Simon Rattle troca Berlim pela Orquestra Sinfónica de Londres

Em Setembro de 2017, o britânico começa uma nova fase da sua carreira como director musical da sinfónica londrina. Gustavo Dudamel parece o favorito para lhe suceder em Berlim.

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Simon Rattle na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres Kai Pfaffenbach/REUTERS

Simon Rattle, que há 12 anos dirige a importante Filarmónica de Berlim, tinha já anunciado em 2013 a sua intenção de passar o testemunho. Invocara a sua idade quando chegar ao fim o seu contrato com a orquestra alemã, citando os Beatles: “Como um rapaz de Liverpool, é impossível não pensar nos Beatles e na sua pergunta [em When I’m Sixty-Four] Will you still need me, when I’m 64?”, escreveu numa nota no site da orquestra em Janeiro de 2013, sobre a idade de que aproximaria em 2018, quando terminava oficialmente o seu contrato.

Afinal, sairá um pouco mais cedo da Filarmónica onde sucedeu a Claudio Abbado. E o seu destino é Londres, como foi anunciado na manhã desta terça-feira, e já para Setembro de 2017, depois de várias colaborações com a orquestra britânica. “Durante o meu trabalho com a Orquestra Sinfónica de Londres ao longo dos últimos anos, notei que apesar da longa e ilustre história da orquestra, quase nunca se referem a ela. Em vez disso, de forma refrescante, falam sobre o futuro, sobre o que podem fazer de novo, do que podem melhorar, de como podem chegar ainda mais à comunidade”, disse o maestro em comunicado, motivado pela “filosofia” de serem “uma orquestra do século XXI”. Rattle, que em Novembro de 2012 esteve em Portugal para dirigir a Filarmónica de Berlim no Grande Auditório Gulbenkian, em Lisboa, depois de uma outra passagem em 2003sucederá a Valery Gergiev, maestro desde 2007 e que vai dirigir a Filarmónica de Munique.

“Não consigo imaginar uma forma melhor ou mais inspiradora de passar os meus próximos anos”, disse ainda Simon Rattle, que se estreou aos 22 anos na Orquestra Sinfónica de Londres, dirigindo-a em 1977 em interpretações da Sinfonia nº 3 de Beethoven e do seu Concerto para Violino. “É a realização de um sonho”, diz por seu turno em comunicado Kathryn McDowell, directora da Orquestra Sinfónica de Londres, ansiosa por “um novo capítulo de feitura ambiciosa de música que chegue bem fundo às comunidades que servimos e que toque a vida das pessoas com o poder da música”.

Há menos de um mês, antes de uma residência da Filarmónica de Berlim em Londres, o maestro disse à BBC, numa declaração que causou alguma agitação no meio, que Londres (e também Munique) não tinha um auditório de qualidade para acolher concertos. “Não fazem ideia de quão maravilhosamente pode soar a Orquestra Sinfónica de Londres numa boa sala de concertos”, disse, tendo também admitido que admitiria a hipótese de trabalhar em Londres se a cidade fosse dotada de um equipamento “adequado”. A Orquestra Sinfónica de Londres reside actualmente no centro de artes Barbican.

A 20 de Fevereiro, o ministro das Finanças britânico, George Osborne, anunciava um estudo sobre a possibilidade de construir uma nova sala de concertos – que, segundo indica esta terça-feira o Guardian, poderia custar cerca de 200 milhões de libras (275 milhões de euros). Osborne admitiu que fora sensibilizado por Rattle para a importância de uma sala de concertos moderna na capital britânica, dando assim o que parece ser um incentivo fulcral para o regresso de Rattle a casa.

Apostado na missão da divulgação da música erudita, duro e carismático, Rattle é uma figura muito admirada no sector. Em 2002 sucedeu então a Abbado em Berlim, depois de 18 anos na Orquestra Sinfónica de Birmingham (1980-98). Sucede novamente a Abbado, desta feita em Londres, num dos cargos que ocupará dentro de dois anos – será o director musical, título poucas vezes atribuído e que o italiano manteve também entre 1984 e 87. Dirigiu a orquestra londrina também na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012. Fica assim fora de questão a possibilidade de Rattle vir a dirigir, também em 2017, a Orquestra Sinfónica de Nova Iorque, cargo para o qual também era um candidato da opinião pública, como escreve o New York Times.

E agora, quem pegará na batuta em Berlim, uma das sinfónicas mais importantes do mundo? Dia 11 de Maio, será votado o nome que ocupará o lugar de Rattle. Os 124 membros da orquestra, a mesma que em 2002 escolheu Rattle em vez do mais conservador Daniel Barenboim, vão submeter os seus votos – escolherão um conservador para uma fase de transição ou um jovem criativo?

O diário espanhol ABC relata que entre os favoritos está então o venezuelano Gustavo Dudamel (34 anos), cujo contrato com a Filarmónica de Los Angeles finda em 2018 (e que é amigo de Rattle e seu colaborador), mas o diário alemão Die Welt indica ainda que outros nomes competem - Christian Thielemann (de 55 anos) novamente Daniel Barenboim (72 anos) e Andris Nelsons (36 anos).

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