Crónica da alergia
Porque importa esclarecer e acabar com mitos e crenças erróneas, neste que é o Dia Internacional dos Portadores de Alergia Crónica, quero partilhar uma história sobre alergias respiratórias crónicas.
Era adolescente e o desporto era a sua vida. Futebol, todos os dias a todas as horas. Muitos treinos, muitos jogos e, progressivamente, muitos espirros. Muita comichão no nariz e nos olhos. Cada vez o incomodavam mais, o afastavam da prática desportiva e começavam a tomar conta da sua vida. Os estudos começaram a ser afectados, o nariz sempre tapado e os remédios que lhe aconselhavam, pouco o ajudavam. Mas o maior susto foi quando dois ou três anos depois começou a sentir que tinha um elefante sentado no peito, que o acordava de noite, o apertava e sufocava, não o deixava correr e falar… que parecia que não o querer deixar viver.
Passou quase meio século. A carreira de futebolista por lá ficou. Disseram-lhe que tinha asma, já depois de ter acabado o curso. Exames de alergia, fez muitos, mas medir a capacidade respiratória foi algo que só fez muito mais tarde. Acha até que foi tarde demais. Explicam-lhe, agora, que já tem uma obstrução permanente. E lá volta a repetir que nunca fumou.
Talvez não tenha sido o alérgico mais disciplinado, mas gostava de ter tido um acompanhamento mais regular. Compreende, agora, o que significa estar controlado, o que são medicamentos inaladores ou comprimidos que calam a inflamação alérgica e aqueles que só aliviam os sintomas. Percebe a importância de evitar os alergénios e os benefícios que consegue com a vacina antialérgica que faz há três anos. A Primavera voltou a entrar na sua vida. Na vida do seu neto estará sempre presente. O jeito com que trata a bola está lá. É o mesmo que o seu. E os sintomas no nariz também. Mas com ele vai ser diferente. Vão amanhã à consulta. Esta crónica para ele vai ser diferente. A alergia pode viver com ele, mas não vai viver a vida dele.
Alergias respiratórias crónicas: importa esclarecer que na maioria dos casos, a rinite e a asma não são difíceis de diagnosticar, mesmo na criança; as alergias respiratórias, geralmente, não passam com a idade; as alergias podem afectar muito a qualidade de vida e, por isso, devem ser controladas; se bem utilizados, os tratamentos para a asma não são perigosos — os corticóides por via inalatória são seguros e os broncodilatadores não “fazem mal ao coração”. O que é perigoso é deixar as alergias viverem as nossas vidas.
O diagnóstico, que deve ser precoce, baseia-se sempre nas queixas do doente e é apoiado por alguns exames, como é o caso dos testes de alergia e das provas funcionais respiratórias; iniciamos então um programa de controlo assente em educação e conselhos para evitar os alergénios, bem como no uso de alguns medicamentos e vacinas antialérgicas. E, é claro, a medicação de crise está sempre presente.
Falar e manter contactos regulares com a equipa de saúde é fundamental na gestão das alergias crónicas. Existem muitas respostas para dar a quem vive com alergia crónica e muitas histórias bonitas, de sucesso, para contar.