Se o ensino à distância foi a solução encontrada para os alunos em período de pandemia, a disciplina de Educação Física terá sido a mais afectada pelas condicionantes que a acompanharam, denunciam a European Physical Education Association (EUPEA, a partir do nome em inglês da Associação Europeia de Educação Física) e a Sociedade Portuguesa de Educação Física (SPEF).
Numa posição tomada esta semana, a EUPEA defende que a disciplina é “fundamental na educação [do aluno] enquanto pessoa” e que os representantes dos professores devem trabalhar a nível local e nacional para garantir a segurança no regresso à escola, uma vez que “as aulas cara a cara são a única forma de aprendizagem quanto à actividade física e de manter controlo e qualidade”.
Relativamente ao que tem sido praticado a nível europeu, Nuno Ferro, presidente da SPEF e membro da EUPEA, revela que “a abordagem de fecho de escolas e ensino à distância foi idêntica” entre países. A diferença está na reabertura das escolas, uma vez que “alguns países já regressaram às aulas presenciais”, incluindo o caso de Educação Física, onde se tem visto restrições quanto “à proximidade e à utilização de material”.
Por cá, “o que é o essencial da disciplina ficou por cumprir”, denuncia Nuno Ferro, sublinhando que “não é possível à distância cumprir aquilo que são os objectivos de uma disciplina em que a prática é o elemento essencial”. Foi uma disciplina “muito penalizada”, assinala.
Enquanto se tentou “contornar a situação” através da propostas de actividades à distância e que “não exigissem muita necessidade de acompanhamento por parte de um professor”, isso, afirma o presidente da associação, “é apenas uma pequena parte daquilo que são as possibilidades e importância” que a disciplina representa para o desenvolvimento dos alunos.
Os efeitos negativos da “não-existência da disciplina” dividem-se em duas vertentes: por um lado pela questão da actividade física e, por outro, do desenvolvimento de capacidades sociais. O professor lembra que a Direcção-Geral da Saúde (DGS) “sublinhou sempre como muito importante” o exercício físico e afirma que “os jovens têm uma necessidade de movimento completamente diferente dos adultos”, o que tornou “ainda mais penalizante” o período de confinamento.
A disciplina é, também, “aquela em que as relações sociais se estabelecem de uma forma mais genuína”, uma vez que “os alunos têm que cooperar obrigatoriamente para atingir objectivos que são próprios” daquelas aulas e que reafirmam a relevância de Educação Física no currículo do ensino português, refere o presidente da SPEF.
O “principal objectivo” é o regresso às escolas
“Nós estamos a trabalhar para apresentar uma proposta que tente fazer com que os alunos tenham aulas presenciais”, adianta o presidente da SPEF, admitindo que, para um possível regresso, sejam aplicadas restrições pela DGS, enumerando exemplos como “o distanciamento social, entradas condicionadas e redução de alunos por turma”.
Para a EUPEA é fundamental que o tempo curricular da disciplina se mantenha o mesmo que antes desta crise pandémica e lembra que esta não deve ser confundida com as ofertas online existentes na área da actividade física, uma vez que a Educação Física é ensinada por professores, nas aulas presenciais. É preciso “garantir que os alunos tenham um espaço onde possam fazer actividade física e desportiva de uma maneira acompanhada e diferente do que tem sido feito até agora” para que se garanta “o cumprimento do currículo normal da disciplina”, defende Nuno Ferro.
A SPEF tem debatido a questão de um possível regresso presencial às escolas apenas para as de Educação Física, embora considere “uma situação a evitar” porque “se é para voltar, devia ser com todas as disciplinas”. Ainda assim, considera, “se há disciplinas em que o trabalho à distância é possível, a Educação Física não é uma delas” e, por isso, a organização dos professores quer “garantir alguma prioridade” para o regresso da unidade curricular às escolas. “Se tivéssemos que pôr uma hierarquia, acho que a disciplina de Educação Física deveria ser uma das primeiras”, conclui o professor.