França e Reino Unido aumentam patrulhas junto a locais de culto após ataque terrorista na Nova Zelândia
Polícia britânica oferece ajuda às autoridades da Nova Zelândia e garante que uma operação em curso na cidade de Birminghan não está ligada a suspeitas terroristas.
O ministro do Interior francês, Christophe Castaner, anunciou que vai haver maior segurança em redor de locais de culto em França como “precaução” depois do atentado desta sexta-feira contra duas mesquitas em Christchurch, cidade com uma grande comunidade muçulmana na Nova Zelândia. Pelo menos 49 pessoas morreram e 48 ficaram feridas durante as orações da tarde em duas mesquitas desta cidade.
Neil Basu, chefe da equipa de Contraterrorismo da Polícia Nacional Britânica, também disse que haverá mais patrulhas junto às mesquitas no Reino Unido, acrescentando que os seus agentes estão prontos a ajudar os neozelandeses. “A nossa rede internacional de agentes de contraterrorismo está pronta a ajudar os nossos colegas neozelandeses na resposta e na investigação a este terrível ataque”, afirmou Basu num comunicado.
Segundo Basu, as patrulhas junto a mesquitas no Reino Unido vão ser aumentadas e as autoridades estão prontas para dar conselhos às comunidades de todas as fés sobre como se devem proteger a si próprias e aos seus locais de culto.
Muitas das reacções a este duplo atentado têm chegado do Reino Unido. A rainha Isabel II, que tem nos habitantes da Nova Zelândia parte dos seus súbditos, também já enviou uma mensagem sobre os acontecimentos em Christchurch. “O príncipe Filipe e eu enviamos as nossas condolências às famílias e amigos de todos os que perderam a vida”, escreve a monarca. Há pelo menos 49 mortos e 48 feridos nos ataques contra duas mesquitas que ocorreram durante as orações da tarde de sexta-feira.
“Também presto a minha homenagem aos serviços de emergência e aos voluntários que estão a oferecer apoio aos que ficaram feridos”, acrescenta Isabel II. “Neste momento trágico, os meus pensamentos e orações estão com todos os neozelandeses.” A Câmara dos Comuns do parlamento cumpriu entretanto um minuto de silêncio em memória dos mortos na Nova Zelândia, disse o presidente do parlamento britânico, John Bercow.
O líder dos Trabalhistas britânicos, principal partido da oposição no Reino Unido, também se solidarizou “com a comunidade muçulmana em Christchurch e em todo o mundo”. O “meu coração”, disse Jeremy Corbyn, em declarações aos jornalistas depois do atentado, “está com as vítimas deste ataque terrível na Nova Zelândia”.
A presidente da câmara de Christchurch, Lianne Dalziel, diz estar a receber mensagens “de todo o país e de tudo o mundo. “Toda a gente está chocada. Nunca esperei que uma coisa destas pudesse acontecer em Christchurch, nunca esperei que uma coisa destas pudesse acontecer na Nova Zelândia”, disse Dalziel, apelando de novo às pessoas para evitarem a área.
Dois polícias citados esta manhã por um jornalista do The Guardian confirmaram que havia uma bomba num carro numa rua de Christchurch, a uns três quilómetros da mesquita Al-Noor, uma das atacadas. “Não estão seguros aqui, há uma bomba naquele carro”, disseram os agentes a propósito de um Subaru beije que se despenhou na rua. A jornalista e os polícias recuaram centenas de metros, até ficarem a uma distância segura.
“Obviamente, tenho estado muito próxima das comunidades imigrantes de Christchurch. Fui deputada do Parlamento, ministra da Imigração. Tenho uma ligação próxima e longa a muitas pessoas, muitos membros da comunidade muçulmana…”, disse ainda Lianne Dalziel, em declarações à televisão da Nova Zelândia.
“O meu coração está com as famílias e os amigos de todos os que foram afectados hoje. Este ataque parece antes de tudo resultar de uma decisão muito deliberada, fria e dura. Mas escolher Christchurch para provar ao mundo que nenhum lugar é seguro, e escolher Christchurch desta maneira, mostra a arbitrariedade…”, diz Dalziel.
Estudantes muçulmanos
Christchurch, na costa Leste da ilha Sul, na Nova Zelândia, é uma cidade de perto de 370 mil habitantes e uma comunidade muçulmana significativa, incluindo muitos estudantes estrangeiros. O embaixador da Indonésia na Nova Zelândia, Tanowi Yahya, disse à Reuters que seis indonésios estavam dentro de uma das mesquitas na altura do ataque, e que três conseguiram escapar. De acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Jacarta, há 331 indonésios em Christchurch, incluindo 134 estudantes.
O embaixador afegão para a Nova Zelândia, as ilhas Fiji e a Austrália, Wahidullah Waissi, escreveu no Twitter que três afegãos ficaram feridos. Dois malaios também estão feridos, diz o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Malásia. E o Governo do Bangladesh diz sentir-se “cheio de sorte” pelo facto de a selecção de críquete do país ter escapado por minutos aos disparos na mesquita Al-Noor. “Nem posso imaginar o que teria acontecido se eles tivessem chegado às orações cinco minutos antes”, disse nas redes sociais o ministro dos Negócios Estrangeiros, Shahriar Alam.
O Presidente americano, Donald Trump, reagiu entretanto “enviando as suas condolências” para o povo da Nova Zelândia depois “deste horrível massacre em mesquitas” numa mensagem publicada na sua conta de Twitter.
Vídeos retirados
Em Londres, a porta-voz da primeira-ministra Theresa May reagiu a uma pergunta sobre os vídeos dos tiroteios nas mesquitas – um dos ataques foi filmado por um dos atacantes e o vídeo chegou a ser transmitido em directo no Facebook e no Twitter, mostrando um homem com uma arma semiautomática a entrar numa mesquita e abri fogo sobre os crentes – defendendo que as empresas devem agir mais depressa para retirar “conteúdo terrorista” online. “O Governo tem deixado claro que todas as empresas têm de agir mais depressa”, disse a porta-voz.
Os vídeos foram publicados nas redes sociais, em contas entretanto apagadas, mas os sites de alguns jornais neozelandeses chegaram a retransmitir as imagens.
A polícia da Nova Zelândia está entretanto junto a uma residência na cidade de Dunedin, no Sul, falando de um local “de interesse em relação com o grave incidente de Christchurch”. Os agentes estão a evacuar as casas à volta e à procura de alojamento alternativo para os residentes, depois de terem encerrado a zona com um cordão polícia.
“Aumento da islamofobia”
Líderes políticos e religiosos muçulmanos em todo o mundo criticaram o “aumento da islamofobia” que dizem manifestar-se neste ataque, com alguns muçulmanos a queixarem-se do tempo que demorou até às autoridades chamarem “terroristas” aos suspeitos. “Responsabilizo a islamofobia pós-11 de Setembro, quando 1,3 mil milhões de muçulmanos passaram a ser responsabilizados por qualquer acto de terror, por estes atentados crescentes” escreveu o primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan.
Também o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlut Cavusoglu, descreveu este atentado como fruto de “uma tentativa de demonizar os muçulmanos e o ódio ao Ocidente”, responsabilizando “políticos e media por este ataque cruel”. Num comunicado, a Universidade Al-Azhar do Cairo, o principal centro de estudo do islão sunita, disse que estes ataques “violentam a santidade das casas de Deus” e são “um indicador perigoso das terríveis consequências do aumento do discurso de ódio, da xenofobia e do aumento da islamofobia”. O Governo dos Emirados Árabes Unidos usou a mesma ideia para defender: “O nosso trabalho contra a violência e o ódio tem de continuar com renovado vigor”.
Muçulmanos comuns expressaram o seu horror perante o vídeo onde um dos ataques chegou a ser transmitido em directo no Twitter e no Facebook. “Sinto-me doente, esta pessoa é um selvagem sem cérebro”, escreveu no Twitter Farhan Adhitama, da Indonésia. Outros queixaram-se que as autoridades e os media foram muitos lentos a descrevem os suspeitos como terroristas: “Isto é ataque terrorista. Vá lá”, escreveu no Facebook Aszafirah Zafyrah, em Singapura.
Em Daca, a capital do Bangladesh, já há uma manifestação contra os ataques.