Dia 29: avós que querem competir com as mães

Uma mãe/avó e uma filha/mãe falam de educação. De birras e mal-entendidos, de raivas e perplexidades, mas também dos momentos bons. Para avós e mães, separadas pela quarentena, e não só.

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@DESIGNER.SANDRAF

Ana,

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Acabei de perceber porque é que as avós acham que sabem tudo, ou quase tudo, ou pelo menos muito mais do que as filhas e as noras. É muito simples: chegaram ao topo da cadeia de comando anos-luz antes delas. Na hierarquia militar já são generais, quando vocês entram com o grau de sargentos. Esta constatação fez-me rir — para com os meus botões, claro, raios partam a quarentena que te deixam tão longe!

Já estás com os cabelos em pé? Vou continuar. Vocês bem podem confrontar-nos com manuais dos mais famosos pediatras, estudos psicológicos das mais reputadas universidades ou com o último grito da pedagogia, mas serve-vos de tanto como ao soldado raso que confronta o comandante com uma app de geolocalização toda xpto.

A resposta do superior não deve ser muito diferente da de uma avó, qualquer coisa do género: “Ah, que interessante, pois, muito bem, mas quem andou na guerra a sério fui eu!”

É claro que as avós inteligentes estão muito caladinhas, que remédio, vocês é que tem a posse dos nossos queridos netos e é preciso fingir uma humildade que não sentimos para não criar anticorpos mas, lá no fundo, no fundo, mal nos apanhamos sozinhas com eles, fazemos à nossa maneira. Não são os nossos queridos filhos e filhas a prova acabada da nossa perícia educativa?

Conselho para as mães: fingirem também. Baterem pala, dizerem “sim, senhora General” quando a avó comenta que o menino está tão magrinho, o que seria dele se não fosse a sopinha que lhe faz ou quando vos pergunta porque é que o vosso filho berra tanto quando está convosco, porque com ela é um anjinho. O que estou a dizer? Que tenham compaixão de nós e nos deixem felizes com a ilusão de que fomos senão a mãe do século, pelo menos a das últimas décadas.

A recompensa de não comprarem esta guerra é conseguirem avós sempre disponíveis para ficarem com os vossos filhos enquanto vão ao cinema e comem pipocas (esta é para ti).

Já te provoquei o suficiente?


Vossa Excelência, senhora General,

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Dizem que a melhor forma de unir duas pessoas é tratar de lhes encontrar um inimigo comum. Aliás, é uma das teorias para o rápido bonding entre avós e netos.

Inspirada na sua referência à hierarquia militar, dediquei-me a uma pesquisa exaustiva sobre patentes. Envio-lhe em anexo as equivalentes patentes familiares, com uma pequena explicação para cada uma.

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Posto isto, concordo com a sua estratégia: sorrir e acenar.

Acrescento só a sugestão de um jantarzinho pós-quarentena entre mães/filhas, noras/sogras, para dizerem mal do verdadeiro chefe disto tudo. Regado com um bom vinho. Estou certa de que se darão assim por terminados todos os conflitos.

Continência,

Sargento Ana


No Birras de Mãe, uma avó/ mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, vão diariamente escrever-se, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook e Instagram

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