Cuidados Paliativos: porque todas as etapas da vida merecem ser vividas

Nesta data em que se celebra o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, nunca é demais recordar a razão de ser da sua existência: o alívio do sofrimento de quem padece de uma doença grave e ameaçadora da continuidade da vida, bem como da sua família.

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Nelson Garrido

Existe ainda, infelizmente, um profundo desconhecimento da sociedade e, inclusivamente, dos profissionais de saúde relativamente às vantagens dos Cuidados Paliativos. Quantas vezes se ouve “ainda não está nessa fase” ou “tem de lutar!”? Como se a existência de sofrimento não fosse, por si só, o momento certo para que o doente seja acompanhado por quem melhor sabe cuidar do seu alívio, independentemente dos tratamentos que estejam ou ainda venham a ser instituídos para o tratamento da doença.

É imperativo que se aprenda a lidar com o sofrimento humano e se reconheça que os Cuidados Paliativos não são adiáveis, porque todo o sofrimento é, já, uma urgência.

O tratamento do sofrimento, seja ele físico, psicológico, social, familiar ou espiritual, não pode começar apenas quando já não existe um tratamento curativo para oferecer, quando, tantas vezes, não só a doença como os próprios tratamentos a ela dirigidos são causadores de descontrolo de sintomas e de necessidades de cuidado.

Nos Cuidados Paliativos todos os procedimentos e tratamentos propostos devem ter como objectivo a identificação precoce, prevenção e alívio do sofrimento, a promoção de autonomia, o conforto, a dignidade e a qualidade de vida. São realizados por uma equipa interdisciplinar, através de um cuidado centrado na pessoa e nas suas necessidades únicas, adaptado a cada etapa do percurso do doente. O que se pretende é contribuir para que o doente possa viver o mais activamente possível até ao momento da sua cura ou morte.

Os Cuidados Paliativos afirmam a vida, encarando a morte como um processo natural, não a antecipando (não praticam eutanásia e suicídio assistido) nem a retardando, à custa de medidas desadequadas.

Mantêm-se contudo, na nossa sociedade, muitos mitos, como por exemplo o de que “quem tem um cancro sente dor e não existe nada a fazer”. Há sempre algo a fazer pelo alívio do sofrimento do outro e cabe a cada um de nós escolher de que forma quer ser cuidado. É um direito da pessoa que está doente e da sua família pedir acompanhamento por Cuidados Paliativos, poder ser escutado nos seus medos, inseguranças, angústias e ser apoiado na definição de um plano de cuidados e de vontades relativamente à sua vida.

Então quando iniciar Cuidados Paliativos? O mais cedo possível, quando há um diagnóstico de doença grave ou avançada e limitadora da vida que seja acompanhada de sofrimento de qualquer tipo (físico, psicológico, familiar ou outro). Tal não significa desistir de lutar ou de viver. Ser acompanhado por Cuidados Paliativos e pelo médico que se dedica ao tratamento da doença, pode e deve ser feito em simultâneo: uma coisa não exclui a outra, bem pelo contrário, é essencial que possa ser feito tudo o que está ao nosso alcance para melhorar a qualidade de vida de quem está gravemente doente, mas também da sua família.

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