Uma infância difícil no seio de uma família disfuncional, uma adolescência marcada por uma violação, relações difíceis ao longo dos anos, entre três casamentos e respectivos divórcios. Tudo somado, a actriz Demi Moore diz que, para compilar as suas memórias num livro, lançado esta terça-feira se concentrou numa “questão fundamental”: “Como cheguei aqui? Vindo de onde eu vim, como cheguei aqui?”.
Numa entrevista à revista Harper’s Bazaar, em que é capa na edição de Outubro que chegou ontem às bancas, Demi Moore explica como sempre se sentiu em segundo plano. Primeiro, com o músico Freddy Moore, com quem foi casada de 1980 a 1985, tal como explica no seu livro: “Ao ver o Freddy [em palco], fiquei impressionada: se eu pudesse estar com alguém tão atraente, talvez também eu me tornasse atraente”. Depois, com Bruce Willis (casaram em 1987 e divorciaram-se no ano 2000), período em que por mais que fizesse — e protagonizou Ghost - Espírito do Amor, Proposta Indecente, Striptease… —, continuava sempre a ser a mulher do herói de Assalto ao Arranha-Céus. Por fim, foi apontada por se juntar a alguém com menos 16 anos, Ashton Kutcher, que tinha 27 quando Moore celebrava 42 – o casamento durou de 2005 a 2011.
Antes, lidou com a dependência do álcool e depois das drogas, revelando que, na primeira metade da década de 1980, quando estava no Brasil para a rodagem de Romance no Rio (1984), o uso de cocaína disparou, quase “queimando um buraco nas narinas”. Foi graças a Joel Schumacher, que realizou o filme em que entrou no ano seguinte (O Primeiro Ano do Resto das Nossas Vidas), que acabou por entrar num programa para se ver livre das drogas, conseguindo manter-se sóbria até conhecer Kutcher, que achava que não existia tal coisa como o alcoolismo, recorda Moore no livro. Foi assim que voltou a beber. E quando perdeu o bebé que esperava, num aborto espontâneo que conseguiu, na época, manter longe dos holofotes, acabou se culpar e beber ainda mais. “Nem consigo expressar o quão perdida, vazia, desesperada, confusa [estava]”, revelou numa entrevista cedida ao programa Good Morning America.
A actriz conta ainda ter sido alvo das infidelidades de Kutcher: a primeira vez, quando estavam juntos há seis anos; a segunda, em vésperas do fim da união. E, pelo meio, relata situações em que terá sido convencida pelo marido a participar em situações de sexo a três, das quais se arrepende. Na sua conta de Twitter, Kutcher já reagiu: “Estava prestes a publicar um tweet realmente sarcástico. Então, olhei para o meu filho, filha e esposa, e apaguei.” O actor é casado com a actriz Mila Kunis, com quem tem uma filha de seis anos e um filho de quatro. E continua noutro tweet: “Para saberem a verdade, enviem mensagem”, seguido de um número de telefone.
Violada aos 15 anos
Demi Moore descreve a sua própria infância como um tempo pouco feliz. A mãe, Virginia King, teve-a ainda adolescente e o homem que conheceu como pai, Danny Guynes, não o era. A vida desse tempo foi marcada pelo nomadismo, pela pobreza, pelo alcoolismo e por episódios marcantes. Como quando o padrasto a sequestrou, juntamente com o seu irmão mais novo, ou quando ajudou a reanimar a mãe de uma overdose: “Lembro-me de usar os dedos, os dedos pequenos de uma criança, para tirar os comprimidos que a minha tinha tentado engolir, enquanto o meu pai lhe mantinha a boca aberta e dizia-me o que fazer.”
A separação entre a mãe e o padrasto acabaria por ser inevitável (este viria a suicidar-se alguns anos depois) e quando as duas já viviam sem aquele, a mãe tornou-se amiga de um homem que a deixava “ligeiramente desconfortável”. Até ao dia em que, ao chegar a casa deu de caras com esse homem, que a violou. Tinha 15 anos. Depois do sucedido, o mesmo homem insinuou que a mãe dela sabia de tudo: “Como te sentes ao seres prostituída pela tua própria mãe por 500 dólares?”. Demi Moore acredita que a mãe não tinha noção do que iria acontecer, mas também não lhe perdoa o facto de ter dado a chave de casa a um estranho: “Isso não é o que uma mãe faz”, escreve.
Uma nova vida
Oito anos depois da separação de Kutcher, Demi Moore assume-se como uma mulher tranquila e, apesar de todas as peripécias vividas ao longo da sua existência, recusa o rótulo de vítima.
Ao longo do livro, que inclui ainda outras inconfidências (como ter sido com ela que o actor Jon Cryer teria perdido a virgindade - informação, entretanto, desmentida pelo mesmo), Moore discorre sobre o seu papel de mãe e de como a maternidade lhe permitiu mudar o rumo da sua vida. “As minhas filhas [Rumer, Scout e Tallulah, todas de Bruce Willis] ofereceram-me uma oportunidade para começar a mudar o padrão. Para conseguir quebrar os ciclos…”