Ventiladores, cremes, alimentos: as doações das empresas em tempos de pandemia

O PÚBLICO fez um apanhado de algumas iniciativas que empresas e marcas fizeram por causa da covid-19 e que apoiaram hospitais, profissionais de saúde e a população mais fragilizada.

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O Banco Alimentar foi uma das organizações apoiadas nesta altura de crise Miguel Manso

Desde meados de Março que muitas empresas pararam a sua produção e vendas porque a mão-de-obra foi para casa ou, simplesmente, porque não conseguiram escoar os seus produtos. Muitas tiveram a possibilidade de se reinventar e pôr as suas máquinas, matérias-primas, know-how e iniciativa ao serviço da resolução da pandemia, fabricando soluções desinfectantes, máscaras, viseiras, ventiladores, entre outros produtos e equipamentos necessários.

Outras procuraram contribuir para aliviar o esforço dos profissionais de saúde e dos trabalhadores que ficaram em lay-off ou foram despedidos, tendo de recorrer ao Banco Alimentar ou a outras instituições de solidariedade social para sobreviverem. Ao longo dos últimos meses, a solidariedade converteu-se em donativos, dádivas e contribuições. O PÚBLICO fez um apanhado de algumas iniciativas que empresas e marcas fizeram por causa da covid-19.

Ventiladores e outros equipamentos para hospitais

A Zurich Portugal e a fundação daquela seguradora fizeram um donativo de 400 mil euros à Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) que permitiu criar uma unidade de campanha hospitalar em Setúbal e ter capacidade para cinco centros regionais realizarem testes à covid-19 a cerca de 45 mil pessoas. Além de terem distribuído viseiras em cinco centros hospitalares.

A Danone lançou junto dos seus trabalhadores uma plataforma de crowdfunding para recolher donativos que a empresa duplicará o valor conseguido e oferecerá à CVP para aquisição de material médico e hospitalar de combate à pandemia. Assim como disponibilizou produtos alimentares para as unidades de cuidados intensivos, institutos de oncologia, hospitais de dia e centros de reabilitação.

A CVP não foi esquecida pela Nestlé que doou cerca de 130 mil equipamentos de protecção individual (batas, toucas, luvas, tapa-pés, entre outros), num valor global de cem mil euros para profissionais que cuidam de idosos em lares e apoio domiciliário. A multinacional ofereceu ainda nove toneladas de alimentos e bebidas a 70 hospitais e instituições de saúde, de norte a sul do país, não só para os profissionais de saúde, mas também para os doentes.

O Grupo Sovena anunciou a distribuição de quatro ventiladores para o Centro Hospitalar Lisboa Ocidental. A promotora imobiliária Vanguard Properties doou um equipamento digital de RX ao Hospital do Litoral Alentejano, atendendo a um pedido da Câmara Municipal de Grândola e da administração daquele hospital. Um equipamento semelhante chegou ao Hospital Distrital da Figueira da Foz pelas mãos da Altri e da Navigator, empresas ligadas à produção de pasta de papel.

Numa acção conjunta com a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, a Samsung distribuiu cem tablets em 19 hospitais de norte a sul do país, com o objectivo de estes facilitarem o contacto dos doentes com as suas famílias, ajudando a combater o isolamento destes e também dos profissionais de saúde.

Meio milhão de euros foi o que o Grupo Os Mosqueteiros anunciou em equipamento de protecção individual e material médico para os profissionais de saúde. A portuguesa Parfois, que celebra 25 anos, doou mais de 155 mil máscaras cirúrgicas e outros equipamentos de protecção individual a hospitais e bombeiros. A Leroy Merlin doou duas mil viseiras, assim como se juntou ao movimento solidário SOS Covid que entregou 90 mil viseiras a entidades de saúde, segurança pública e lares de terceira idade e contribuiu com o fornecimento de materiais de embalamento para que o movimento pudesse fazer a distribuição dessas dádivas.

A Sogrape esqueceu os vinhos por algumas semanas e produziu cerca de 25 mil litros de álcool gel para oferecer aos profissionais de saúde. Além disso, promoveu um espectáculo solidário para angariar donativos para contribuir para equipar hospitais. Também a José Maria da Fonseca e a Destilaria Levira, numa parceria, doaram cinco mil litros de álcool gel a instituições de saúde e solidariedade social

A agência Global Press decidiu juntar marcas e empresas portuguesas numa plataforma digital de vendas e criou o movimento Eu Apoio a Produção Nacional com o objectivo de, além de continuar a promover as suas marcas, ter disponíveis “produtos solidários” cujos 10% das vendas revertem para os hospitais. Entre essas empresas estão a Sogrape, Oliveira da Serra e Licor Beirão.

Cremes e chocolates para os profissionais de saúde

A pele dos profissionais de saúde não foi esquecida por empresas como a Johnson & Johnson que doou mais de 57 mil produtos de higiene e hidratação corporal que, em colaboração com o Ministério da Saúde, foram distribuídos pelos hospitais públicos. Já a L’Oréal Portugal doou 1500 produtos de higiene a profissionais de saúde, assim como as suas marcas La Roche-Posay e CeraVe ofereceram 900 máscaras juntamente com um kit de cuidado de higiene e hidratação das mãos. A Missão Continente (da Sonae, tal como o PÚBLICO) distribuiu por várias unidades hospitalares, de Lisboa e do Porto, 2500 unidades de creme reparador SOS MyLabel, a pensar nas mãos secas e gretadas.

Também o laboratório espanhol MartiDerm doou 12 mil unidades de creme para prevenir a dermatite facial (provocada pelo uso contínuo de óculos e de máscaras), hidratar as mãos secas (pelo uso excessivo de géis hidroalcoólicos), a médicos e enfermeiros dos hospitais São Francisco Xavier, Capuchos e D. Estefânia, em Lisboa; S. João e Sto. António, no Porto; Sta. Maria Maior, em Barcelos; Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia; e Unidade Hospitalar de Vila Real.

A francesa Nuxe ofereceu, em Abril, cerca de 1360 produtos, de cremes a sticks de lábios, aos hospitais do Barreiro, Figueira da Foz, Gaia, São Francisco Xavier, em Lisboa, e Bombeiros Voluntários de Viana do Castelo. Em França, a marca doou cerca de 80 mil unidades aos hospitais.

O Grupo Sovena fez uma doação de sabão Clarim para a Associação de Hotelaria de Portugal entregar aos hotéis que receberam profissionais de saúde durante a pandemia. A Castelbel declara que doou milhares de sabonetes líquidos e sólidos, assim como cremes hidratantes, bem como dispensadores vazios para carregamento de soluções desinfectantes aos hospitais e centros de saúde de Bragança, Mirandela, Macedo de Cavaleiros, Maia, Valongo, Penafiel, Porto, Braga, Guimarães, Espinho e Gaia.

A Overcube Collectiva, que apoia projectos ligados à moda e à industria do calçado, criou a iniciativa Juntos Somos a Solução e definiu que 10% das vendas de calçado das marcas Foreva, Fly London e Softinos para apoiar o Serviço Nacional de Saúde. O objectivo é oferecer batas cirúrgicas e até 14 de Maio o valor angariado era de 1545 euros.

No domingo de Páscoa, a Arcádia e a Regina juntaram-se numa parceria com a Uber Eats e ofereceram amêndoas e chocolates aos profissionais de saúde dos hospitais de São João, Sto. António e Pedro Hispano, no Porto. A Free Now e a Kapten oferecem tarifas especiais para os profissionais de saúde e têm uma parceria com o município de Lisboa que estende o serviço de táxi com uma tarifa 40% mais baixa que o habitual para os bombeiros, Polícia Municipal, Protecção Civil, trabalhadores da Higiene Urbana e Carris.

Dinheiro e géneros para alimentar famílias

Nos últimos meses, a Danone ofereceu 20 mil quilos de produto ao Banco Alimentar Contra a Fome (BA), à Comunidade Vida e Paz, ao Centro de Apoio aos Sem-Abrigo (CASA), entre outras instituições de solidariedade social.

O Grupo Sovena, produtor dos azeites Oliveira da Serra e óleo Fula, numa colaboração com o BA montou um plano de apoio à Rede de Emergência Alimentar doando os seus produtos. Estes, bem como um apoio monetário, também chegaram aos bancos alimentares de Sevilha, Cáceres e Jaen, em Espanha, de forma a contribuir para minimizar os efeitos da pandemia. Em colaboração com a Câmara Municipal de Lisboa, distribuiu ainda barras de sabão Clarim em hospitais de campanha, instituições de apoio aos sem-abrigo e famílias carenciadas.

A Missão Continente mantém as habituais doações diárias de excedentes das suas lojas a mais de mil instituições de solidariedade social e também de apoio a animais, contribuindo para minimizar as necessidades de cada instituição.

Diariamente, a distribuidora de vinhos e bebidas espirituosas Pernod Ricard apoia, por um lado, os restaurantes seus clientes e, por outro, associações de apoio aos sem-abrigo com 120 refeições. Estas são cozinhadas pelos restaurantes e recolhidas por organizações de solidariedade em Lisboa, Porto e Algarve

Até 30 de Junho, a marca de calçado Ambitious promove uma acção solidária de apoio à Cáritas. Na venda dos seus produtos, 25% do valor reverterá a favor daquela organização de apoio aos mais carenciados, para reforço do apoio alimentar de emergência no norte do país.

Numa parceria com a União das Juntas de Freguesia de Oeiras, Paço de Arcos e Caxias, a AEG, marca do grupo Electrolux, promoveu, entre Maio e Junho, a oferta de pão fresco a três instituições daquelas freguesias. Para isso, a marca transformou o seu showroom numa padaria e chamou ao projecto “Pão com Coração”.

Apoio aos trabalhadores, velhos e sem-abrigo

Enquanto muitas empresas optaram pelo lay-off ou despedimentos, a internacional Danone decidiu assegurar os postos de trabalho e salários dos seus trabalhadores durante três meses, anunciou. Uma medida que abrange mais de cem mil trabalhadores em todo o mundo, assim como dispôs de 250 milhões de euros para apoiar pequenos parceiros de negócio como fornecedores e clientes.

Os centros comerciais Mundicenter decidiram apoiar os lares de terceira idade na prevenção da covid-19 com a doação de 9500 máscaras cirúrgicas, 16 mil luvas descartáveis, 960 embalagens de álcool gel de 500 ml e 400 viseiras, a distribuir por lares em regiões onde estas superfícies comerciais actuam, como Aveiro, Braga, Lisboa, Odivelas, Oeiras e Torres Vedras.

A Johnson & Johnson entregou mais de 2300 produtos de higiene a centros de apoio a sem-abrigo dos municípios de Cascais, Lisboa e Porto.

Com a reabertura do comércio local e cadeias de distribuição, a LG Portugal doou 3500 kits de protecção individual (máscara e viseira) a centenas de parceiros por todo o país.

A Eleven Sports, detentora de canais televisivos desportivos, promoveu uma campanha de angariação de fundos para a Unicef Portugal, assim como um torneio de futebol virtual solidário para apelar aos donativos. O valor angariado já ultrapassa os mil euros e a campanha ainda se mantém no ar nas próximas semanas. Os donativos podem ser feitos através do Facebook da Eleven Sports ou através do telefone 761109109 (1 euros + IVA).

A Whirlpool ofereceu ao CASA dois congeladores, dois combinados e duas máquinas de lavar e secar; e ao INEM uma máquina de secar. O objectivo é apoiar a comunidade durante a pandemia e consciencializar para as normas e regras de higienização, diz a marca de electrodomésticos em comunicado.

A empresa especialista em brinquedos científicos Science4You disponibilizou dez mil metros quadrados das suas instalações, assim como meios para a produção de gel desinfectante. Além disso, mostrou disponibilidade para doar mil máscaras e mil óculos de protecção a profissionais de saúde.

Lá por fora

O movimento solidário SOS Covid anunciou a doação de 40 mil viseiras para Angola, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. O movimento começou por usar as suas impressoras 3D para construir viseiras e doá-las aos profissionais de saúde portugueses, mas recebeu pedidos daqueles países. A produção conta com três parceiros: Nimaia, que faz a injecção das viseiras; Transportes Alves Barroco, que entrega; e Dura Plásticos, que fornece o material.

O Grupo Sovena, que está presente em mais de 70 países, reforçou a sua ligação a mais de cem instituições com doações de produto a lares, creches, centros de sem-abrigo e outras que apoiam famílias carenciadas em Portugal, Espanha, Brasil, EUA, Tunísia, Angola e Marrocos.

Amway, multinacional norte americana de venda directa, que opera em Portugal há 28 anos, contribuiu para a CVP com uma fatia dos cem mil euros que disponibilizou para os países mais afectados pela covid-19 na União Europeia. Nos EUA, a fábrica da empresa, no Michigan, produziu gel desinfectante. As fábricas da Bacardi nos EUA, México, França, Reino Unido, Itália e Escócia, em vez de bebidas espirituosas estão a produzir desinfectante para as mãos, num total de 1,1 milhões de litros.

A espanhola Mango decidiu que 1% das vendas nas suas lojas físicas na Europa, EUA, Rússia e Turquia reverterão a favor do Fundo Covid-19 da Organização Mundial de Saúde (OMS). Além disso, no final de Março, doou dois milhões de máscaras aos hospitais espanhóis e 13 mil batas que foram confeccionadas nas suas fábricas. Também a H&M produziu equipamento de protecção individual para distribuir gratuitamente por hospitais de todo o mundo e doou 500 mil dólares para o fundo solidário da OMS e das Nações Unidas para combater e investigar a pandemia.

Também a francesa Louis Vuitton produziu batas para os profissionais de saúde dos hospitais parisienses. Assim como pôs os seus artesãos a produzir máscaras sociais. No caso da Lacoste, cerca de uma centena de artesãos voluntariou-se para trabalhar nas fábricas, em França e na Argentina, para fazerem 200 mil máscaras, a distribuir pelas comunidades locais, entre os mais desfavorecidos.

A Edizione, o grupo que detém a marca de moda Benetton, vai disponibilizar três milhões de euros “para apoiar projectos urgentes e as necessidades de quatro hospitais” italianos. O anúncio foi feito na passada quarta-feira, através de um comunicado, seguindo o exemplo de marcas como a Armani, que doou 1,25 milhões de euros para hospitais e protecção civil italianos.

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