Cinema
Não é “propaganda vegan”: Gunda, o filme que mostra o que os animais são
Documentário de Viktor Kossakovsky conta a história da porca Gunda. Chega aos cinemas portugueses a 22 de Julho.
O novo documentário de Viktor Kossakovsky deixa os porcos serem porcos. A preto e branco, sem narração, banda sonora ou vozes humanas, a câmara baixa-se e limita-se a seguir a existência de uma porca, das suas dez crias, de duas vacas e de uma galinha de uma só pata, numa quinta na Noruega.
O documentarista nascido na antiga União Soviética andava há 20 anos a pensar como podia fazer de um destes mamíferos o protagonista de um filme. Quando conheceu Gunda, disse logo ter encontrado a sua “Meryl Streep”. O filme que a dá a conhecer chega aos cinemas portugueses a 22 de Julho.
O documentário que não está interessado em ser “propaganda vegan”, ainda que estimule a repensar a forma como vemos animais de produção, captou a atenção de Joaquin Phoenix, conhecido como o vegan mais activista de Hollywood, que se juntou como produtor executivo. “Uau, alguém os filmou,” terá dito Phoenix, depois de ver o documentário. O politizado discurso que fez ao aceitar o Óscar de Melhor Actor por Joker era semelhante às conversas que Kossakovsky tinha com a equipa de filmagens.
“Todos os dias após as filmagens, sentimos que estávamos a tornar-nos pessoas diferentes. Estávamos a tornar-nos melhores. Todos os dias de comunicação com os animais surpreendiam-nos. Todos os dias dizíamos que eles são capazes de brincar, são capazes de sacrifícios, são capazes de se ajudarem uns aos outros. Eles são capazes de sorrir. São capazes de experimentar a liberdade da mesma forma que nós. Eles são capazes de ser felizes. Todos os dias regressávamos e abríamos uma nova dimensão na nossa vida. Vi a minha equipa, um a um, tornar-se vegetariana”, disse o documentarista, que já não comia carne há meio século e que após as filmagens rejeitou por completo todos os produtos de origem animal.
O cinema pode ser um aliado da próxima revolução, diz, “a revolução da empatia ”. Depois de ver o filme, o criador de Gunda foi incapaz de a matar. “É por isso que o cinema existe: não para te contar uma história, mas para te mostrar coisas que não consegues ver, não querias ver, ou que optaste por ignorar. Todos os dias, as pessoas escolhem ignorar o que sabem sobre a forma como a comida chegou à mesa”, disse, em entrevista ao Guardian. Viktor Kossakovsky escolhe sempre “mostrar”, em vez de contar.