Rede Natura 2000

Uma série fotográfica para dizer que não só de eucaliptos se deve fazer uma floresta

Onde cresce só uma árvore é um retrato da monocultura de eucaliptos nas florestas portuguesas. E quer mostrar que "o valor dos ecossistemas vai muito além do da madeira".

Em Portugal, a árvore mais comum em plantações certificadas é o eucalipto. As plantações são regularmente limpas para evitar a acumulação de vegetação seca das árvores e arbustos, que podem facilmente arder. Contudo, mesmo as plantações certificadas são maioritariamente geridas em monocultura, e apenas pequenas áreas são reservadas para conservação. Andreas Forstmaier
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Em Portugal, a árvore mais comum em plantações certificadas é o eucalipto. As plantações são regularmente limpas para evitar a acumulação de vegetação seca das árvores e arbustos, que podem facilmente arder. Contudo, mesmo as plantações certificadas são maioritariamente geridas em monocultura, e apenas pequenas áreas são reservadas para conservação. Andreas Forstmaier

Andreas Forstmaier e dois colegas examinaram, em 2020, áreas pertencentes à rede Natura 2000 (zonas ao abrigo das directivas europeias de protecção de aves e habitats) e, com a ajuda de dados de satélite, mapearam a existência de eucaliptos na Península Ibérica. Perceberam que já havia 15 territórios afectados pela presença de eucaliptos, dos quais nove estavam "fortemente afectados". Mas a "visão geral" não pareceu suficiente a Andreas, que procurou saber exactamente o que estava "a acontecer no terreno". "Por isso, visitei muitas áreas protegidas Natura 2000 e falei com pessoas que trabalham na floresta, para descobrir como isto aconteceu e quais os caminhos que podem levar a uma gestão mais sustentável da floresta", explicou o investigador com formação científica em detecção remota com imagens de satélite e na medição de gases com efeito de estufa, que acabou por encontrar na fotografia uma forma de "tornar os contextos científicos acessíveis a um público mais vasto".

A série Onde cresce só uma árvore mostra como "grande parte destes sítios foram transformados em plantações de monoculturas de árvores de crescimento rápido para satisfazer a procura crescente de pasta, papel e bioenergia" — com especial destaque para o eucalipto, que em apenas meio século se tornou "a espécie arbórea mais difundida em Portugal". A série pretende também mostrar "diversos tipos de floresta em Portugal". "Cada tipo de floresta é um habitat para espécies específicas, tais como aves, plantas, cogumelos e outros animais, que juntos formam um ecossistema. Para preservar a biodiversidade, da qual a vida como a conhecemos depende, é necessário conservarmos uma variedade de tipos de ecossistemas", lembra o alemão de 27 anos.

O objectivo é "encorajar as pessoas a descobrirem a natureza no país". "Não só no Parque Nacional Peneda-Gerês, mas também nos numerosos parques naturais da rede europeia de áreas protegidas Natura 2000", refere Andreas. Mais do que convidar para uma viagem, a série quer "apresentar algumas abordagens que podem levar a uma utilização mais sustentável das florestas". E mostrar que "o valor dos ecossistemas vai muito além do da madeira". 

 Um bosque quase natural ao longo de um riacho na Serra da Freita, um sítio protegido pela Rede Natura 2000. As florestas ribeirinhas, com espécies caducifólias e lauráceas, são raras em Portugal e só se encontram em vales húmidos ao longo de cursos de água.
Um bosque quase natural ao longo de um riacho na Serra da Freita, um sítio protegido pela Rede Natura 2000. As florestas ribeirinhas, com espécies caducifólias e lauráceas, são raras em Portugal e só se encontram em vales húmidos ao longo de cursos de água. Andreas Forstmaier
Para além do seu rápido crescimento, a ocorrência frequente de incêndios florestais é uma das razões pelas quais os proprietários plantam eucaliptos nas suas terras. Em média, grandes áreas ardem em Portugal a cada 15 a 20 anos, e aqueles que plantam espécies nativas, de crescimento mais lento, arriscam a nunca colher madeira.
Para além do seu rápido crescimento, a ocorrência frequente de incêndios florestais é uma das razões pelas quais os proprietários plantam eucaliptos nas suas terras. Em média, grandes áreas ardem em Portugal a cada 15 a 20 anos, e aqueles que plantam espécies nativas, de crescimento mais lento, arriscam a nunca colher madeira. Andreas Forstmaier
As plantações intensivas de eucaliptos cobrem o sítio Natura 2000 de Monchique, a sul de Portugal. Estas árvores crescem rapidamente e podem ser cortadas após apenas sete a 15 anos. Após o corte, a árvore recresce da base e pode ser cortada várias vezes até que os sistemas radiculares se tornam improdutivos e são removidos do solo com maquinaria pesada.
As plantações intensivas de eucaliptos cobrem o sítio Natura 2000 de Monchique, a sul de Portugal. Estas árvores crescem rapidamente e podem ser cortadas após apenas sete a 15 anos. Após o corte, a árvore recresce da base e pode ser cortada várias vezes até que os sistemas radiculares se tornam improdutivos e são removidos do solo com maquinaria pesada. Andreas Forstmaier
Queima controlada num eucaliptal. Grande parte dos incêndios florestais são causados pela actividade humana, tais como a queima de ramos e resíduos orgânicos. Em condições secas, estes incêndios podem facilmente ficar fora de controlo e propagarem-se rapidamente.
Queima controlada num eucaliptal. Grande parte dos incêndios florestais são causados pela actividade humana, tais como a queima de ramos e resíduos orgânicos. Em condições secas, estes incêndios podem facilmente ficar fora de controlo e propagarem-se rapidamente. Andreas Forstmaier
Luís Sarabando trabalha para uma associação florestal local perto do Rio Vouga e gere florestas certificadas na área. Segundo ele, a certificação recompensa os proprietários de terras que cumprem a lei e proporciona um incentivo financeiro para a prossecução de melhores práticas.
Luís Sarabando trabalha para uma associação florestal local perto do Rio Vouga e gere florestas certificadas na área. Segundo ele, a certificação recompensa os proprietários de terras que cumprem a lei e proporciona um incentivo financeiro para a prossecução de melhores práticas. Andreas Forstmaier
Ao longo do Rio Vouga, uma área protegida para vários tipos de habitat, tais como sobreirais e florestas de olmeiros, hoje encontra-se coberta principalmente por plantações de eucalipto até à margem do rio.
Ao longo do Rio Vouga, uma área protegida para vários tipos de habitat, tais como sobreirais e florestas de olmeiros, hoje encontra-se coberta principalmente por plantações de eucalipto até à margem do rio. Andreas Forstmaier
Práticas como a preparação e mobilização de solo com recurso a maquinaria pesada e o corte raso são comuns, mesmo em áreas protegidas pela Directiva Europeia "Aves e Habitats", assim como em plantações certificadas.
Práticas como a preparação e mobilização de solo com recurso a maquinaria pesada e o corte raso são comuns, mesmo em áreas protegidas pela Directiva Europeia "Aves e Habitats", assim como em plantações certificadas. Andreas Forstmaier
Existem plantações de eucaliptos certificadas localizadas em áreas de Rede Natura 2000. Desde 2017, as leis nacionais proibiram novas plantações de eucaliptos na Rede Natura 2000, mas as plantações existentes são frequentemente autorizadas a replantar em monocultura.
Existem plantações de eucaliptos certificadas localizadas em áreas de Rede Natura 2000. Desde 2017, as leis nacionais proibiram novas plantações de eucaliptos na Rede Natura 2000, mas as plantações existentes são frequentemente autorizadas a replantar em monocultura. Andreas Forstmaier
Valongo, um sítio protegido para habitats como a floresta de carvalhos galego e português, tem hoje praticamente toda a área coberta de plantações de eucalipto.
Valongo, um sítio protegido para habitats como a floresta de carvalhos galego e português, tem hoje praticamente toda a área coberta de plantações de eucalipto. Andreas Forstmaier
Um único sobreiro, espécie autóctone, que foi poupado numa plantação de eucaliptos.
Um único sobreiro, espécie autóctone, que foi poupado numa plantação de eucaliptos. Andreas Forstmaier
Há cerca de 20 mil anos, grande parte da Península Ibérica estava coberta de florestas caducifólias de carvalhos e outras folhosas. Até ao século XIX, as florestas foram gradualmente desmatadas para serem convertidas em pastagens ou terrenos agrícolas, à semelhança do que aconteceu noutros países europeus. Foi apenas no século passado que se deu início à reflorestação, que actualmente é feita sobretudo em monocultura de pinheiro e de eucalipto.
Há cerca de 20 mil anos, grande parte da Península Ibérica estava coberta de florestas caducifólias de carvalhos e outras folhosas. Até ao século XIX, as florestas foram gradualmente desmatadas para serem convertidas em pastagens ou terrenos agrícolas, à semelhança do que aconteceu noutros países europeus. Foi apenas no século passado que se deu início à reflorestação, que actualmente é feita sobretudo em monocultura de pinheiro e de eucalipto. Andreas Forstmaier
São raros os sítios onde podemos observar medronheiros deste tamanho em Portugal, como esta floresta de medronheiros antigos localizada no Parque Nacional da Peneda-Gerês.
São raros os sítios onde podemos observar medronheiros deste tamanho em Portugal, como esta floresta de medronheiros antigos localizada no Parque Nacional da Peneda-Gerês. Andreas Forstmaier
 Bernardo Markowsky e a esposa, Teresa Markowsky, fundaram um projecto de reflorestação. Eles dedicam-se ao restauro dos ecossistemas degradados na Serra da Freita e Arada. Os trabalhos de restauro de ecossistemas são árduos e dependem de um financiamento contínuo.
Bernardo Markowsky e a esposa, Teresa Markowsky, fundaram um projecto de reflorestação. Eles dedicam-se ao restauro dos ecossistemas degradados na Serra da Freita e Arada. Os trabalhos de restauro de ecossistemas são árduos e dependem de um financiamento contínuo. Andreas Forstmaier
 Nuno Oliveira, diretor técnico para o património natural da Parques de Sintra, mostra uma antiga plantação de eucaliptos que a empresa reflorestou com espécies nativas numa das áreas florestais sob a sua gestão que integram o Parque Natural de Sintra Cascais (Rede Natura 2000). Todo o património florestal administrado pela Parques de Sintra conta com gestão certificada pelo Forest Stewardship Council (FSC), sendo a remoção de espécies invasoras, como as acácias, um dos seus principais objectivos. A recuperação do património natural degradado foi, desde sempre, ambição da empresa e não resultou do processo de certificação florestal.
Nuno Oliveira, diretor técnico para o património natural da Parques de Sintra, mostra uma antiga plantação de eucaliptos que a empresa reflorestou com espécies nativas numa das áreas florestais sob a sua gestão que integram o Parque Natural de Sintra Cascais (Rede Natura 2000). Todo o património florestal administrado pela Parques de Sintra conta com gestão certificada pelo Forest Stewardship Council (FSC), sendo a remoção de espécies invasoras, como as acácias, um dos seus principais objectivos. A recuperação do património natural degradado foi, desde sempre, ambição da empresa e não resultou do processo de certificação florestal. Andreas Forstmaier
Perto do sítio Natura 2000 de Monchique, algumas florestas ainda se encontram num estado mais natural. Aqui, apenas uma pequena parte das florestas foi, até agora, convertida em plantações de eucaliptos.
Perto do sítio Natura 2000 de Monchique, algumas florestas ainda se encontram num estado mais natural. Aqui, apenas uma pequena parte das florestas foi, até agora, convertida em plantações de eucaliptos. Andreas Forstmaier
Esta fotografia retrata uma floresta de bétulas no Alvão, no norte de Portugal, que acolhe uma variedade de espécies diferentes, como cogumelos que apenas crescem perto de bétulas.
Esta fotografia retrata uma floresta de bétulas no Alvão, no norte de Portugal, que acolhe uma variedade de espécies diferentes, como cogumelos que apenas crescem perto de bétulas. Andreas Forstmaier
 Justin Roborg-Söndergaard trabalha para uma organização ambiental em Portugal, supervisionando um projecto de reflorestação com espécies nativas em Monchique. "As plantações em monocultura de grande escala não podem ser coerentes com os objectivos de conservação do sítio", afirma.
Justin Roborg-Söndergaard trabalha para uma organização ambiental em Portugal, supervisionando um projecto de reflorestação com espécies nativas em Monchique. "As plantações em monocultura de grande escala não podem ser coerentes com os objectivos de conservação do sítio", afirma. Andreas Forstmaier