A liberdade das férias grandes
Há uma altura do ano em que tudo cresce: os dias, as horas, a erva, a sombra. E a liberdade. Disso nos fala Tudo tão Grande, do Planeta Tangerina.
A alegria de ver o tempo a passar e os pés dos filhos a crescer pode muito bem ser transformada num poema, que talvez venha a ser cantado. Pelo menos assim o deseja a autora, Isabel Minhós Martins, que assina o texto de Tudo tão Grande – Canção cada vez maior.
A editora e fundadora do Planeta Tangerina reconstitui ao PÚBLICO a origem deste livro: “Escrevi-o o ano passado, no final da Primavera/ início do Verão, quando a pandemia estava a abrandar e tínhamos um Verão pela frente. Parecia que tudo tinha passado e acho que fui movida por essa alegria: a de que o tempo passa (e nem sempre é mau), os miúdos crescem e nessa altura específica do ano parece que tudo cresce com eles: os dias, as horas, a erva, a sombra.”
Do livro: “O dia grande/ A lua cheia// A maré alta/ a noite inteira.”
Fazendo mais um esforço de memória, acrescenta: “Começou com a ideia de dois pés descalços, fora dos sapatos, à sombra de uma árvore. E a constatação de que esses pés eram já bem maiores do que no ano anterior. (Estou naquela fase em que fico boquiaberta com o tamanho dos pés dos meus filhos! Deve ser isso.)”
Do livro: “O universo expande/ O ovo estala// O miúdo estica/ Rebenta a escala.”
Isabel Minhós Martins diz que este texto é a sua “homenagem às férias grandes, a esse parêntesis onde o tempo se alarga e em que uma hora equivale a uma semana e uma semana pode equivaler a um ano, em termos de vivências e crescimento”.
Considera esse “tempo precioso, muito livre, em que temos mais oportunidades de estar mais próximos dos outros e também mais próximos da natureza”. Para concluir: “Nesse contacto, como quem vai atrás desse movimento muito livre, acontece muitas vezes crescermos imenso!”
Do livro: “As férias grandes/ O mergulho fundo// O ar tão livre dá a volta ao mundo.”
Sentir-se pequenino em espaços gigantes
Também o ilustrador, Bernardo P. Carvalho, explorou as dimensões, as proporções e o crescimento. “Adoro paisagens e espaços abertos, sentir-me pequenino em sítios gigantes que nos esmagam. Acho que este poema também é sobre o crescimento, o que vamos absorvendo, sejam palavras, livros ou paisagens incríveis, que nos fazem maiores, cada vez maiores”, disse ao PÚBLICO.
O vencedor do Prémio Nacional de Ilustração no ano passado, com Hei Big Bang! (Ninguém Disse Que Era Fácil), contou ainda que “não foi muito fácil encontrar o caminho que queria” para este Tudo tão Grande: “Para já, este poema é mesmo bonito e não o queria assassinar… com os meus desenhos e, depois, durante o processo ia falando com a Isabel e discutimos outros caminhos, que às vezes parecem uma boa ideia, mas depois não resultam muito bem e não vão dar a lado nenhum de especial, o que pode ser um bocadinho angustiante.” Mas chegaram a um resultado feliz, como sempre.
Sobre a técnica, quando lhe perguntamos se o registo de manchas-paisagens é para ficar, descreve: “Comecei por fazer colagens, que depois se tornaram colagens digitais, papéis pintados, digitalizados e compostos no computador. Este registo é como todos os outros, uma fase do nosso trabalho que passa muito por isto: experimentar desenhar com outros meios.”
Na contracapa, sugere-se: “Inventa uma música para cantares este livro.” E convida-se os leitores a enviar as canções para a editora. Até agora, ainda não chegaram. Talvez nas férias grandes.