Um amor proibido numa Europa em ebulição: eis Vidago Palace

A série que se estreia amanhã é uma co-produção entre Portugal e a Galiza e representa o primeiro passo da RTP em direcção à exportação da ficção nacional. Itália e Polónia já compraram.

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Carlota (Mikaela Lupu) e Pedro (David Seijo) vivem um amor impossível RTP
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Marcantónio del Carlo e Anabela Teixeira são os condes de Vimieiro RTP
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César Augusto (Pedro Barroso) aceita casar com Carlota para herdar a fortuna dos pais RTP
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Carlota de Vimieiro (Mikaela Lupu) RTP

Estamos em Agosto de 1936. Adolf Hitler preside à cerimónia de abertura da 11.ª edição dos Jogos Olímpicos e começa a alinhavar os planos para a Segunda Guerra Mundial. A Guerra Civil Espanhola acaba de rebentar. E, em plena ditadura salazarista, é inaugurado em Portugal o campo de golfe do luxuoso hotel Vidago Palace. É esta estância perto da fronteira espanhola que serve de cenário à história de Carlota (Mikaela Lupu), a filha dos nobres mas arruinados condes de Vimieiro que está noiva de César Augusto (Pedro Barroso), descendente de uma rica família de emigrantes portugueses sem título. Só que Carlota está apaixonada pelo galego Pedro (David Seijo), o filho do recepcionista do hotel que foi lutar para Espanha ao lado da Frente Popular. Vidago Palace é a nova aposta da RTP para os serões de quinta-feira e junta Portugal e Galiza numa co-produção entre a HOP! e a Portocabo para a RTP e a TVG. “A nossa ficção faz parte da nossa história e deve ser exportada como são o vinho e o calçado”, disse Daniel Deusdado na apresentação da série à imprensa, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

O director de programas da RTP explica que a série que agora se estreia é a concretização da progressiva “tentativa de aproximação a outros territórios que até agora não tinha funcionado por falta de parceiros”, contando com o apoio conjunto do Instituto do Cinema e do Audiovisual e da Axencia Galega das Industrias Culturais. “Este é o primeiro passo em direcção à maturidade da ficção portuguesa”, anuncia Daniel Deusdado. Ainda no decorrer das gravações, que aconteceram ao longo de dois meses e meio em Vidago e em Verín, do outro lado da fronteira, a Portocabo conseguiu vender a série à italiana RAI e a uma estação de televisão polaca.

Foi este conjunto de apoios que permitiu à estação pública contornar os constrangimentos do orçamento e dar vida à história criada por Henrique Oliveira (Dentro, Mulheres de Abril). “Posso dizer que temos um orçamento cem vezes inferior a The Crown, por isso tudo nesta série parece mais do que aquilo que é”, revela o também realizador, sem falar em valores e apontando a produção britânica de 112 milhões de euros da Netflix. Henrique Oliveira nota, também, que a equipa portuguesa perdeu algum dinheiro com o investimento na série, que “espera poder reaver com as vendas no mercado internacional”.

Foi quando se apercebeu da convergência temporal entre a inauguração do emblemático Vidago Palace Hotel e a crescente ebulição da Europa, com o conflito espanhol e a ascensão do nazismo à cabeça, que Henrique Oliveira começou a mapear a trama. “Criei uma história de amor à volta de vários acontecimentos históricos e de um hotel bem conhecido que foi requalificado há pouco tempo”, explicou o realizador ao PÚBLICO. Após o visionamento do primeiro episódio de Vidago Palace, o criador reiterou que “a co-produção elevou esta série a um patamar superior” àquilo que seria exequível nas circunstâncias habituais. A banda sonora, de Xavi Font, foi gravada por uma orquestra composta por 60 jovens músicos da Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo do Porto (ESMAE).

Mais ficção histórica

Seis episódios de 50 minutos darão a conhecer a história de Carlota, que sacrifica a sua felicidade para salvar o apelido da família, já que os pais Lívia (Anabela Teixeira) e Martim (Marcantónio del Carlo) vivem exclusivamente de aparências. “Foi muito importante aprender, por exemplo, como é que as mulheres estavam sentadas naquela época ou a forma como nunca falavam umas por cima das outras”, explica Mikaela Lupu, que interpreta o papel principal. Para poder dar vida a uma jovem aristocrata dos anos 1930, a actriz teve necessidade de “ver filmes e séries de época e, através deles, captar maneiras de falar e posturas”. Já David Seijo, o protagonista galego, recorreu ao testemunho pessoal do avô para se documentar sobre a Guerra Civil Espanhola. “Tentei imaginar o que seria ter as memórias dele para poder pô-las ao serviço da história."

A aproximação linguística entre o português e o galego facilitou a interacção dos actores e da equipa técnica e, segundo Mikaela Lupu, possibilitou uma “grande troca cultural”. Por seu turno, David Seijo confessa que ser parte do núcleo principal da série lhe deu uma maior responsabilidade na missão de ultrapassar a barreira linguística. “Tinha, por um lado, de entender muito bem as indicações do Henrique e, por outro, de criar uma intimidade muito importante com a Mikaela”, explica o actor.

O drama histórico faz uso da decoração do Vidago Palace Hotel, em Chaves, que procura recriar o ambiente da Belle Époque, e das áreas circundantes, como os jardins e o campo de golfe projectado pelo arquitecto escocês Philip Mackenzie Ross. Nos anos que se seguiram à sua inauguração, em 1910, o hotel era frequentado por grande parte da aristocracia europeia e da burguesia portuguesa. É, ainda hoje, um hotel prestigiado: reabriu em 2010 – no centenário da sua inauguração – após uma requalificação com projecto de Álvaro Siza, resultado de um investimento de 50 milhões de euros da Unicer.

Vidago Palace conta com nomes como João Didelet, Margarida Marinho, Almeno Gonçalves, Custódia Gallego e Maria Henriques e deverá ser apenas o arranque de um conjunto de séries de ficção histórica que o canal tem previsto para o futuro. “Estas séries são história e serviço público, por isso fazem parte da missão da RTP”, sublinhou Virgílio Castelo. O consultor para a ficção da RTP mencionou, a título de exemplo, que estão a ser pensadas séries sobre o o século XVIII em Portugal e sobre a disputa presidencial entre Freitas do Amaral e Mário Soares. A estação pública tem no seu repertório mais recente títulos como Conta-me como Foi, Depois do Adeus e Os Filhos do Rock.

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