Não há morte cerebral, mas também não existe qualquer alteração desde o incidente, há 71 dias, quando o actor sofreu uma paragem cardiorrespiratória durante as gravações da novela Amor, Amor (SIC), na qual vestia a pele de Cajó.
Ao longo deste tempo, um primo do artista, o chef Carlos Samora, tem vindo a dar conta precisamente do mesmo, publicando com regularidade na rede social Facebook a ausência de alterações: “Continua a dormir”, escreveu na última sexta-feira, deixando uma nota de esperança. Dois dias depois, noutra publicação, voltava a sublinhar o mesmo: “Mantemos a fé e a esperança na recuperação nem que seja parcial”, lê-se num post em que é recordada a participação de Rogério Samora em Solidão, Uma Linda História de Amor (1989), de Victor di Mello, com as participações de Pelé e Nuno Leal Maia.
Fonte do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (Amadora/Sintra) observou ao PÚBLICO que “o estado clínico [de Rogério Samora] é estável há muito tempo”, o que, no caso, não constitui uma boa notícia.
Já a alta dos cuidados intensivos, que alguns interpretaram como um sinal de melhoria, deveu-se exclusivamente ao facto de se terem “esgotado os recursos médicos e hospitalares”. Ou seja, a nível médico, não há qualquer solução e “o prognóstico mantém-se reservado”, o que não significa que o actor não possa vir a acordar, o que, sendo improvável, não seria uma situação inédita.
Agora, Rogério Samora necessita de cuidados diferenciados ao nível da enfermagem e de uma “resposta mais social do que médica”, por isso, foi encaminhado para uma unidade da rede de cuidados continuados, onde surgiu vaga para receber o actor.
Apesar de ser reconhecido pelo grande público pelos seus trabalhos em televisão, Rogério Samora nasceu no teatro, tendo um extenso e profícuo percurso no cinema: foi no primeiro que se estreou na arte de representar, na Casa da Comédia, com A Paixão Segundo Pier Paolo Pasolini, de René Kalisky, com encenação de Filipe La Féria, tendo conquistado o Prémio de Actor Revelação, da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro, em 1981; no segundo, participou em mais de 60 obras, tendo trabalhado com conceituados realizadores, entre os quais, Manoel de Oliveira (Os Canibais, A Caixa, Palavra e Utopia, Porto da Minha Infância, O Quinto Império — Ontem como Hoje), Manuel Mozos (Xavier), António-Pedro Vasconcelos (Jaime, Os Imortais), Luís Filipe Rocha (Sinais de Fogo, A Passagem da Noite) ou Fernando Lopes (Matar Saudades, O Delfim, 98 Octanas).
Fica ainda gravada na memória de várias gerações a sua voz, que cedeu a anúncios comerciais, mas também para a dobragem de filmes de animação: foi o Scar de O Rei Leão ou o Arãomis e o Cardeal Richelião em O Regresso de D’Artacão.