Fotografia
“O salitre entranha-se, corrói, nega-se a sair” – como o surf que corre nestas páginas
Salitre é uma colecção das melhores fotografias de ondas e surf em Portugal, mas não só. É um livro para passar de geração em geração, que guarda o surf como símbolo de liberdade num ano controlado pela pandemia.
Esta não é uma revista de surf. Procuram-se os surfistas com salitre preso às pestanas e sobrancelhas, os surfistas anónimos que adoram estar na praia e esperar as melhores ondas. Este é um anuário, uma peça de design e fotografia, para os que estão apaixonados pelo mar e pela “liberdade”, sinónimo do estilo de vida de um surfista.
“Não há [nenhuma publicação] que venda o sonho. Nós queremos publicar o estilo de vida, a liberdade que é viver o surf”, explica André Carvalho, do colectivo Salitre, que partilha o nome com este anuário. Depois de fotografar as maiores competições de surf, num ambiente que também para os fotógrafos é competitivo, André procurou praias mais calmas, e hoje sair de casa com a câmara na mão é “terapêutico”.
É numa praia vazia que, por vezes, se tiram as melhores fotografias de surf. Assim estiveram no último ano, em que as limitações de circulação impostas pela pandemia impediram, para muitos, a chegada ao mar. No Verão de 2020, André Carvalho acumulava fotografias nos arquivos do computador, não tinha como as publicar e não queria deixá-las “morrer” online. Por isso, quis criar o seu próprio livro.
Procurou, de Norte a Sul, fotógrafos que admirava, alguns deles amigos de várias décadas, e pediu-lhes que acreditassem que uma publicação em papel não significava uma sentença de morte. João Bracourt, conhecido como Brek, fotografou as praias algarvias e Pedro Mestre as da Ericeira. Hélio António foi desafiado a fotografar as ondas da Nazaré, que bem conhece, e Tó Mané garantiu que as ondas do Norte do país não ficavam atrás. André Carvalho dividiu-se entre Lisboa e a costa alentejana.
Para André, publicar um livro com o colectivo de que faz parte é um exercício criativo e, sobretudo, de liberdade. “Recuso-me a aceitar que as edições impressas vão acabar. Tenho livros dos meus avós. Se foram bem cuidados, passam de geração em geração. Online isso não vai acontecer”, diz o autor do livro Navegar é preciso. Ainda assim, reconhece que, hoje, criar um projecto em papel é o culminar da persistência e da dificuldade a que estão habituados surfistas e fotógrafos de surf.
“O salitre entranha-se, corrói, nega-se a sair, e é isso que queremos enquanto colectivo. Estamos aqui para fazer um bom trabalho e não vamos desistir de o fazer.” O Salitre começa a ser distribuído em Setembro e revelará as melhores fotografias nas praias de Portugal, tiradas entre Janeiro de 2020 e Abril de 2021.