Durante 40 anos, Erminia visitou diariamente o túmulo do marido. Este Dia dos Namorados, morreu junto dele
Uma história de amor de traços trágicos que emocionou Itália nos últimos dias: no Dia de São Valentim, Erminia Dossi, de 85 anos, morreu sobre o túmulo do marido que visitou, ao longo das últimas quatro décadas, quase todos os dias. Os filhos confessam sentirem-se “um pouco confortados por ter acontecido desta forma”.
Uma mulher, de 85 anos, morreu após sofrer um ataque cardíaco fulminante, na última segunda-feira, no cemitério de Treviglio, na província italiana de Bérgamo, tendo sido encontrada por um cuidador do espaço. Os serviços de emergência foram chamados ao local, mas as tentativas de reanimação saíram frustradas.
O incidente poderia passar despercebido, não fosse a idosa uma visita assídua do espaço, onde ia quase todos os dias há 40 anos para visitar o túmulo do marido, Giacomo, que morreu em 1982. E foi precisamente junto da sua sepultura que Erminia faleceu.
O funcionário que a encontrou conhecia-a bem e, pelo facto de já ter tido graves problemas cardíacos, lamenta não ter conseguido o mesmo que aconteceu consigo: “Fiz [a reanimação] com todos os meus esforços, pensando no que me aconteceu, em Julho de 2014, quando sofri um ataque cardíaco que me levou a um coma e a uma longa reabilitação. Fui salvo pelos socorristas”, recordou Roberto Bordini, citado pelo jornal italiano Eco di Bergamo.
Porém, era demasiado tarde para a mulher que o visitara tantas vezes, sobretudo nos últimos tempos, para tratar da transladação dos restos mortais do marido. A operação tinha sido realizada há algumas semanas e a pedra sobre o novo túmulo de Giacomo estava incompleta. “Tínhamo-la encomendado. Agora o trabalho teve de ser interrompido. Terá de ser diferente do que tínhamos planeado”, explica um dos sete filhos. Até lá, há uma folha de papel, colorida por uma menina de sete anos, com um grande coração e uma mensagem: “Amo-te muito”.
Erminia Dossi e Giacomo Bonacina viveram uma história longa de amor e tiveram sete filhos — Priscilla, Gabriella, Giovanni, Giulia, Dario, Emanuela e Alessandro. Mas um cancro no pulmão acabou por ditar a morte do homem, quando tinha pouco mais de 50 anos, depois de ter vivido com a doença ao longo de 13 anos. Quando ficou viúva, Erminia tinha 45 anos.
Os sete irmãos, após a morte do pai, aprenderam a conviver com o amor incondicional da mãe, testemunhando as idas quase diárias da viúva ao cemitério para depositar flores na campa do marido. Por isso, nenhum deles minimiza o romantismo implícito na morte da mãe e usa esse sentimento para amenizar a dor do luto: “De certa forma, consola-nos um pouco [a situação]. A mãe morreu mesmo em frente do local onde o nosso pai está enterrado, no Dia dos Namorados.”
O funeral de Erminia foi realizado na quarta-feira por don Tarcisio, que não deixou de sublinhar o jogo de amor e acaso que marcou a vida da italiana. “Também vejo a bela forma como a morte da Erminia foi interpretada pela sua família”, começou por dizer o pároco, considerando que “uma coincidência, a do Dia dos Namorados, ajudou a minimizar o drama desta morte súbita”. No entanto, o religioso, citado pelo Corriere della Sera, vê no incidente mais do que um acaso: “Não é coincidência, mas o testemunho de um amor muito longo como mostram as muitas fotografias, as relíquias de família e as memórias que Erminia guardou durante anos.”
Ainda antes do funeral, foram muitos os familiares e amigos que se dirigiram a casa de Erminia para lhe prestarem homenagem, num momento que, descreve o Corriere della Sera, foi pautado pela ausência de lágrimas. Afinal, dizem os filhos, mais do que uma despedida, o momento serviu para celebrar o amor.