Fechados em casa, a visão piorou. Como inverter a situação no segundo confinamento?

Mais tempo em frente aos ecrãs e menos ginástica ocular ao permanecermos fechados muito tempo em casa estão a degradar a visão. No entanto, os especialistas indicam haver formas de cuidar dos nossos olhos.

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Um dos problemas passa pelo facto de estarmos focados numa curta distância demasiado tempo Unsplash/Christian Wiediger

O olho humano foi concebido para estar permanentemente em adaptação a diferentes horizontes, sendo que o facto de permanecer por longos períodos focado numa curta ou média distância danifica a sua elasticidade. E, com a obrigatoriedade do teletrabalho, com as aulas à distância e com o tempo de lazer passado no mundo virtual, o problema agravou-se no último ano, também pelo aumento da exposição a fontes de luz azul, como acontece com o computador, com o tablet ou com o smartphone, que é associada a alguns problemas de saúde ocular. É essa a conclusão de um estudo realizado pela Direcção de Saúde Visual da Essilor Portugal, entre os meses de Setembro e Novembro do ano passado.

Segundo o trabalho, publicado em Janeiro, os meses de confinamento associados a um incremento na utilização de ecrãs piorou a qualidade da visão, com quase metade dos inquiridos (44,2%) a queixar-se de perda na acuidade visual.

“Em casa, o escritório estende-se para todas as divisões: ficamos mais tempo na cama porque não temos o tempo no trânsito, mas quando damos por nós já estamos a responder a e-mails ainda deitados e de pijama”, contextualiza ao PÚBLICO o director de Saúde Visual da Essilor Portugal, Alberto Silva. Também a afectar a visão está a questão postural, acrescenta. É que, se num escritório nos sentamos a uma secretária recorrendo a uma cadeira pensada para estar ao computador, em casa podemos acabar no sofá com o portátil ao colo ou na mesa da sala de jantar numa cadeira comum.

Como resultado, reforçou o vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, Fernando Trancoso Vaz, em declarações à Lusa, “estamos mais tempo a olhar para o computador, mais tempo a pedir aos olhos que foquem à mesma distância”. “Se antes, nos postos de trabalho [nas empresas], nos levantávamos de vez em quando, agora isso não acontece.”

Para contrariar a tendência, os especialistas lembram a regra dos “três vintes”: a cada 20 minutos, olhar para uma distância de 20 pés (cerca de seis metros, a que corresponde o infinito óptico) por 20 segundos.

Ecrãs e miopia

“Com o confinamento [devido à pandemia de covid-19], maior uso de dispositivos digitais e uso de máscara, os problemas oftalmológicos agravaram-se. É fundamental ter mais atenção e fazer o exame oftalmológico que identifique precocemente possíveis doenças oculares, de modo a evitar que estas evoluam para estados irreversíveis”, avisa, citado em comunicado, o médico oftalmologista Salgado Borges, responsável pela conceptualização, implementação e análise crítica dos dados recolhidos no inquérito referido.

No estudo, 44,8% dos inquiridos referiram a visão mais desfocada e, no mesmo período, 59% afirmam terem sentido a visão afectada pela claridade do dia ao sair à rua, enquanto 40% relatam irritação ocular.

No inquérito, realizado online e que incidiu em diferentes campos, dos impactos do confinamento e da pandemia à miopia e ao conhecimento sobre os sintomas e correcção da presbiopia, ou vista cansada, um terço dos participantes afirmou ter estado frente a ecrãs mais de oito horas por dia. “O aumento do tempo de ecrã pode conduzir ou agravar casos de olho seco”, explicou ao PÚBLICO o oftalmologista da CUF Nuno Campos, frisando que nesses casos “o contacto com o oftalmologista é indispensável para instituir uma lágrima artificial, reduzindo a sintomatologia”.

Pais preocupados

“O crescente aumento de crianças com miopia cada vez mais precoce preocupa os profissionais do sector da saúde visual e não podemos fechar os olhos a esta possível pandemia num futuro próximo”, avisa José Salgado Borges depois de ter analisado os dados que demonstram uma preocupação dos pais (79,5%) em relação à saúde visual dos filhos — o estudo mostra até ser superior ao cuidado com uma boa higiene oral (78,2%) ou com uma alimentação saudável (77,2%).

No entanto, apesar desta preocupação, e de 90% dos pais declararem saber que os ecrãs são um factor de risco para o desenvolvimento da miopia nas crianças, apenas pouco mais de metade (55%) admite a possibilidade de limitar o uso dos dispositivos digitais — uma dicotomia que Alberto Silva descreve como preocupante.

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