Balsemão cria um grupo de Bilderberg à portuguesa em Cascais
Sessão fundadora será ainda em Novembro e a direcção conta com onze personalidades, entre empresários, banqueiros, gestores de topo e milionários, como Paula Amorim, Leonor Beleza, Carlos Carreiras, Francisco Pedro Balsemão, António Ramalho e Carlos Gomes da Silva.
Depois de ter deixado o conselho director do grupo de Bilderberg em 2015 passando a sua pasta a Durão Barroso, Francisco Pinto Balsemão decidiu agora criar um clube restrito semelhante em Portugal, que terá a sua sessão fundadora ainda este mês, com cerca de meia centena de participantes.
Chama-se Encontros de Cascais e pretende ser um fórum de pensamento estratégico em que personalidades essencialmente da sociedade civil procuram discutir soluções para os problemas que o país e a Europa enfrentam. No grupo restrito de fundadores há gestores de topo, milionários, empresários e banqueiros.
O antigo primeiro-ministro e fundador do grupo Impresa desenhou um fórum português à semelhança do grupo mundial a que pertenceu durante 32 anos e no qual se assumiu como um dos membros com mais prestígio já que ali permaneceu por mais tempo do que muitos outros elementos do steering committee (comité de direcção) que integrava.
O PÚBLICO confirmou junto de fonte próxima de Francisco Pinto Balsemão que este convidou para o grupo de fundadores dos Encontros de Cascais a empresária Paula Amorim, presidente do Grupo Amorim; Isabel Mota, presidente da Fundação Calouste Gulbenkian; Leonor Beleza, presidente da Fundação Champalimaud; Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais; Francisco Pedro Balsemão, presidente da Impresa; António Lagartixo, partner na Deloitte Portugal & Angola; Vasco de Mello, presidente do grupo José de Mello; Pedro Penalva, presidente da AON, um grupo de serviços de gestão de riscos, corretagem de seguros e recursos humanos; António Ramalho, presidente do Novo Banco; e Carlos Gomes da Silva, presidente da comissão executiva da Galp Energia.
Paula Amorim e Isabel Mota foram precisamente as personalidades portuguesas convidadas por Durão Barroso para a reunião de Bilderberg deste ano, que decorreu em Junho na cidade italiana de Turim. Leonor Beleza fora levada por Balsemão para a reunião daquele grupo em 2007, na Turquia; Vasco de Mello acompanhou-o em 1999, em Sintra, na única vez que o grupo de Bilderberg reuniu em Portugal. Carlos Gomes da Silva esteve em Dresden, na Alemanha, já a convite de Barroso, em 2016 (com a antiga ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque).
Política fica de fora
O objectivo deste novo fórum é reunir algumas das figuras mais marcantes da sociedade portuguesa, com acção sobretudo nas área económica, financeira, social, educacional, que possam ajudar a definir os caminhos e estratégias para que o país tenha uma economia mais forte, mais justa e mais amiga dos empresários e das empresas – ou não fossem os protagonistas ligados ao mundo empresarial. Mas não só. Conhecendo o passado intervencionista de Balsemão, estarão também em cima da mesa discussões sobre o regime democrático, as garantias de liberdade, igualdade e solidariedade.
A intenção é tentar manter a política fora destes encontros – pelo menos no seu sentido formal, ou seja, personalidades que ainda ocupem cargos políticos. A presença de Carlos Carreiras explica-se pela sua proximidade a Balsemão mas essencialmente por ser a vila que acolhe as actividades deste grupo.
Para o encontro anual, cada um dos onze fundadores convidará quatro personalidades que podem ser nacionais ou estrangeiras. Olhando para a lista de fundadores, Balsemão fez questão de escolher personalidades com um leque de idades, de interesses, de proveniência e sectores diversos. Há nitidamente quem esteja ainda no primeiro terço da sua carreira mas com currículo promissor; há quem lide com o mundo empresarial desde sempre; há quem tenha feito quase toda a carreira no grupo em ascendeu e chegou ao topo.
O que ali se passa, ali fica
As regras de funcionamento dos Encontros de Cascais são em tudo semelhantes a Bilderberg, que as mantém desde a sua criação, em 1954, no hotel holandês que lhe deu o nome. Um grupo restrito de fundadores convida outras personalidades (neste caso português, quatro) para um conjunto de conferências fechadas que duram alguns dias.
Os encontros não têm qualquer cobertura mediática e a divulgação do que ali se conversa baseia-se nas chamadas Chatham House Rules, em que se pode citar a informação discutida mas sem identificar a fonte - normalmente, porém, o que é dito e o que se passa nas reuniões mantém-se apenas entre os presentes.
Apesar de normalmente se saber que temas são abordados nos encontros de Bilderberg, o secretismo faz com que sejam sempre levantadas questões acerca das verdadeiras intenções dos participantes. Especialmente porque se trata sempre de gente com poder – seja económico, social, político ou mediático – e em muitos casos de nível mundial.
O núcleo de onze fundadores dos Encontros de Cascais terá um mandato de três anos, renovável uma vez. Este núcleo funciona como o steering committee de Bilderberg, ou, em português, o conselho director, tendo como missão propor e aprovar temas para discutir no plenário anual, assim como os convidados e oradores das quatro sessões desse plenário.