Projecto educativo de escola: entre a fantasia e a realidade
O projecto educativo apresenta-se-nos, assim, como um repto de difícil solução. Será que a projecção do processo educativo a curto, médio ou longo prazos deverá e poderá ser uma auto-estrada para um futuro desejado ou para um futuro prescrito. Qual o seu ponto de partida?
Henry Mintzgerg, uma das maiores autoridades em gestão dos nossos dias, afirma o seguinte, no seu livro Apogeu e Declínio do Planeamento Estratégico: “Somente quando reconhecemos as nossas fantasias podemos começar a apreciar as maravilhas da realidade.”
Falar de projecto educativo é falar, necessariamente, de planeamento de estratégias, de sonho, de fantasia, de realidades encontradas e realidades que gostaríamos de construir.
A afirmação de Mintzgerg suscita-nos de imediato dois problemas: Que fantasias poderemos nós reconhecer? Que realidade conseguimos apreciar?
O projecto educativo apresenta-se-nos, assim, como um repto de difícil solução. Será que a projecção do processo educativo a curto, médio ou longo prazos deverá e poderá ser uma auto-estrada para um futuro desejado ou para um futuro prescrito. Qual o seu ponto de partida?
De que variáveis depende essa projecção do processo educativo? Da situação contingencial de cada escola e do seu meio? Do seu estatuto público ou privado? Da autoridade dos órgãos gestores? Das necessidades dos alunos? Do profissionalismo dos professores?
Não é fácil responder a tantos desafios. Talvez seja por isso que, geralmente, olhamos para o projecto educativo numa perspectiva redutora e nos contentamos com uma mera listagem de actividades escolares.
Todavia, esta visão redutora levanta-nos outros problemas e outros desafios. Será que as actividades escolares são necessariamente educativas? Será que poderemos confundir escolaridade com educação? Será que a redução do processo educativo a uma lista de actividades não estará a deixar de fora todo o contexto em que a educação também acontece: a família, a sociedade em que a escola se integra ou, mesmo, o próprio aluno? Será que fazer o aluno participar numa actividade, por muito bem pensada que ela seja, contribui necessariamente para a educação do aluno concreto?
Não é fácil ser-se escola num tempo como este, em que parece não existirem certezas sobre o que devemos fazer para obter determinados resultados. Não sabemos até que resultados escolher. Por isso, talvez nos deixemos embalar no ramerrão do programa e do compêndio, que pouco nos dizem.
Daí que muitas vezes adormeçamos as nossas consciências num fervilhar de actividades, mais parecidas com a boa acção diária de um escuteiro do que com uma atitude deliberadamente transformadora da realidade em que estamos inseridos.
Não é fácil ser-se escola, mas muito mais difícil é ser-se educador. É que as responsabilidades do educador não acabam onde acaba a intervenção da escola. Nem pode, nem deve a acção do educador circunscrever-se à rotina escolar.
Não podemos atirar para cima do sistema abstracto a responsabilidade das nossas acções. Não podemos atirar para cima deles, quem quer que eles sejam, a incapacidade e a falta de motivação que às vezes sentimos para melhorar a qualidade e a amplitude da nossa inter-relação com os alunos.
É só a partir desta condição do concretismo da nossa situação de educadores, da realidade possível, presente e futura, dos nossos alunos, que poderemos começar a falar de projecto educativo de uma escola.
Atrevemo-nos a dizer, por isso, que o mundo do ensino, ou melhor, que o mundo das respostas em que vivemos nos separa culturalmente daquele outro mundo, hoje fundamental, que é o mundo das aprendizagens.
Se, de facto, estamos interessados em desenvolver nas escolas um projecto educativo, teremos de optar pelo mundo das aprendizagens, uma vez que, no nosso entendimento, ensino e aprendizagem são incompatíveis, pois pertencem a culturas e a universos diferentes. A incompatibilidade, todavia, não inviabiliza a coexistência, porquanto todo o espectro tecnológico da educação pode e, talvez, até deva ser ensinado; não se pode, contudo, ensinar a ciência. Esta só pode ser aprendida.
Directora-executiva do Instituto para o Desenvolvimento Social