UE mostra que está unida no apoio ao acordo com o Irão
Europa mantém rumo distinto de Washington. Mas notícias que dizem que desta vez Trump certifica o pacto provocaram alívio em Bruxelas.
Chefes da diplomacia da União Europeia voltaram a reiterar esta quinta-feira o seu apoio ao acordo sobre o nuclear iraniano, num momento em que a Casa Branca pode dar novos sinais de querer romper com o pacto.
Os enviados europeus, reunidos em Bruxelas, também questionaram o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Mohammed Javad Zarif, sobre o programa de mísseis do país e o papel de Teerão no apoio a Bashar al-Assad na guerra da Síria.
Os ministros de França, Reino Unido e Alemanha quiseram expressar a Zarif a preocupação do Ocidente com o programa de mísseis iraniano e a repressão dos protestos anti-Governo do início deste Janeiro. Mas a grande mensagem que o ministro iraniano recebeu em Bruxelas foi que a União Europeia se opõe à Administração Trump quanto ao acordo de 2015 que pôs fim à maior parte das sanções a troco do encerramento do programa nuclear iraniano.
"A unidade é essencial para preservar um acordo que está a funcionar, mantendo o mundo mais seguro e prevenindo uma corrida às armas nucleares na região", disse a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.
O Presidente dos Estados Unidos vai decidir, já na próxima terça-feira, se continua a considerar que o Irão está a cumprir o acordo que abriu efectivamente este país ao comércio internacional (inluindo a tentativa da Boeing de vender a Teerão aviões comerciais). Segundo o acordo, o Presidente dos EUA tem que certificar o acordo a cada três meses.
Fontes da Administração Trump disseram que o Presidente deve assinar a certificação, mas que pode levantar outros problemas relacionados com o programa de mísseis (que não foi contemplado no acordo do nuclear) e os direitos humanos.
Se assim for, se Trump certificar o acordo, a Europa respirará de alívio. Os líderes europeus temem que sanções declaradas unilateralmente pelos EUA contra o Irão possam comprometer o acordo entre Teerão e seis potências mundiais.
Em Outubro de 2016, Trump recusou certificar o acordo, apesar de relatórios da agência internacional de energia atómica (um organismo da ONU) e de vários países garantirem que o pacto estava a ser cumprido.
No encontro desta quinta-feira em Bruxelas, o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson, sublinhou a diferença de posições entre a UE e Washington ao chamar ao acordo "um pacto crucial que torna o mundo mais seguro".
"Não temos actualmente qualquer indicação que ponha em dúvida o respeito dos iranianos pelo acordo", disse também o chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drian.
No Twitter, Zarif deixou uma mensagem sobre o "forte consenso em Bruxelas" sobre o cumprimento do acordo e considerou que as tentativas para o dinamitar são "inaceitáveis".
Foi a primeira vez que Zarif esteve frente a frente com os representantes do Ocidente desde as manifestações contra o custo de vida e o Governo do início do mês no Irão, que foram reprimidas. Os manifestantes lamentaram que o acordo nuclear não tenha gerado a recuperação económica prometida pelos que a apoiaram, entre eles o Presidente Hassan Rouhani.
As conversações de Bruxelas também sublinharam outro ponto de fricção entre os EUA e a Europa, que pode ganhar grande visibilidade no Fórum Económico Mundial de Davos (Suíça), no final de Janeiro. As empresas europeias foram rápidas a restabelecer laços comerciais com o Irão – a indústria aeronáutica e automóvel liderou o processo e a Airbus vendeu cem aviões à Iran Air, contrato que alguns especialistas dizem ter valido 16 mil milhões de dólares.
A rival da Airbus, a Boeing, também firmou um acordo com a Iran Air para a venda de 80 aparelhos, estimado em 20 mil milhões de dólares. Mas os planos da Boeing foram congelados devido à oposição de Trump ao acordo. A Iran Air diz que o negócio vai para a frente, mas nada está garantido.