A suma importância da tolerância ao erro e aos limites

Salvar vidas, é o lema de todos. Salvar sempre, bem, e a tempo, o desafio principal!

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LUSA/REMKO DE WAAL

Estou em contacto muito frequente com algumas pessoas que trabalham nas “trincheiras” desta pandemia. Profissionais de saúde (médicos e enfermeiros) e do socorro (especialmente bombeiros). Começo a ouvir da sua parte, as crescentes preocupações acerca da eficácia do seu trabalho, uma vez que, o nível da pressão a que estão sujeitos sobe de forma acentuada a cada dia que passa.

Se por um lado, são pessoas habituadas a lidar com stress elevado ligado à saúde e à vida de outros — o que as torna tendencialmente mais imunizadas psicologicamente aos factores de risco inerentes a situações extremas com maiores níveis de resistência, porque mais desenvolvidos —, também é verdade que como nós em geral, estão a viver de igual forma um evento de maior monta, novo para todos.

Como se sabe, o ritmo do curso do vírus é rápido e, apesar dos números/resultados que temos em Portugal até à data serem francamente positivos, apontando para a possibilidade do achatamento da curva de desenvolvimento (grande objectivo proposto e desejado desde o início), não deixa de ser verdade que, no dia-a-dia, com a curva mais ou menos achatada, estes profissionais lidam directamente com os casos na tradução da subida real desses números. Paralelamente, experimentam na própria pele a proximidade do vírus e, com isso, o aumento do medo de serem contagiados e não poderem continuar a servir os que precisam. 

Neste enquadramento, avoluma-se a preocupação de não conseguirem dar vazão ao trabalho que vai chegando e a enorme dificuldade em tolerar os eventuais erros que possam cometer pelo caminho, passíveis de comprometer a eficiência do servir.

Salvar vidas, é o lema de todos. Salvar sempre, bem, e a tempo, o desafio principal!

Porém, diz o povo que “depressa e bem não há quem”. É, pois, deveras importante que nesta fase de mitigação do surto, aos poucos e poucos (na medida possível para cada um destes profissionais) possam ir desenvolvendo e pondo em prática a capacidade de tolerância ao erro, bem como a possibilidade de se encararem como seres humanos comuns que, dedicados que são a profissões de serviço ao outro, têm também limites.

Algumas “ferramentas” psicológicas e relacionais poderão ser úteis para alcançarem com sucesso o que pretendem e que a todos beneficia. Assim, em primeiro lugar volto a reforçar a optimização constante da comunicação entre pares e parceiros de acção, exercendo-a o mais clara, precisa e transparente possível em todas as ocasiões, nomeadamente quando existem dúvidas sobre o quê e como fazer, e com quem contar/articular.

É natural que neste período de aceleração dos números, existam delays de tempo na circulação da informação, por exemplo no que respeita a normas de actuação que mudam a cada momento. É natural que o cansaço se intensifique, dando lugar a comunicações menos céleres do que se gostaria. É natural que se sintam por vezes desnorteados, confusos e com a memória mais saturada.

Ainda no eixo da comunicação, é fundamental que no máximo de situações mantenham presente dentro de cada um e entre si a noção de cooperação e solidariedade, de forma a confirmarem e reforçarem o sentido de união. Todos juntos por uma causa comum!

Nesta altura, relativizar os desaires, as notícias menos favoráveis que possam ler ou ouvir sobre o vosso desempenho ou disponibilidade, é uma estratégia de ouro. Manterem higienizados psicologicamente os períodos de descanso é a garantia de poderem prosseguir com força e perseverança.

Peçam ajuda sempre que se sentirem exaustos ou a perder o foco nas premissas que são realmente importantes — como por exemplo, na protecção individual que devem manter cuidada; nos critérios de avaliação protocolados dos sinais clínicos dos casos a que assistem; na atenção redobrada para com os outros colegas das equipas com quem trabalham. Cuidem-se. Nós confiamos em vós e estamos por cá para vos ajudar! 

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