Ministério Público investiga morte de Alfredo Quintana
Andebolista de 32 anos morreu no mês passado na sequência de uma paragem cardiorrespiratória.
O Ministério Público abriu um inquérito para investigar a morte de Alfredo Quintana, guarda-redes do FC Porto e da selecção nacional de andebol. O atleta não resistiu a uma paragem cardiorrespiratória de que foi vítima e morreu no mês passado no Hospital de São João, no Porto, aos 32 anos.
“Como acontece perante qualquer comunicação de óbito cujas causas são desconhecidas, o Ministério Público determinou a instauração de um inquérito com vista à averiguação da causa de morte”, disse ao PÚBLICO a Procuradoria-Geral da República, numa resposta escrita. O inquérito destinado a apurar por que razão morreu a estrela do andebol está a ser dirigido pelo Departamento de Investigação e Acção Penal do Porto.
O jogador sofreu uma paragem cardiorrespiratória a 22 de Fevereiro, durante um treino. Segundo o que foi noticiado, o Instituto Nacional de Emergência Médica foi chamado ao local e foi usado um desfibrilhador, tendo o guarda-redes luso-cubano sido reanimado e transportado em estado crítico para o Hospital de São João, onde viria a morrer poucos dias mais tarde. Dos três maiores clubes em Portugal, o FC Porto é o único que não tem um Programa de Desfibrilhação Automática Externa, como manda a lei, e que é considerado fundamental para evitar que se percam vidas quando alguém sofre uma paragem cardiorrespiratória. Foi por isso, de resto, que foi criado um programa nacional de implementação obrigatória.
Esta obrigatoriedade abrange locais de acesso público como estabelecimentos comerciais de dimensão relevante, aeroportos e portos comerciais, estações ferroviárias, de metro e camionagem e recintos desportivos, de lazer e de recreio, com lotação superior a cinco mil pessoas.
De acordo com a lei que introduziu a obrigatoriedade do programa em espaços como os estádios de futebol, o FC Porto incorre numa multa que pode ir até aos 44.500 euros. A lei é de 2012 e dava um prazo de dois anos para adaptação.
Uma vez que o FC Porto está em incumprimento, pelo menos desde 2014, o PÚBLICO questionou o Ministério da Saúde para saber se seria ou não aplicada alguma sanção, mas a única resposta que obtivemos foi que “o Governo criou um Grupo de Trabalho para Desenvolvimento do Plano Nacional de Desfibrilhação Automática Externa (DAE), com o objectivo de promover a disseminação e utilização da DAE em Portugal e melhorar o acesso das vítimas em paragem cardiorrespiratória a esta medida life saving”.
Diz ainda o Ministério da Saúde que este grupo de trabalho, “constituído ao abrigo do Despacho n.º 2530/2020, de 24 de Fevereiro, tem como missão elaborar um Plano de Acção para implementação das recomendações contidas no Relatório Final do Grupo de Trabalho criado pelo Despacho n.º 2715/2018, de 15 de Março, e de outras medidas que sejam relevantes para alcançar o objectivo proposto, incluindo propostas de alteração ao quadro legal”.
O PÚBLICO também questionou novamente, por vários meios, o FC Porto para perceber se, antes da chegada do INEM, foi usado um desfibrilhador para salvar Quintana e se o mesmo estava a funcionar nas devidas condições, uma vez que não tem um programa de DAE que fiscalize os equipamentos e que habilite pessoal não médico a usá-los. Também se perguntou ao clube se estava alguma equipa médica no local, mas fonte do clube disse que apenas se irá pronunciar quando tiver o relatório da autópsia do jogador.
A morte do andebolista suscitou várias reacções. A direcção do FC Porto decidiu retirar a camisola número 1 do andebol do clube, em homenagem ao atleta. Numa mensagem de condolências publicada no site da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa escreveu que o andebol e o desporto português ficam mais pobres com esta “partida precoce que a todos consterna”. Uma mensagem de teor semelhante foi partilhada nas redes sociais pelo clube dos leões: “O desporto fica hoje mais pobre. O Sporting envia as mais sentidas condolências à família, amigos e toda a família portista. Até sempre, Alfredo Quintana.”