronou durante o século XX, até à derrocada final, em 1997, com a saída de Hong Kong. E também foi essa a postura do príncipe Carlos por altura da cerimónia de transição em Barbados, onde o monarca denunciou a “terrível atrocidade da escravatura, que mancha para sempre a nossa história”. Uma afirmação com a qual William concorda sem nenhuma dúvida, apontando que “a dor é profunda”, mas ressalvando que “a Jamaica continua a forjar o seu futuro com determinação, coragem e força”.

No entanto, William não se dirigiu à vontade de o país sair sob os domínios de Isabel II. Pelo contrário, escolheu reforçar os laços que unem a família real britânica à Jamaica: Não é segredo que a rainha tem um profundo afecto pela Jamaica, pelo facto de a sua primeira visita [como monarca] ter sido aqui com o meu avô, o duque de Edimburgo, em 1953, disse. E, do mesmo modo, fiquei comovido ao ouvir hoje os jamaicanos, jovens e idosos, a falarem sobre o seu afecto pela rainha.

Afectos à parte, William foi confrontado directamente com a vontade do país se afastar da monarquia britânica, durante uma reunião com o primeiro-ministro da Jamaica, Andrew Holness: Há aqui questões que, como sabe, não estão resolvidas, mas a sua presença dá-nos uma oportunidade para que essas questões sejam colocadas no contexto, para serem colocadas à frente e no centro e para serem abordadas da melhor forma possível.

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