Uma portuguesa sonhou e o centro no Quénia está a crescer

A associação Hodi está a dinamizar uma campanha de angariação de fundos para construir um centro comunitário em Kibera

A cinco quilómetros de Nairobi, capital do Quénia, está Kibera, a "maior favela do mundo" cheia de pessoas provenientes dos meios rurais em busca de melhores condições de vida. A associação Hodi está lá, há três anos a desenvolver projectos educacionais, ajuda económica, serviço social e apoio psicológico. Mas isto não bastava. E agora a Hodi começou uma campanha de angariação de fundos para construir um centro comunitário.

A campanha decorre há mais de duas semanas e já conseguiu alcançar 84% do objectivo final: 5500 dólares, aproximadamente 5000 euros. Para contribuir basta aceder ao link e seguir as instruções.

O centro comunitário financiado por esta campanha irá envolver tanto adultos como crianças. Para os adultos, serão criados projectos para fomentar a veia empreendedora de quem foi de malas e bagagens para Kibera. Um programa de microcrédito para mães solteiras e desempregadas pretende servir de alavanca para que as mulheres nestas condições tenham a possibilidade de continuar a vida e sair de condições precárias. Além disto, existirão cursos profissionais de cabeleireiro, carpintaria e informática para qualificar a população. Também aulas de música e dança.

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Actualmente a Hodi garante a educação a 180 crianças

Para os mais novos, irá ser implementado um programa alimentar — a associação calcula que o programa conseguirá fornecer almoço a mais de 60 crianças —, bem como "aulas de música, desporto, dança e fotografia, programas de explicações e acompanhamento individualizado, para além de outras actividades lúdicas".

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Rita sentiu a necessidade de fazer mais

Uma portuguesa sonhadora

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Kibera, a maior favela do mundo

"Podem dizer que sou um sonhador, mas não sou o único" é a frase de John Lennon, onde Rita Martins se inspirou para criar a associação Hodi. Não acreditava que pudesse ser a única com o sonho de ajudar quem mais precisa em África e quando lhe disseram que lá só havia doenças e criminalidade só ficou com mais vontade de ir.

Rita é licenciada em Psicologia pela Universidade de Coimbra. Daí até fundar a Hodi passaram "seis anos de trabalho árduo". "Após término do curso, segui para Inglaterra, para um colégio de cooperação e desenvolvimento CICD - College For Internacional Cooperation and Development, para ter toda uma preparação teórica sobre projectos humanitários, e posteriormente integrar um projecto no terreno. O voluntariado em Mombaça (a ensinar e a trabalhar num ofanato) e um projecto de voluntariado na ONU (que "não correu da melhor forma" por incompatibilidade de ideologias) foram alguns dos passos que se seguiram. 

"Foi esse a primeira experiência e contacto com o Quénia. Depois, por obra do destino, passados uns meses, tive a possibilidade de, através do SVE (Serviço de Voluntariado Europeu), ingressar num ano de trabalho numa ONG queniana (situada na favela de Kibera). Paralelamente, devido à grande necessidade de fazer mais e à possibilidade de fazer mais, perante o cenário com que me deparava diariamente, surgiu a HODI". Em Junho do ano passado, e juntamente com mais dez pessoas, ajudou a registar legalmente a Associação, que já operava anteriormente. A maior parte da ajuda partiu de Portugal. "Criei uma página no Facebook e as pessoas, muito generosamente, foram começando a aproximar-se de todas as histórias que diariamente ia contando, e começaram a fazer a ponte Quénia-Portugal (e vice-versa)".

 

A primeira etapa foi um programa de apadrinhamentos que permitiu às crianças de Kibera ter acesso à educação. Actualmente, a Hodi garante a educação a 180 crianças. Depois veio a ajuda a mães solteiras e as refeições.

A Hodi, que em swahili significa pedir licença para entrar, partiu de um projecto pessoal para uma associação para a cooperação, desenvolvimento e promoção dos direitos humanos. Está oficialmente registada em Portugal e registada como fundação no Quénia. O próximo passo, é ter o estatuto de ONGD (Organização Não Governamental para o Desenvolvimento).

A vida em Kibera

Kibera é uma favela onde não existe saneamento básico, das poucas torneiras que existem não saí água potável e a electricidade é escassa. Não há emprego para todos e a insegurança e criminalidade estão ao virar da esquina. A extrema pobreza da população e a falta de condições de vida facilita a propagação de doenças como SIDA, tuberculose, febre tifóide e malária. A falta de cuidados médicos não ajuda a conter as doenças.

Kibera é uma favela sobrepopulada. Em menos de três quilómetros quadrados, vivem cerca de dois milhões de pessoas vindas de todo o Quénia em condições de pobreza extrema. Há muito por fazer, mas o centro comunitário é um começo.

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