Visita de William e Kate ofuscada pelos protestos que reclamam reparações pela escravatura

Depois do Belize, os duques de Cambridge têm a missão de celebrar os 70 anos de reinado de Isabel II na Jamaica. Mas o país das Caraíbas está a aproveitar a visita real para regressar ao debate do legado colonial do Império Britânico.

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William e Kate foram recebidos com protestos em Kingston Reuters/STRINGER

William e Kate iniciam, esta terça-feira, um périplo pela Jamaica, antes de seguirem para as Bahamas. Mas a digressão pelos países onde Isabel II permanece como chefe de Estado não está a correr como esperado. Depois de, no Belize, algumas manifestações terem obrigado a alterar o itinerário previsto, na Jamaica o dia da chegada dos duques de Cambridge está a ser marcado por protestos.

Dezenas de pessoas reuniram-se junto ao Alto Comissariado Britânico, na capital Kingston, cantando canções tradicionais rastafarianas e segurando cartazes com a frase “seh yuh yuh sorry” — uma frase em patoá jamaicano que insta o Reino Unido a pedir desculpa.

“Sou descendente de grandes antepassados africanos, devo-lhes estar aqui”, disse Hujae Hutchinson, um funcionário de um serviço de atendimento ao cliente de ​27 anos, que marcou presença na manifestação, durante a qual os activistas leram 60 razões para as reparações. “Quero fazer com que a coroa britânica reconheça que cometeu um grande crime contra o povo africano e que deve pedir desculpa e devolver o que tirou aos seus antepassados.”

Uma carta publicada antes da visita e assinada por cem políticos, advogados e artistas jamaicanos afirmou que as reparações eram necessárias “para iniciar um processo de cura, perdão, reconciliação e compensação”.

No ano passado, o Governo da Jamaica divulgou a intenção de pedir à Grã-Bretanha uma compensação por transportar à força cerca de 600 mil pessoas de África para trabalhar em plantações de cana-de-açúcar e banana, enchendo os bolsos aos esclavagistas. O legislador jamaicano Mike Henry propôs compensações de 7,6 mil milhões de libras (9138 milhões de euros), número que deriva de um pagamento de 20 milhões de libras (24 milhões de euros) que o Governo britânico fez em 1837 para compensar os proprietários de escravos nas colónias britânicas pela emancipação das pessoas escravizadas.

A Jamaica, que celebra 60 anos de independência em Agosto, tem vindo a revelar vontade em seguir o exemplo de Barbados, que se tornou, há quatro meses, a mais jovem república do globo, cortando os vínculos com a rainha e com o passado colonial (manteve-se, porém, como membro da Commonwealth).

Marlene Malahoo Forte, que serviu como procuradora geral da Jamaica até Janeiro, informou, um mês antes de sair de funções, ter recebido instruções do primeiro-ministro do país, Andrew Holness, para reformar a constituição no sentido de o país passar de uma monarquia constitucional para uma república.

No entanto, conforme explicou Marlene Malahoo Forte ao jornal Jamaica Observer, o processo jamaicano será mais complicado do que aquele que se assistiu em Barbados, uma vez que a Constituição da Jamaica exige que o assunto seja referendado.