O que devem os pais fazer quando os miúdos se assustam com histórias

As crianças sensíveis devem amadurecer a seu tempo, e forçá-las a apressarem-se ou a serem mais fortes, vai frustrar pais e filhos.

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As crianças criativas e sensíveis tendem a sentir maiores níveis de ansiedade Unsplash/Jonathan Borba

Os seus filhos assustam-se facilmente com um filme ou uma história de um livro? O cenário é-lhe familiar? Mesmo que seja um susto suave ou suspense, a criança fica assustada? Uma especialista em parentalidade, Meghan Leahy, responde a estas questões e deixa alguns conselhos de como lidar com os medos dos mais pequenos.

Há muitos pais no mesmo barco. Nunca me vou esquecer de quando levei a minha filha a ver Entrelaçados, um filme da Disney baseado na história da Rapunzel. Ainda que durante o filme não tenha manifestado o que estava a pensar, a primeira coisa que a minha filha de seis anos me perguntou mal o filme terminou foi: “Quantas crianças são raptadas?” (Alerta de spoiler: há uma cena em que um bebé é raptado no início do filme). E eu que estava a pensar que tínhamos gostado das músicas e dos animais na história, mas tudo o que a minha filha se lembrava era dos primeiros três minutos.

Parece conhecer bem a sua filha e, como pessoa sensível que é também, compreende profundamente o que ela sente. Na verdade, ela sente as coisas de forma diferente. Ao ser “extremamente criativa e perspicaz”, quer dizer que os seus sentidos a permitem, em comparação com outras crianças, captar mais de o que se passa à sua volta. Ainda que esta criatividade e intensidade seja uma coisa maravilhosa, pode ser uma forma de vida muito cansativa. O sistema nervoso da sua filha pode ser facilmente atulhado pelas vivências do quotidiano, por isso, adicionar violência e suspense pode ser pedir demasiado.

A boa notícia é que se diz que os dias dela não são atormentados com ansiedade, então isso pode dar-lhe algum espaço para respirar e pensar como proceder. As crianças criativas e sensíveis podem tender a sentir ansiedade, mas os comportamentos que descreve não correspondem a um diagnóstico de transtorno de ansiedade.

E como pode ajudá-la a ultrapassar essa sensibilidade emocional? Acho que ambas sabemos que isso não vai acontecer. Muitas vezes, comparo a sensibilidade das crianças a rosas: floridas são lindas, mas se tentar abrir o seu botão fechado, ela nunca irá florir e estará arruinada. As crianças sensíveis devem amadurecer no tempo, e forçá-las a apressarem-se ou a serem mais fortes, vai frustrar ambas partes — pais e filhos. Essa pressão irá também destruir o que as torna especiais.

Isto não quer dizer que a sua filha não construa resiliência por si própria durante o ensino básico. Sem a atirar para o abismo, pode continuar gentilmente a guiá-la até às suas fronteiras, sem a atirar “borda fora”. Sim, a vida pode deferir golpe atrás de golpe, mas as pessoas sensíveis conseguem aguentar. Isto se lhes tiver sido permitido amadurecer para o seu potencial máximo. Portanto, ao ajudar a criança a tolerar doses de desconforto, está a promover a resiliência, sem lhe partir o coração.

Sinta-se à vontade para partilhar histórias ligeiramente assustadoras com os miúdos, ler livros juntos que testem as fronteiras deles e vejam séries com algum suspense. Um exercício divertido é dissecar o que cria o suspense (a música, a escuridão, uma sombra). Quanto mais os pequenos entenderem como os autores e realizadores o fizeram, mais podem usar essa informação para a sua própria criatividade.

Os filmes e livros podem parecer demasiado infantis para a idade dela, mas não tem problema. Novamente, estamos a entrar na piscina juntos e não a atirá-la para o abismo do terror. E não se esqueça que há muitas formas de construir a resiliência, quer seja física ou emocional. Tente resistir a focar-se apenas em filmes e livros como a única forma da sua filha crescer.

Um dos principais desafios está precisamente em ser um pai sensível para um filho sensível. Pode sentir-se tentada a comparar a sua infância com a dela, pode preocupar-se com o quanto ela vai sofrer ou ser deixada de parte. Pode tentar interferir ou mudá-la, e dar por si a identificar-se demasiado com ela.

Mais do que qualquer mudança que queira fazer pelos seus filhos ou para eles, olhe para si antes. Mãe e filha podem partilhar uma natureza sensível, mas ela é uma pessoa por si só, que vai sofrer e sobreviver — se os pais estiverem lá para estabelecer fronteiras com compaixão.

Adoro os livros da Elaine N. Aron. Comece por The Highly Sensitive Parent (sem tradução em português, O pai extremamente sensível). Se quiser continuar a compreender estas questões, vai desenvolver naturalmente um sentido mais astuto para as necessidades da sua filha. O livro The Orchid and The Dandelion (sem tradução em português, A Orquídea e o Dente de Leão), de W. Thomas Boyce, também é uma excelente sugestão.

Boa sorte!

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