Desconstrução, ousadia e criatividade no segundo dia da ModaLisboa

Na passerelle desfilaram nomes como Patrick de Pádua, Alexandra Moura, Ricardo Preto, Ricardo Andrez e Dino Alves. Nuno Gama inspirou-se no clássico O Principezinho.

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A colecção de Nuno Gama inspirou-se na obra de Saint-Exupery LUSA/ANTONIO PEDRO SANTOS
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Dino Alves fechou a segunda noite da ModaLisboa LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS
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O criador Dino Alves LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS
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Luis Onofre apostou nos tecidos em vez de peles LUSA/ANTONIO PEDRO SANTOS
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O criador e presidenet da APICCAPS agradece no final LUSA/ANTONIO PEDRO SANTOS

São duas da tarde, aos portões das Antigas Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento do Exército já se sente o palpitar da ModaLisboa. “Muito boa tarde” é o que se ouve mal se entra no recinto. Os militares dão as boas-vindas aos visitantes. Parece que o Exército se rendeu mesmo à moda.

Camuflados por entre os civis, os militares fazem a ronda ao perímetro do evento. Jovens com looks excêntricos, celebridades e famílias passeam. Alguns vêm aos desfiles, outros aproveitam para espreitar as actividades abertas ao público.

O Jardim das Laranjeiras já está animado. É lá que se encontra o espaço de alimentação desta edição da ModaLisboa. Nos armazéns circundantes ao jardim não faltam actividades para todos: o espaço social, o showcase ModaPortugal, um showroom com marcas portuguesas de autor, o check point (com workshops e masterclasses sobre vários temas) e o wonder room, um mercado com pequenas marcas portuguesas mais acessíveis.

Pelo recinto exterior, estão espalhadas viaturas do exército. Ninguém parece resistir a fotografar-se nas mais variadas poses em frente a um jipe de combate.

Nuno Gama e a “Cativação"

Nuno Gama abre o segundo dia da ModaLisboa. A fila para assistir é longa. Ultimam-se os preparativos e as portas da sala principal abrem-se. O designer volta a apostar no formato de performance, em que os modelos estão estáticos e é o espectador que se move.

“Cativação”: é assim intitulado o conjunto de peças de edição especial, com inspiração na história de O Principezinho. “O objectivo foi, de alguma forma, vestir a história”, conta o criador ao PÚBLICO. Os pecados capitais e as personagens do livro são representados em cada quadro, acompanhados com música ao vivo.

O pequeno príncipe de Nuno Gama veste um fato verde água com um lenço amarelo. Ao seu lado, está a raposa com um sobretudo comprido de pêlo. “A história está construída e contada de uma determinada forma para nos fazer pensar nestas coisas. Fui um mero transcritor”, conclui o criador. As peças estarão à venda na loja do designer, em Lisboa.

Desconstrução domina a passerelle

A sala principal reabre às 17h para receber Patrick de Pádua. IMauve e João Magalhães apresentam, entretanto, as suas colecções na sala LAB, perto da entrada do recinto.

À distância, o amarelo capta o olhar. O primeiro coordenado do desfile de Patrick de Pádua não deixa fugir a atenção dos presentes: um conjunto de calças e casaco em preto e amarelo fluorescente, num padrão floral camuflado. Inspirado na imagem dos Club Kids dos anos 1990, o designer foge ao preto e branco, paleta cromática pela qual a marca é conhecida. “É o meu ADN. Peguei no conceito de Club Kids e dei-lhe o twist Patrick de Pádua”, brinca o jovem criador, cuja carreira foi lançada no concurso Sangue Novo da ModaLisboa.

Plissados, camadas e diferentes texturas sobressaem no desfile de Ricardo Preto. A primeira modelo entra na passerelle com um coordenado completo em napa bordeaux. No seu rosto sobressaem os brincos grandes, o designer apostou em acessórios marcantes para completar os looks.

A colecção de Ricardo Preto prima ainda pela desconstrução em camadas. Vestidos por cima de calças, apliques e calças em rede foram elementos frequentes ao longo da apresentação.

Alexandra Moura e a “união de esforços”

Na pausa entre desfiles ouve-se falar de Alexandra Moura, a designer que se segue. Esta estação vem apresentar uma colecção em parceria com a marca Decenio. “Era algo que eu já tinha pensado, como é que ainda não existia em Portugal, se no mundo já existe. Já há tantas marcas a unir esforços e a criar produtos. Foi um desafio muito recebido e com total liberdade, ao ponto de eu não sentir qualquer peso comercial”, explica a designer ao PÚBLICO.

A curiosidade paira no ar e o ambiente está agitado na sala de desfiles. É fácil compreender de onde advém a agitação: estão três grandes blocos de gelo na passerelle, cada um com um guarda-sol lá dentro.

Foi uma fotografia de um guarda-sol azul, tirada pela designer, que inspirou o padrão dominante da colecção. “Sempre adorei aquela foto, transmite-me muita calma e paz. Ao mesmo tempo, transmite-me um ar de underground, mais conceptual. Quando isto [a parceria] tudo surgiu, tive uma vontade imensa de ir buscar esta fotografia”, revela Alexandra Moura, designer do Portugal Fashion a apresentar na ModaLisboa.

O padrão do guarda-sol entra na passerelle no primeiro coordenado. Sobressai também o look da modelo com o cabelo e pele molhados. Durante o desfile, a designer desconstrói o modelo clássico do blazer e arrisca nos modelos oversized. “Sinto que a Decenio sentiu a necessidade de incluir este lado mais jovem, mais conceptual, e contar a história de uma outra forma”, conclui Alexandra Moura, que foi recebida na passerelle com uma ovação de pé de uma plateia em êxtase.

Sustentabilidade e criatividade encerram a noite

Do Norte, “powered by Portugal Fashion”, chega também Luís Onofre, designer de calçado e presidente da Associação POrtuguesa de Industriais de Calçado (APICCAPS). Inspirado pelo Verão de Ibiza e Mykonos, aposta em cores vibrantes: mostarda, menta, rosa e azul são alguns dos tons que dominam a passerelle . A marca inspirou-se também na sustentabilidade, conceito que a ModaLisboa tem procurado implementar, e substituiu as peles de animais por tecidos.

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Numa sala iluminada por luz negra, entra o primeiro coordenado de Ricardo Andrez: um conjunto de saia e casaco em padrão tie dye. O rosto da modelo está pintado de branco e os olhos maquilhados em tons vibrantes. O conceito de sustentabilidade inspirou Ricardo Andrez na estação passada, em que se desafiou a criar a partir de dead stock (tecidos antigos de fábricas).

O processo criativo começa com uma visita às fábricas à procura de tecidos e de inspiração. Os tecidos recebem uma nova vida e, por exemplo, são tingidos, como fizeram para esta coleção. “É um pequeno passo, mas acho que é questionar-me, a mim e à equipa com quem eu trabalho, a nossa dimensão enquanto marca”, explica, em entrevista ao Público, o criador.

Vestir uma peça desta coleção de Ricardo Andrez é quase um exclusivo. “Como temos pouco stock, a produção de peças é muito limitada, mas eu acho que isso é uma mais valia. As pessoas sentem-se mais especiais”, reconhece o designer.

A noite de desfiles já vai longa. Bate a meia-noite quando Dino Alves apresenta aos convidados uma passerelle coberta de pó-de-talco. As modelos desfilam inicialmente apenas com coordenados pretos e brancos. A cor vai-se instalando, mais tarde, timidamente. As transparências e a malhas second-skin destacam-se numa coleção bem recebida pelo público, que não se deixa intimidar pelo avançar da hora.

Com ar repleto de pó de talco e boa disposição, termina assim a segunda noite de desfiles da 53.ª edição da ModaLisboa, que fecha as suas portas neste domingo.

Texto editado por Bárbara Wong

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