ONG alerta para um aumento do número de crianças-soldado na Colômbia
Mais de 12 mil crianças e adolescentes foram recrutados só em 2020. Além de alertar para um aumento dos recrutamentos, a organização condena ainda um ataque do exército colombiano contra um campo das FARC que matou 12 crianças.
A organização não-governamental (ONG) Aldeias de Crianças SOS alertou esta quarta-feira para um aumento “significativo” no recrutamento de crianças-soldado na Colômbia à custa da pandemia da covid-19. De acordo com a ONG, este aumento é motivado pelo encerramento das escolas devido à pandemia e pela reduzida intervenção estatal nas zonas rurais.
Segundo dados oficiais, 12.481 crianças e adolescentes foram recrutados à força no país em 2020, ainda que “se acredite que o número real seja significativamente mais elevado”, assegurou a directora das Aldeias Infantis SOS na Colômbia, Angela Rosales.
Posto isto, e enquanto membro do Conselho Nacional de Paz da Colômbia, a Aldeias de Crianças SOS condenou, numa declaração conjunta com organizações de direitos humanos, o ataque do exército colombiano contra um campo de dissidentes das FARC sob o comando de Miguel Botache, também conhecido por “Gentil Duarte”, na cidade de Calamar, no qual se calcula que tenham morrido cerca de 12 crianças-soldados.
Em resposta às declarações do ministro da Defesa colombiano, Diego Molano, que justificou o ataque e chamou aos soldados menores de idade como “máquinas de guerra”, a organização argumentou que as crianças não são máquinas de guerra, mas sim vítimas - tanto do recrutamento forçado como da fome e desespero que as levam a aliarem-se a estes grupos armados.
“As crianças têm direito a protecção”, assinalou Rosales, sublinhando que “recrutá-las como crianças-soldados vai contra o direito internacional.
Até agora, o Instituto Nacional de Medicina Legal da Colômbia confirmou a presença de uma menor de 16 anos entre as vítimas da operação militar.
As idades das restantes vítimas variam entre os 19 e os 25 anos. A versão da Casa Nariño, a sede do Governo colombiano, tem vindo a mudar com o passar do tempo. Apesar de no início terem excluído a possibilidade da existência de menores na base de operações Gentil Duarte, mais tarde não só vieram a reconhecê-lo como ainda se justificaram, alegando que se estavam “no local, então faziam parte da estrutura” ilegal.
O chefe do Comando de Operações Especiais do Exército Colombiano, o general Jorge Hoyos, reiterou no fim-de-semana que “todos os menores que se encontram” no meio da ofensiva “são combatentes armados ilegais”.
A operação militar ocorreu numa zona rural, e de difícil acesso, perto do rio Ajajú, no município de Calamar, uma área chave para as rotas de tráfico de droga. Já em 2014 o provedor de Justiça advertira para o risco de recrutamento dos jovens nesta zona.