Pandemia tornou o período mais difícil para milhões de mulheres, alerta ONG
Desde 2014 que se celebra o Dia da Higiene Menstrual para lembrar o estigma a que raparigas e mulheres, por todo o mundo, são sujeitas.
Milhões de mulheres em todo o mundo confrontam-se com a escassez de produtos de higiene, aumento de preços e preconceito em relação à menstruação. A situação piorou com a pandemia de covid-19, denuncia a Plan International, uma organização não governamental presente em 75 países.
Cerca de três quartos dos profissionais de saúde em 30 países inquiridos pela Plan International, do Quénia à Austrália, relatam escassez de produtos de higiene íntima, enquanto 58% se queixam de preços proibitivos e elevados dos mesmos.
Cerca de metade dos entrevistados refere o acesso reduzido à água potável, e um quarto aponta para um maior estigma ou práticas culturais discriminatórias ligadas à menstruação, com mulheres presas em casa por causa do confinamento.
“A menstruação não pára durante uma pandemia, mas geri-la com segurança e dignidade tornou-se muito difícil”, declara Susanne Legena, directora-executiva da Plan International Australia, num comunicado para marcar o Dia da Higiene Menstrual, celebrado nesta quinta-feira.
“Em muitos países, os produtos tornaram-se escassos e as meninas e mulheres vulneráveis, em particular, não têm acesso aos mesmos”, continua a responsável, apelando aos governos para incluir a higiene menstrual nos planos de resposta ao vírus e investir em serviços de água e saneamento.
Há uma semana, num estudo publicado pela Aliança Menstrual de Saúde da Índia revela que quase um quarto das mulheres indianas e em alguns países africanos não tiveram acesso a nenhum produto sanitário durante a pandemia. São sobretudo as mulheres de países pobres como o Bangladesh e Zimbabue, onde usam panos, aumentando o risco de infecção bacteriana, denunciam profissionais de saúde à Plan International.
Por exemplo, muitas meninas na zona rural do Zimbabue dependiam das escolas para o fornecimento de pensos higiénicos, diz Rachael Goba, de uma instituição de caridade naquele país. “Elas estão a usar métodos alternativos e inseguros, como o pano, e algumas até usam esterco de vaca. Essa é a realidade”, acrescenta à Reuters por telefone, dizendo que a escassez de água significava que as mulheres fechadas em casa não conseguem fazer a sua higiene íntima. “A pandemia contribuiu para um retrocesso de todos os ganhos que obtivemos em relação à higiene menstrual”, lamenta.
Outros inquiridos revelam que o confinamento por causa da covid-19 tem provocado, em alguns países, a acumulação de lixo que deixou de ser recolhido com regularidade. Outra das consequências da pandemia é o desemprego e, por consequência, a incapacidade de muitas famílias não poderem comprar pensos higiénicos. Mesmo em países mais ricos, como a Austrália e a Irlanda, onde o estigma e o abastecimento de água são menos problemáticos, as mulheres relatam aumento dos preços e escassez de produtos no mercado.