Rodrigo Pires: “Um globo viaja várias vezes entre um artesão e um pintor”
Respondeu a um anúncio de trabalho que procurava um artista especializado em aguarela. E para “grande alegria” do português, a Bellerby and Co, atelier artesanal de globos terrestres em Londres, contratou-o. “O resto é história”.
Um estágio como pintor de globos. Rodrigo “não podia acreditar na sorte” quando lhe ligaram da Bellerby and Co, oferecendo ao artista plástico português a possibilidade de trabalhar num atelier de manufactura artesanal de globos terrestres pelo qual o próprio se apaixonara no ano anterior quando respondeu a um anúncio de trabalho que procurava um artista especializado em aguarela. “Num mundo cada vez mais mecanizado e onde a maioria dos trabalhos no sector criativo te têm forçosamente ‘amarrado a um ecrã’ e o mais afastado possível do processo de manufactura directa e de criação manual, aqui estava um trabalho, contrário à tendência geral, que te incentivava a usar as mãos, homenageando, explorando e favorecendo métodos e técnicas tradicionais, com o intuito de criar peças artesanais de carácter único. Para minha grande alegria, ofereceram-me o trabalho, e o resto é história, como normalmente se diz”, explica à Fugas Rodrigo Pires (1978), natural de Lisboa e em Londres desde 2001.
Depois de terminar a licenciatura em Belas Artes na ARCA-EUAC (Escola Universitária das Artes de Coimbra), Rodrigo fez em Londres uma pós-graduação na Byam Shaw School of Art e desenhou a sua carreira na capital. Nos anos seguintes, e em paralelo com a prática artística e alguns empreendimentos no campo gastronómico, trabalhou principalmente no sector cultural e educativo numa variedade de funções em diferentes museus e galerias, entre elas a National Gallery e o Barbican Centre. O resto é a história de um artista que há quatro anos recebeu um telefonema que mudaria a sua vida.
Na Bellerby and Co, Rodrigo é um dos oito pintores (alguns a trabalhar desde casa de momento devido à pandemia) que trabalham em contacto directo com os departamentos de cartografia e de manufactura do atelier. Cada um dos elementos da equipa de pintura começa por trabalhar nos segmentos longitudinais (gomos a que chama “gores”) que formam a base de todos os globos Bellerby and Co anteriormente editados e impressos pelos cartógrafos e cortados pelos artesãos.
“Aplicamos as primeiras aguadas de aguarela aos segmentos com vista a determinar o estilo e a cor do globo a ser feito. Os segmentos são então rigorosamente aplicados numa esfera pelos nossos artesãos e são-nos devolvidos em forma de globo para que possamos harmonizar as cores, aplicar gradações e os matizes finais a fim de dar vida ao globo, por assim dizer.”
À volta dele, num atelier espaçoso e luminoso cheio de pincéis, caixinhas de aguarelas e frascos com água tingida e de cordas com partes do mundo a secar, giram lentamente os globos. “Um globo viaja várias vezes entre um artesão e um pintor até que esteja pronto para ser laqueado ou envernizado com um acabamento brilhante ou fosco, antes de ser enviado para a oficina onde os nossos carpinteiros concluem o processo”, diz o pintor de globos, que normalmente trabalha na criação de diferentes globos em diferentes estados de acabamento e de diferentes tamanhos durante um dia. “É um trabalho onde a paciência e a atenção ao detalhe são fundamentais.”