Brócolos, espinafres, agriões sempre foram um problema? Para já não há solução à vista, mas, pelo menos, as causas desse dissabor parecem estar identificadas. Tem tudo a ver com um gene que faz com que determinados sabores sejam sentidos de forma acentuadamente amarga. As primeiras conclusões a propósito de tanta gente se queixar de não conseguir incluir verdes e frutas nas suas refeições vão ser apresentadas nas Sessões Científicas da Associação Americana do Coração, que se realizam entre os dias 16 e 18, em Filadélfia, no estado norte-americano de Pensilvânia.
“A genética afecta o gosto, e o sabor é um factor importante na escolha dos alimentos”, disse uma das autoras do estudo, Jennifer L. Smith, pós-doutorada em ciências cardiovasculares pela Escola de Medicina da Universidade de Kentucky, em Lexington. “É preciso ter em conta o sabor das coisas se realmente se quer que o paciente siga as orientações nutricionais.” E a propensão para não gostar de determinados alimentos pode mesmo ser genética.
Explique-se: toda a gente herda duas cópias de um gene responsável pelo sabor, designado por TAS2R38, que pode apresentar variantes (polimorfismos) numa só das suas “letras”. Daqui podem resultar as variantes genéticas PAV (“com sabor”) e AVI (“sem sabor”).
Os indivíduos sensíveis ao amargo têm pelo menos uma cópia “com sabor”, enquanto os não sensíveis têm duas cópias “sem sabor”. O que os cientistas perceberam é que no caso da variante com as duas cópias “com sabor” os seus portadores são ultra-sensíveis ao amargo. “É provável que essas pessoas achem os brócolos, a couve-de-bruxelas e o repolho desagradavelmente amargos; e também podem reagir negativamente ao chocolate amargo, ao café e às vezes à cerveja”, adiantou Smith.
De acordo com os investigadores, foram observados 175 indivíduos e concluiu-se que quem apresentava o gene com uma só cópia PAV já revelava maior dificuldade em incluir vegetais na sua dieta diária.