"Brexit" teria condicionado ida de Simon Rattle para a Sinfónica de Londres

Maestro está prestes a encetar a direcção musical da orquestra, mas decisão de deixar a importante Filarmónica de Berlim foi tomada antes do referendo britânico.

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Rattle na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012 Kai Pfaffenbach/Reuters

A transferência de Simon Rattle da Filarmónica de Berlim para a Orquestra Sinfónica de Londres está prestes a concretizar-se. O conceituado maestro britânico enceta já em Setembro a sua nova tarefa enquanto director musical de uma das mais importantes orquestras do mundo, mas não estava previsto que o regresso a Londres fosse sob a sombra do “Brexit”. Se soubesse que ia voltar com o Reino Unido fora da União Europeia na altura em que foi contratado, “teria ficado extraordinariamente cauteloso”.

Numa entrevista ao Guardian em vésperas de ocupar o novo cargo de director musical (e não maestro principal, como é habitual), Rattle detalha como vai gerir a sua dupla ocupação no primeiro ano: passará quatro meses por ano em Londres, exclusivamente dedicado à orquestra, e o resto do ano em Berlim, onde continuará a manter residência e onde vivem a mulher e os três filhos mais novos. Essa vida foi planeada entre 2014 e 2015, quando foi anunciada a sua ida para Londres – “claro que a sensação de regressar a casa é importante”, admite ao diário britânico.

“Mas foi a curiosidade e entusiasmo e a completa falta de bullshit da orquestra que achei espantosamente atraente”, prosseguiu, elogiando as suas qualidades técnicas. O novo cargo significa que Rattle estará “muito mais envolvido no dia a dia, mesmo que não viva lá permanentemente. É uma orquestra orgulhosamente independente, mas é uma questão de ter alguém a tomar conta – há muito que não têm isso”, aponta, referindo-se ao desenvolvimento a médio e a longo prazo da própria orquestra como um corpo musical vivo. O último responsável a fazer isso foi, respondeu, Andre Previn, que abandonou o cargo em 1979.

Sobre o “Brexit”, Simon Rattle recorda o momento em que soube, com a orquestra, do resultado do referendo do Verão passado. Estava em ensaios com a Orquestra Sinfónica de Londres. “As pessoas estavam desesperadamente perturbadas. Alguns intérpretes perguntaram se eu teria aceitado o trabalho se soubesse [que o Reino Unido iria sair da União Europeia]. Eu disse que teria ficado extraordinariamente cauteloso, é verdade – mas faremos o melhor que conseguirmos. E muitas das nossas congéneres europeias disseram: ‘Vamos tentar trabalhar mais convosco ao invés de menos!’”.

A chegada de Simon Rattle, de 62 anos, à Sinfónica de Londres é um momento importante. “É alguém que muda tudo”, diz o director do Barbican Centre e biógrafo do maestro, Nicholas Kenyon. “Ele põe a música nas primeiras páginas dos jornais; as câmaras de televisão seguem-no. Ele leva a música a outro nível”.

Rattle nasceu em 1955 em Liverpool. Cedo revelou talento musical, numa família de melómanos que lhe permitiu estudar vários instrumentos – aos 11 anos, depois de uma interpretação da Sinfonia n.º 2, de Mahler, descobriu a ocupação de maestro e aos 19 anos já começava a ganhar prémios e a dirigir orquestras. Elevou uma orquestra local, a City of Birmingham Symphony Orchestra, a fenómeno transcendente durante 18 anos à frente da formação.

Desde 2000 em Berlim na importante filarmónica, até 2018 estará em simultâneo com as duas orquestras – o seu contrato com a Filarmónica de Berlim só termina no próximo ano. Em Londres sucede ao russo Valery Gergiev e será também um maestro russo a suceder a Rattle em Berlim: o futuro director artístico da Filarmónica de Berlim será Kirill Petrenko.

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