Comunicar com os adolescentes
O desafio da adolescência não é só o da procura de uma identidade própria que não seja a imposta pelo mundo dos adultos. É, também, o da auto-regulação emocional. E este é, igualmente, o desafio dos pais.
Nunca, como hoje, foi a adolescência tão estudada e, no entanto, continua, possivelmente, a ser a fase mais desconhecida do desenvolvimento humano. A comunicação entre pais e filhos adolescentes permanece uma das principais questões levantadas no consultório do psicoterapeuta. Por uns e por outros:
— Os miúdos estão sempre ligados à rede... já não falam connosco, não nos contam nada.
— Os meus pais não me ouvem, não entendem, só criticam.
O conceito de adolescência existe apenas há cerca de cem anos e é próprio da sociedade moderna, que reconhece e define uma transição entre a infância e a idade adulta. Durante este tempo, o conhecimento científico produzido tem permitido perceber as alterações físicas, emocionais e comportamentais próprias desta fase, mas a realidade social dos jovens tem sofrido uma mudança drástica.
A concepção de família tem-se transformado imensamente nestes últimos cem anos. Quer por fora, quer por dentro. A família tradicional alargada deu lugar, sobretudo, à família nuclear anónima, sempre em movimento sujeita a um isolamento que se traduz em solidão. A convivência comunitária, familiar e, sobretudo, entre gerações, tem decrescido ao ponto de existir a queixa comum a pais e filhos adolescentes de que já é difícil comunicar. Já não se conversa. E quando não se conversa como é que se (re)conhece o outro? Sim, estamos em rede. Hoje, os jovens estão “sempre ligados” mas com que “rede” se não houver relação? E se não houver boa comunicação entre pais e adolescentes, como é que estes enfrentam os desafios naturais desta fase com segurança e auto-estima?
Não é fácil lidar com os adolescentes. A sua energia é, muitas vezes, paradoxal, ora letárgica, ora explosiva, e os sentimentos de grande vulnerabilidade e dependência coexistem com outros, bem diferentes, de arrogância e rebelião. Mal contida e desacompanhada, esta energia pode ser descarregada em comportamentos desadequados como o consumo de drogas, álcool, automutilação, bullying, isolamento, tudo isto frequentemente acompanhado por estados depressivos e ansiosos.
O desafio da adolescência não é só o da procura de uma identidade própria que não seja a imposta pelo mundo dos adultos. É, também, o da auto-regulação emocional. E este é, igualmente, o desafio dos pais.
Enquanto sociedade, exigimos muito porque lidamos mal com a mudança e com a transformação. Temos muitas expectativas em relação aos adolescentes, quer pessoais quer colectivas. Desejamos, mesmo que secretamente, que se “encaixem” sem grandes dramas. A sua angústia existencial desafia-nos, os seus comportamentos testam-nos, as suas queixas põem-nos em causa e sentimo-nos, muitas vezes, tão inexperientes e vulneráveis como eles. E sem soluções!
O melhor que podemos fazer pelos adolescentes é agir como adultos centrados, com limites e boa auto-estima e estarmos presentes para os escutar com os ouvidos e o coração. Só assim poderemos conter as suas angústias.
Na terapia com adolescentes é a relação que os ajuda criando um espaço seguro e protector onde podem expressar-se sem julgamentos. É importante falar a mesma linguagem, compreender os seus gostos, conhecer as novas apps que usam, os conteúdos que lhes interessam e os ideais que têm. O humor também ajuda.
Nem só a falar se comunica, por isso a técnica da Caixa de Areia ou Sandplay é uma excelente ferramenta clínica não-verbal e não invasiva à qual os adolescentes aderem com facilidade e que costumo utilizar no consultório.
Ao construir um cenário tridimensional numa caixa de areia e com recurso a um variado leque de miniaturas, os jovens representam simbolicamente a sua visão do mundo e de si próprios. A construção feita na areia constitui uma comunicação mais profunda do que qualquer tentativa forçada de verbalização. Estes cenários dão origem a associações e relatos espontâneos permitindo ao adolescente uma observação mais objectiva dos seus problemas, defesas, desejos e potencialidades. O psicoterapeuta ajuda a integrar a informação assim obtida. O processo promove uma maior tomada de consciência, auto-regulação emocional e a descoberta de novas soluções.