Morreu o animador que criou o Bugs Bunny que hoje conhecemos

Robert Givens morreu aos 99 anos depois de ter participado em marcos como Branca de Neve e os Sete Anões (1937), da Disney, e ter delineado o coelho da Warner que se tornou num ícone.

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Wild Hare Warner
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Bob Givens DR

Robert Givens, conhecido como Bob Givens e também como o animador que na Warner Brothers deu a forma final a uma das suas mais importantes personagens, o coelho Bugs Bunny, morreu no dia 14 aos 99 anos, em Burbank, na Califórnia. O ágil coelho que no Brasil e em Portugal até certa altura se chamava Pernalonga ganhou em parte essa forma mais esguia pela mão de Givens, que começou na Disney e depois se tornou um dos autores da rival Warner e dos Looney Tunes.

A notícia da sua morte foi dada pela sua filha através da rede social Facebook. Bob Givens nasceu em 1918 nos EUA e destacou-se como animador quando começou a trabalhar nos estúdios Disney em 1937. Trabalhou na primeira longa-metragem da Disney, Branca de Neve e os Sete Anões (1937) – embora não surja creditado na base de dados de cinema IMDB – e apenas três anos depois, já na Warner, pediram-lhe para trabalhar na curta-metragem de animação A Wild Hare (1940). O pedido veio dos nomes centrais da Warner (e da animação da primeira metade do século XX), Tex Avery e Chuck Jones.

Havia já uma lebre (hare, em inglês) desenhada por Ben Hardaway e Charles Thorson, mas a sua figura não correspondia ao que Avery, o realizador da curta, desejava. A voz desse coelho redesenhado viria a ser do também histórico Mel Blanc, que se confrontava com a sua némesis, o apoplético caçador Elmer Fudd. A sua forma? Essa pertenceria a Givens que o tornaria “mais perto de estar erguido e é mais liso e aprumado”, como escreve Michael Barrier no seu livro Hollywood Cartoons: American Animation in Its Golden Age. Givens, que viria a ser o desenhador principal de personagens do estúdio, deu-lhe uma cabeça oval, manteve os seus bigodes e aproximou-o de outro coelho animado – o desenhado por Volney White em Porky's Hare Hunt (1938). “Quase o roubei”, disse Avery numa entrevista em 1977, citado em Hollywood Cartoons: American Animation in Its Golden Age. “É de espantar que não tenha sido processado. A construção era quase idêntica.”

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Bob Givens

Passaram-lhe o coelho que viria a ser baptizado como Bugs Bunny para a mão porque, disse Givens numa carta citada por Michael Barrier, consideraram que o seu primeiro esboço era “demasiado fofinho”. Era mais arredondado, mais baixo. O seu desenho, singelamente baptizado como “Tex's Rabbit”, daria origem a um coelho emblemático que depois seria trabalhado por Robert McKimson. Tornar-se-ia mascote da Warner e um ícone cultural, cinzento e branco de cenoura em riste, sempre com um “What's up, doc?” na ponta da língua. É a nona figura mais retratada no cinema do mundo, tendo contracenado com figuras tão díspares quanto o seu inimigo Elmer Fudd ou com a estrela do basquetebol Michael Jordan no inusitado filme Space Jam (1996).

A Wild Hare receberia o Óscar de Melhor Curta de Animação e marcaria uma carreira de um animador que fez filmes de treino militar na II Guerra Mundial e voltou à Warner, mas também a outras casas de animação como a Hanna-Barbera. Entre os mais de 130 projectos em que trabalhou, como animador ou artista de layout, estão Garfield and Friends (TV, 1988-92), She-Ra: Princess of Power (TV, 1985-87), The Bugs Bunny/Looney Tunes Comedy Hour (1985) ou Popeye, o Marinheiro (1960), Tom e Jerry, Heathcliffe ou Alvin e os Esquilos.

 

Notícia corrigida às 13h12, acrescenta que também em Portugal a personagem foi conhecida como Pernalonga

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