Rasgar acordo nuclear “não será agradável para os EUA”, adverte Teerão
Ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão admite reiniciar programa de enriquecimento nuclear caso Trump insista em suprimir o acordo.
O chefe da diplomacia iraniana criticou a “mensagem perigosa” que os Estados Unidos estão a passar ao Irão e ao mundo, ao ameaçarem acabar com o acordo nuclear de 2015. Mohammad Javad Zarif diz que Teerão tem várias possibilidades em cima da mesa caso Donald Trump decida rasgar o compromisso alcançado pela administração norte-americana anterior, incluindo o reatamento do seu programa nuclear.
“[Os EUA] têm a opção de matar o acordo, mas terão de enfrentar as consequências. Quando chegar o momento tomaremos uma decisão com base no nosso interesse de segurança nacional. Seja qualquer for [essa decisão], não será agradável para os EUA, isso posso garantir”, advertiu Zarif, citado pelo Guardian, admitindo que a “prossecução vigorosa” do “enriquecimento nuclear” entra na lista de cenários.
Este é o aviso mais forte pelo Irão até agora sobre o cordo. Foi feito em Nova Iorque, onde Zarif vai participar numa sessão plenária das Nações Unidas e encontrar-se com o secretário-geral da organização, António Guterres. O ministro dos Negócios Estrangeiros garante que nunca houve razões para os norte-americanos recearem estar em curso a “produção de uma bomba nuclear” no Irão. Diz que se os EUA continuam temerosos “é um problema deles”.
Do acordo alcançado em 2015 e que envolveu a participação dos EUA, da Rússia, da China, da França, do Reino Unido e da União Europeia, resultou a promessa de Teerão em reprimir e reduzir o seu programa nuclear, em troca do levantamento das sanções económicas impostas pelo Ocidente.
O compromisso foi tido como histórico por todos os envolvidos, mas tem sido constantemente criticado por Trump, que o vê como o “pior de acordo de sempre” e que o quer renegociar ou simplesmente rasgar. O Presidente norte-americano tem até ao dia 12 de Maio para decidir se os EUA vão reinstituir as sanções a Teerão, uma hipótese que poderia colocar em causa a viabilidade do pacto. E ameaça fazê-lo, se os parceiros europeus do acordo não decidirem impor medidas que castiguem o Irão até essa data. Mas Javad Zarif tornou claro que Teerão não aceitará novas condições.
Face à possibilidade de os EUA vir a negociar um acordo semelhante com a Coreia do Norte – Trump e Kim Jong-un têm previsto encontrar-se num futuro próximo –, a embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, garantiu que Washington “não vai permitir” que as “lacunas do acordo iraniano” sejam replicadas numa eventual negociação com Pyongyang.
Javad Zarif lamenta a postura americana e diz que esta cria “uma impressão global de que os acordos não interessam”. “Os EUA estão a enviar uma mensagem muito perigosa para a população iraniana e para o mundo, que diz que nunca se pode conseguir um acordo com eles”, declarou o ministro.
Zarif admitiu que o abandono norte-americano do acordo dificilmente deixaria Teerão confortável em manter-se no mesmo apenas acompanhada pelos países europeus. E para a chanceler alemã, Angela Merkel, e para o Presidente francês, Emmanuel Macron, que se deslocam a Washington esta semana, deixa um conselho: “Tentar apaziguar o Presidente [Trump] é um exercício de futilidade”.