Os futuros da educação
Novas respostas às questões colocadas devem ser procuradas, de modo a pensar de forma diferente a aprendizagem e a relação entre estudantes, professores e conhecimento, no atual e nos futuros contextos mundiais.
Mais do que um plano, o Relatório da UNESCO “Reimagining our futures together: A new social contract for education” é um desafio global para que a educação seja reinventada, num momento em que o planeta é confrontado com prementes e comuns desafios. Será, decerto, um documento que constará da agenda no horizonte de 2050 e que contribuirá para redefinir as políticas públicas de educação.
Dado o seu poder de transformação, a educação é associada a uma profunda mudança na sociedade para que a promessa do direito de cada criança, jovem e adulto a uma educação de qualidade seja efetivamente cumprida e potenciada no sentido da criação de futuros coletivos sustentáveis.
Para isso, a UNESCO propõe um novo contrato social que integre não apenas o que é formalmente legislado, mas também o que é culturalmente incorporado pelos membros de uma sociedade.
O ponto de partida para essa transformação do futuro é a visão compartilhada de propósitos públicos da educação, através de princípios que sustentam direitos humanos, práticas de não-discriminação, justiça social, dignidade humana, diversidade cultural, responsabilidade coletiva e interconetividade.
Para que tal processo de transformação se torne real, há três questões que são colocadas em termos educacionais: O que devemos continuar a fazer? O que devemos deixar de fazer? O que precisa de ser criativamente reimaginado?
Por intermédio de um novo contrato social, baseado na não-exclusão de qualquer tipo, no diálogo social, na investigação e na inovação, é fundamental garantir pressupostos, reimaginar futuros incertos e apresentar propostas para reimaginar a educação. Assim, novas respostas às questões colocadas devem ser procuradas, de modo a pensar de forma diferente a aprendizagem e a relação entre estudantes, professores e conhecimento, no atual e nos futuros contextos mundiais.
Nos pressupostos básicos, destaca-se a garantia do direito a uma educação de qualidade ao longo da vida, bem como de uma educação que, enquanto esforço público e bem comum, promova o bem-estar social compartilhado.
Para os futuros incertos, contribuem, de sobremaneira, tanto as desigualdades, as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade, o recuo da cidadania, a automatização tecnológica disruptiva e a inteligência artificial, quanto a falta de aprendizagens de qualidade e a irrelevância de propostas curriculares face à existência de problemas ao nível global.
Como ideias estruturantes para a reimaginação da educação, a OCDE propõe, entre outras:
- Que a pedagogia seja organizada a partir dos princípios de cooperação, colaboração e solidariedade, fomentando as capacidades intelectuais, sociais e morais dos alunos, de forma a trabalharem em conjunto e a transformarem o mundo com empatia e compaixão, e promovendo uma avaliação centrada na aprendizagem significativa para todos os alunos. Que as práticas pedagógicas, livres e autónomas, possam proporcionar debate e diálogo públicos sobre os futuros da educação.
- Que o currículo inclua a aprendizagem ecológica, intercultural e interdisciplinar, valorize a participação dos alunos na produção do conhecimento e na utilização da sua capacidade crítica, integre as literacias científicas, digitais e humanísticas, incluindo, ainda, a criação de futuros plurilingues e a promoção dos direitos humanos, da cidadania ativa e da participação democrática
- Que o ensino seja profissionalizado e valorizado como um esforço colaborativo, em que os professores sejam reconhecidos pelo seu trabalho como produtores de conhecimento e como figuras centrais na educação e na transformação social.
- Que as escolas sejam reconhecidas como locais de educação e formação, que promovem a inclusão, a equidade e o bem-estar pessoal e coletivo, e reimaginadas para transformar o mundo em direção a um mais justo, equitativo e sustentável futuro, com alterações significativas, por exemplo, de arquitetura escolar, espaços, tempos e horários.
- Que as tecnologias digitais sejam usadas para apoiar e não para substituir as escolas.
Por conseguinte, estabelecer um novo contrato social para a educação é um passo crítico para reimaginar os futuros da educação, equitativos e solidários, em contextos problemáticos — pobreza persistente, desigualdade em crescimento, conhecimento digital excludente, polarização crescente e transformação estrutural do mercado de trabalho —, tornando-se pertinente saber que educação será necessária para responder a todos os desafios, mais e mais complexos.