Como lidar com o stress? Fazendo jejum intermitente, apontam investigadores
Um artigo na edição deste mês da revista The New England Journal of Medicine explica como o jejum intermitente pode ajudar a combater o stress, a melhorar a saúde e a desacelerar o envelhecimento.
Depois de vários estudos aos efeitos do jejum intermitente, a revista The New England Journal of Medicine faz, na edição de 26 de Dezembro, uma revisão à matéria, descrevendo, primeiro, como o metabolismo e as células reagem a um regime de jejum intermitente; passando em revista todos os benefícios que os estudos pré-clínicos e clínicos identificaram em quem opta pelo jejum intermitente, quer entre sujeitos saudáveis quer em pessoas com desordens metabólicas (obesidade, resistência à insulina, hipertensão, etc.); e, por fim, explicando como se pode implementar um regime de jejum intermitente no dia-a-dia.
De acordo com o texto, elaborado a partir de uma colaboração entre vários departamentos da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore (Maryland, EUA), incluindo o Laboratório de Neurociências ou o Ramo de Gerontologia Translacional, “as principais fontes de energia das células são a glicose e os ácidos gordos”: a primeira, logo após as refeições, é usada como energia; os segundos são armazenados no tecido adiposo como triglicéridos. E é precisamente nos períodos de jejum, explicam, que estes são reaproveitados, ao serem “divididos em ácidos gordos e glicerol e usados para energia”. Ainda durante o jejum, “o fígado converte os ácidos gordos em corpos cetónicos, que fornecem uma importante fonte de energia para muitos tecidos, especialmente o cérebro”.
Os autores desta síntese explicam que o aumento do nível de corpos cetónicos dá-se após um período de oito a 12 horas sem ingerir alimentos, sendo que, quando o metabolismo usa os ácidos gordos e os corpos cetónicos como fontes de energia, o consumo da mesma é mais eficiente. Além disso, reparam, “os corpos cetónicos regulam a expressão e a actividade de muitas proteínas e moléculas que influenciam a saúde e o envelhecimento”. No que ao cérebro diz respeito, os corpos cetónicos estimulam a expressão do gene para o factor neurotrófico derivado do cérebro (BDNF, na sigla em inglês), uma proteína da família das neurotrofinas que age sobre certos neurónios do sistema nervoso central e do sistema nervoso periférico, ajudando na manutenção dos neurónios estabelecidos e permitindo o crescimento e diferenciação de novos neurónios e sinapses. Isto, dizem, tem benefícios na saúde cerebral, prevenindo distúrbios psiquiátricos e neurodegenerativos.
Paralelamente, as provas dos vários estudos analisados mostram que todos os sistemas orgânicos respondem ao jejum intermitente de forma tolerante, restaurando a homeostase, ao mesmo tempo que as células respondem a esse estado de stress de forma coordenada, levando ao aumento das defesas antioxidantes. Já a autofagia, que o jejum intermitente provoca, estimula a mitofagia, eliminando as mitocôndrias não funcionais e, consequentemente, deixando a célula mais saudável.
Nos seres humanos, um regime de jejum intermitente pode ainda, indica o resumo, ajudar em casos de obesidade, resistência à insulina, dislipidemia (ocorrência de níveis anómalos de lípidos no sangue), hipertensão e inflamação.
Em relação às capacidades cognitivas, os estudos observaram que “o jejum intermitente tem efeitos positivos na memória espacial, memória associativa e memória operatória”, ainda que seja reconhecida a necessidade de haver mais ensaios para chegar a conclusões mais sustentadas.
Apesar de todos os benefícios, os investigadores alertam para os efeitos secundários: durante o primeiro mês, “os indivíduos que optarem pelo jejum intermitente podem manifestar irritabilidade e capacidade reduzida de concentração durante os períodos de restrição alimentar”. Assim, aconselha-se a que a janela temporal do jejum seja progressivamente aumentada, ao longo de vários meses, até atingir entre 16 e 18 horas.