Eddy Da Silva: “Aprendemos com cada globo, que é sempre único”
Não marca golos, mas faz girar os globos que o próprio ajuda a construir. Este artesão da Madeira é um dos portugueses no atelier da londrina Bellerby & Co Globemakers.
Há sessões semanais de ioga, churrascos na varanda no Verão e durante o Inverno jogos de tabuleiro para todos os gostos. Sempre que possível há uma poncha no atelier feita no momento por Eddy da Silva, que se apresenta à Fugas como “artista e artesão” da ilha da Madeira e que hoje aplica os seus talentos nos globos da londrina Bellerby and Co.
Eddy, 27 anos, cresceu e estudou a maior parte da sua vida na zona de Cambridge, Inglaterra. “Já que o meu sonho de ser mais um grande futebolista madeirense não se realizou, a arte tornou-se uma grande paixão desde muito cedo”, diz o madeirense que depressa percebeu que não iria jogar ao lado do “ídolo Cristiano Ronaldo” — sem deixar de lhe seguir os passos de “determinação” e de “paixão”.
Enquanto se mudava para Londres, e numa altura em que se dava conta de que uma carreira corporativa ligada às artes não era o caminho que o faria feliz, Eddy respondeu a um anúncio publicado na conta de Instagram do Bellerby para a posição de artesão de globos. “Respondi, passei no atelier, onde fiz aquele que seria o meu primeiro globo, e pouco depois recebi a resposta positiva do atelier que já seguia nas redes sociais há uns anos.”
Num dia normal, que pode começar com um café e um pastel de nata home-made ("algo que faço ocasionalmente para os meus colegas, que adoram este doce"), o artesão português pega no bisturi “com a lâmina muito afiada” para cortar pelo menos um conjunto de segmentos do mapa que são logo recolhidos pela equipa de pintores “como o Rodrigo”, diz Eddy, referindo-se ao colega português.
O dia segue com a manufactura de um globo, que requer a aplicação de cola na superfície de uma esfera e a colocação do segmento longitudinal do mapa entretanto submerso em água por alguns segundos. “Esticamo-lo com a mão e movemo-lo até que esteja no lugar. O papel não é feito para ser manipulado desta forma. É por essa razão que cada artesão precisa de pelo menos seis meses de treino e de aprendizagem nesta arte até poder começar a fazer globos de verdade. E ao longo dos anos aprendemos com cada globo, que é sempre único.”
No vaivém de globos no espaço de trabalho, Eddy volta a receber nas suas mãos um globo que já tinha sido iniciado por si e entretanto pintado por um dos pintores agora “com a terra, o mar e restantes ilustrações” ao estilo do globo e mediante “pedidos especiais do cliente”, assegurando que tudo está perfeito antes de colocar os pólos Norte e Sul, que são cortados e colocados usando o mesmo método que os segmentos de mapa. Depois de os pólos devidamente pintados e revistos, cabe a Eddy aplicar uma camada de acrílico para proteger a superfície do globo. “E pela primeira vez o globo gira na sua base de madeira ou de metal feita pelos colegas artesãos”.