“Bannon, o bárbaro” promete guerra às elites e aos media
“A presidência pela qual lutámos acabou”, diz o ex-conselheiro presidencial que promete continuar a lutar fora da Casa Branca pelas promessas feitas por Trump na campanha.
Stephen Bannon sai Casa Branca mas a sua sombra promete continuar a pairar não só sobre a Administração de Donald Trump como sobre a política de Washington. Na sua primeira entrevista após a demissão, o agora de novo líder do site populista Breitbart diz que a presidência pela qual batalhou já não existe, mas acredita que a agenda que fez Trump ganhar as eleições ainda não foi derrotada. Promete por isso guerra – “a quem quer que se coloque na nossa frente”.
“Tenho as minhas mãos de novo nas minhas armas. Alguém disse ‘é Bannon, o Bárbaro’ e eu definitivamente vou esmagar a oposição, que ninguém tenha dúvidas disso”, disse ao Weekly Standard aquele que foi o principal estratega da virulenta campanha eleitoral protagonizada por Trump, recompensado em Janeiro com o cargo de conselheiro principal do Presidente.
Anti-sistema por excelência, acérrimo defensor de uma política económica proteccionista e anti-imigração, era acusado pelos críticos – dentro e fora da Casa Branca – de ser a voz que empurrava Trump a desviar-se do protocolo e dos conselhos dos assessores mais moderados. O último episódio aconteceu esta semana, quando, já depois de ter condenado as manifestações organizadas no fim-de-semana anterior por grupos racistas e neonazis em Charlottesville, Trump insistiu de novo em responsabilizar também os contra-manifestantes pela violência.
A já precária posição de Bannon tornou-se mais frágil quando, na mesma conferência, Trump não excluiu afastá-lo, apesar de garantir que gostava dele e que ele não era racista, apesar das posições anti-semitas e racistas a que o homem que dirigia a Breitbart há muito dá voz. O ex-conselheiro insiste, no entanto, que sai por sua iniciativa – diz ter comunicado a Trump que iria anunciar a sua saída no dia 14, o que terá acabado por não acontecer por causa dos tumultos em Charlottesville.
Bannon, que várias vezes criticou os “liberais” e “globalistas” que foram ganhando força no círculo mais próximo da Sala Oval, incluindo a filha Ivanka Trump e o marido Jared Kushner, não tem dúvidas que a sua saída da Casa Branca marcará uma viragem: “A presidência pela qual lutámos acabou, morreu. Ainda temos um grande movimento, ainda podemos fazer alguma coisa desta presidência, mas será outra coisa”, afirmou, dizendo que a elite republicana e os novos assessores querem dissuadir o Presidente de cumprir promessas emblemáticas que fez na campanha, como a construção de um muro na fronteira com o México ou as restrições à imigração muçulmana.
“Eles vão tentar moderá-lo”, afirma. “A sua tendência natural – e isso foi evidente com Charlottesville – é semelhante às posições da sua base, às posições daqueles que o elegeram. Mas agora vamos assistir a muitos constrangimentos. Creio que a presidência “será muito mais convencional”.
Da sua parte, porém, Bannon sente-se mais livre para assumir as ideias que sempre se defendeu e afirma que o seu regresso à chefia do Breitbart, site que é um viveiro da chamada alt-right, não irá passar despercebido. “Construí uma máquina do caraças no Breitbart. E agora que estou de regresso, sabendo tudo o que sei, estamos prestes a acelerar essa máquina”, afirmou.
Trump não está entre alvos imediatos
Para já, o Presidente não parece estar na mira directa do seu ex-conselheiro, que se assume como defensor da agenda original que levou Trump à Casa Branca, que Bannon reivindica como sua. “Deixem-me ser claro, para que não exista qualquer confusão”, disse numa entrevista também na sexta-feira ao site da agência Bloomberg. “Vou deixar a Casa Branca e vou para a guerra por Trump contra os seus opositores – no Capitólio, nos media, nas grandes empresas da América”, afirmou, apontando baterias tanto à oposição democrata, como ao establishment republicano – “Eles não são populistas, não são nacionalistas, não têm qualquer interesse no programa de Trump.”
Ainda assim, são muitas as fontes em Washington que garantem que as relações entre o Presidente o seu estratega há muito que tinham azedado. Trump não terá gostado de ver Bannon reivindicar como sua a vitória nas eleições de Novembro e suspeitava que fosse o autor das muitas das fugas de informação oriundas da Casa Branca. A gota de água terá sido a entrevista à revista liberal American Prospect em que o conselheiro ridicularizou a ideia – que Trump continua a acenar – de uma ofensiva militar contra a Coreia do Norte.
Um distanciamento a que não é alheia a crescente influência dos generais que agora rodeiam Trump. H.R. McMaster, que em Fevereiro substitui o demitido Michael Flynn, excluiu Bannon do Conselho de Segurança Nacional. John Kelly, o novo chefe de gabinete de Trump que assumiu a tarefa de pôr a Casa Branca em ordem, não escondeu que considerava Bannon “uma força de perturbação” que tinha os dias contados no círculo de Trump.